O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, 84 anos, foi escolhido pelo Senado como “candidato oficial” do Brasil ao prêmio Nobel de Literatura. A indicação, feita pela Comissão de Relações Exteriores da instituição, foi aprovada na última segunda-feira (dia 28). Agora, o encaminhamento do nome de Suassuna à Academia Sueca será feito com colaboração do Itamaraty.
Calcula-se que a Academia Sueca receba milhares de indicações por ano – a entidade não divulga quais candidaturas foram aceitas ou não. O vencedor é anunciado em outubro, a partir de uma lista de cinco finalistas.
O jornalista e editor Cassiano Elek Machado considera a escolha de Suassuna “excelente” para a literatura do país. “Ele é um dos autores brasileiros mais importantes do século 20, que criou uma maneira de narrar e um universo simbólico muito ricos”, diz. “Mas é preciso saber até que ponto ele é bem traduzido e publicado no exterior. Sem isso, é muito difícil que o Nobel seja dado para ele.”
“É uma batalha”, resume Flavio Moura, ex-curador da Festa Literária de Paraty (Flip), ao comentar o quanto é difícil para autores brasileiros serem publicados em outras línguas. “Machado de Assis é publicado nos Estados Unidos, Clarice Lispector na França, Jorge Amado é bastante traduzido. Mas, entre os vivos, tirando o Paulo Coelho, é muito difícil.”
Suassuna já teve obras traduzidas para o inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, holandês e polonês. Mas não para o sueco, língua dos eleitores do Nobel. Outra dificuldade é que faz relativamente pouco tempo que a lígua portuguesa foi premiada – 1998, com José Saramago. E o penúltimo ganhador é sul-americano: o peruano Mario Vargas Llosa.
Por outro lado, a relevância política e econômica que o Brasil ganhou nos últimos anos pode ser um fator positivo. “O Nobel tem uma questão geopolítica que não pode ser esquecida”, explica Machado. Nesse sentido, a obra de Suassuna ganharia pontos por ser “tipicamente brasileira”.
“Ariano Suassuna é um autor muito ligado a um tipo de pós-regionalismo. Há uma identificação grande entre a obra dele e o Brasil que o estrangeiro quer ver”, diz Flavio Moura. “Isso não acontece, por exemplo, com autores de importância parecida, como Rubem Fonseca e Dalton Trevisan.”
Nascido na Paraíba em 1927, Suassuna mudou-se para Pernambuco na década de 1940. Em 1947, escreveu sua primeira peça, “Uma Mulher Vestida de Sol”. Na década de 1950, produziu obras como “O Auto da Compadecida” (1955) e “O Santo e a Porca” (1957), incontornáveis para quem quer entender a literatura brasileira do século 20.
Na década de 1970, lançou o Movimento Armorial, com o objetivo de criar arte erudita a partir de elementos da cultura popular, como literatura de cordel e música de viola. Seu livro “O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, de 1971, é baseado nesses preceitos.
O Nobel é o mais importante prêmio de literatura do planeta. Instituído em 1901, é concedido anualmente a um autor pelo conjunto de sua obra. Os vencedores são escolhidos pela Academia Sueca. O valor do prêmio é de cerca de 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a R$ 2,75 milhões.
Até hoje, José Saramago foi o único escritor em língua portuguesa a ganhar o Nobel. Entre os brasileiros, o baiano Jorge Amado e o pernambucano João Cabral de Melo Neto já foram citados como possíveis concorrentes. Mas eles morreram em 2001 e 1999, respectivamente, sem serem premiados.
Veja abaixo os últimos ganhadores do Nobel de Literatura:
2011 – Tomas Tranströmer (Suécia)
2010 – Mario Vargas Llosa (Peru)
2009 – Herta Müller (Alemanha)
2008 – Jean-Marie Gustave Le Clézio (França)
2007 – Doris Lessing (Inglaterra)
2006 – Orhan Pamuk (Turquia)
2005 – Harold Pinter (Inglaterra)
2004 – Elfriede Jelinek (Áustria)
2003 – John M. Coetzee (África do Sul)
2002 – Imre Kertész (Hungria)
2001 – Vidiadhar Surajprasad Naipaul (Trinidad e Tobago)
Veja as principais obras de Ariano Suassuna:
1947 – “Uma Mulher Vestida de Sol”
1949 – “Os Homens de Barro”
1950 – “Auto de João da Cruz”
1952 – “O Arco Desolado”
1953 – “O Castigo da Soberba”
1954 – “O Rico Avarento”
1955 – “Auto da Compadecida”
1957 – “O Casamento Suspeitoso”
1957 – “O Santo e a Porca”
1958 – “O homem da Vaca e o Poder da Fortuna”
1959 – “A Pena e a Lei”
1960 – “Farsa da Boa Preguiça”
1962 – “A Caseira e a Catarina”
1971 – “O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”
1976 – “História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao sol da Onça Caetana”
1980 – “Sonetos com Mote Alheio”
1985 – “Sonetos de Albano Cervonegro”
1987 – “As Conchambranças de Quaderna”
Fonte: IG