Teve início na manhã desta quarta-feira (9), na sede da Contag, em Brasília, o 2º Encontro Continental de Trabalhadores na Agricultura e Alimentação (UIS/FSM), que conta com a presença de mais de 12 países das Américas, bem como de federações de trabalhadores rurais do Brasil.
Na prestigiada mesa de abertura, estiveram presentes o secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB e vice-presidente da FSM, João Batista Lemos, o presidente da Contag, Alberto Broch, a secretária de Relações Internacionais da Contag, Alessandra Lunas, o presidente da CNTA, Arthur Bueno Camargo, o secretário para as Américas da UIS Alimentação, Blas Berriel e o secretário-geral da UIS Alimentação, Julien Huck.
Alberto Broch classificou como histórico o encontro e deu boas vindas aos participantes em nome da Contag, de suas 27 federações e mais de quatro mil sindicatos. Saudou em especial a presença do francês Julien Huck, lembrando a recente e importante vitória do socialista François Hollande e congratulando-o pelo apoio dos trabalhadores e suas organizações nesta eleição.
Acerca do encontro, Broch interveio sobre a necessidade de implementação de um projeto de soberania alimentar que organize os ramos do setor agroindustrial. Apontando como sendo esta uma das principais diretrizes da Contag: o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural e Sustentável, que visa – dentre outros pontos – implantar um modelo de agricultura no Brasil que permita o fortalecimento e expansão da agricultura familiar, que respeite a tradição das famílias produtoras e que compatibilize a produção de alimentos saudáveis com a preservação do meio ambiente para produzir não-somente para os brasileiros, mas para o mundo.
Organização e relações trabalhistas
Para Alessandra Luna, merece destaque a tempestividade do tema do encontro, sendo fundamental a discussão sobre a organização da luta dos trabalhadores rurais e o debate sobre um novo modelo de agricultura, para superar o que hoje ocorre no Brasil, que beneficia a produção industrial em larga escala, para exportação. Destacou que ultimamente vêm-se acirrando os conflitos e a violência no campo – e não somente no Brasil – pela disputa da terra e pelo direito de organização dos trabalhadores.
Arthur Bueno Camargo, por sua vez, avaliou que as condições de trabalho no setor da alimentação ainda estão aquém do necessário. E que, infelizmente, o posto ocupado pelo Brasil de sexta economia do mundo não se reflete nas relações trabalhistas. Frisou que é urgente a realização da reforma agrária, que é condição para a expansão da agricultura familiar, e que somente com a unidade na luta poderá se reverter a perversa concentração fundiária no Brasil. Para o presidente da CNTA, já seria o momento de iniciar uma discussão com a Contag pela unificação de suas lutas em defesa do ramo agroalimentar.
A influência da crise
Batista classificou o evento como exitoso e deteve-se, em sua intervenção, a analisar a atual crise do capitalismo, com suas múltiplas faces: financeira, ecológica e civilizacional. Os trabalhadores europeus, conforme Batista, são os que mais estão sofrendo neste momento, com os chamados planos de austeridade e desmonte do Estado de Bem-Estar Social. No Brasil, o esforço do governo Dilma e das forças progressistas é grande para enfrentar o capital rentista. No aspecto mais amplo, avalia que o mundo passa hoje por uma transição com o declínio do poderio dos EUA, muito embora estes ainda detenham domínio militar além de uma mudança do centro de gravidade da produção mundial, sendo que 44% por cento da produção global foi deslocada para o oriente.
O dirigente da CTB classificou como muito importante o estreitamento das relações da China com países da América e a formação dos Brics, o que multipolariza as relações mundiais, com maior diversidade nas negociações externas. Conclui, portanto, que se tornam extremamente importantes as iniciativas de integração na América Latina, com o objetivo de construir um bloco econômico para o desenvolvimento dos países de nossa região que combata as assimetrias locais.
O papel da UIS
Julien Huck, secretário-geral da UIS Alimentação, saudou com entusiasmo os participantes do evento e fez uma breve exposição sobre União Internacional de Trabalhadores da Agricultura e da Alimentação que, em sua última conferência, em 2011, reuniu 123 organizações de 82 países e comprovou o engajamento dos sindicatos para a organização de um movimento sindical internacional classista e de luta. Dentre as ações aprovadas está a de reforçar a presença em organizações internacionais como a OIT e a FAO, no sentido de afirmar as reivindicações sobre soberania alimentar e a realização de reformas agrárias.
Estão previstos para os dias seguintes debates sobre a produção de agrocombustíveis, transgênicos e soberania alimentar; organização da luta dos trabalhadores na agricultura e a descriminalização de suas ações. Será apresentado um painel especial pela Contag sobre Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável. Por fim, no dia 11 serão aprovadas as resoluções finais do encontro.
De Brasília, Cristiane Oliveira
Foto: Contag