No dia 26 de março, o Largo Glênio Peres, no centro de Porto Alegre, servirá de cenário para um ato raro na história do capital e trabalho no Brasil, quando cerca de 10 mil trabalhadores e empresários caminharão lado a lado até o Palácio Piratini, para entregar ao governador Tarso Genro um documento construído por líderes sindicais e representantes do patronato.O documento resume as reivindicações da “Mobilização contra a Desindustrialização e em Defesa da Produção e do Emprego no Rio Grande do Sul”.
Na terceira reunião do chamado “Grito de Alerta”, realizada na última terça-feira (13), no prédio da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), estiveram presentes os diretores da Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq-RS) e da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee-RS), a fim de acertar com os presidentes das Centrais Sindicais, os termos desse documento e a mobilização para a caminhada.
O presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, considera a iniciativa um marco nas relações do trabalho. “Nós entendemos como extremamente importante essa nova consciência de um empresariado nacional que surge nesse grande movimento que está sendo articulado no país. É um empresariado que trabalha na defesa de uma indústria nacional fortalecida, na geração de mais emprego e renda. Essa é a concepção da CTB e do movimento sindical. Nós precisamos fortalecer o nosso mercado interno e, ao mesmo tempo, fortalecer a produção nacional. Não podemos permitir que se dê continuidade a essa política de desindustrialização.”
Como justificativa para esse movimento unitário, o presidente da CTB-RS lembrou que em 1985 o setor da indústria de transformação totalizava 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Hoje, ele representa entre 15% a 16%, no máximo. “A indústria de transformação perdeu espaço no cenário nacional. Isso é muito ruim porque ela é a mola propulsora do desenvolvimento, é a locomotiva do desenvolvimento do país. Esse fato está nos unindo nesse momento, principalmente pela redução da taxa de juros e o controle do câmbio, que estão gerando os maiores prejuízos”, declarou Vidor.
“É importante registrar que os trabalhadores não abriram mão de suas reivindicações e lutas, como a defesa da jornada de trabalho, pelo fim do fator previdenciário, contra o projeto que prevê a terceirização. Mas, nesse momento, nós estamos em defesa do desenvolvimento econômico e social que nós queremos para o nosso país. E é lógico que se o Brasil estiver em um processo de crescimento econômico, fica muito mais fácil a luta por melhores condições de trabalho e de salários”, ressaltou o presidente da CTB-RS.
Guiomar afirma que o Estado, com os altos juros que estão sendo pagos, propicia que haja o ingresso cada vez maior de dólares do exterior, sobrevaloriza o real e sub-valoriza o dólar. “Com isso, a nossa produção fica mais cara do que a importação. Então, deixamos de produzir internamente e passamos a importar. Com isso, deixamos de gerar empregos de qualidade. Por outro lado, o Estado brasileiro gasta mais com o pagamento de juros para esses investidores que vêm em busca do lucro fácil no Brasil. Resultado: aumenta o déficit primário para pagar esses especuladores agiotas. Assim, o país que deixa de investir em saúde, educação, segurança e infraestrutura, que são condições básicas para um projeto de desenvolvimento.”
Guiomar Vidor considera importante o engajamento dos trabalhadores com os empresários nesse movimento, como justifica.
“Nós, da CTB-RS, entendemos que é um momento ímpar e estamos fazendo todo o esforço para que essa seja uma grande mobilização na defesa do desenvolvimento e do fortalecimento do nosso mercado interno e da valorização do trabalho. Para isso, a CTB está organizando uma grande mobilização junto com o Sindicato dos Metalúrgicos e dos Comerciários e da Indústria dos mais variados setores de Caxias do Sul. Lá, temos um bom diálogo com o setor empresarial, que aderiu em peso a esse movimento. Acreditamos que milhares de trabalhadores estarão presentes, dia 26/3, na manifestação em Porto Alegre, que vai culminar com um ato e a entrega de um documento ao governador do Estado e ao presidente da Assembleia Legislativa.
E quais serão as principais reivindicações que as centrais sindicais querem que conste no documento? “A luta pela redução mais drástica e acentuada da taxa de juros. Hoje o Brasil tem as maiores taxas de juros do mundo. Atualmente, os bancos pagam 0,5% para a poupança enquanto cobram entre 7% e 8% de juros no cheque especial, o que é um absurdo. Outra questão importante é o investimento na infraestrutura, na qualificação profissional, que significa o fortalecimento de escolas técnicas e também de universidades, cada vez mais acesso as universidade públicas para que a grande maioria da população tenha direito ao ensino gratuito”, diz Guiomar Vidor.
“Especificamente para o Rio Grande do Sul, colocaremos questões que consideramos importantes, tais como a repactuação da dívida pública com a União, que hoje consome entre 13% e 14% da arrecadação líquida do Estado, restando apenas 5% para investimentos. Ou seja, gastamos quase três vezes mais para pagar uma dívida que está consumindo a possibilidade do governo investir em infraestrutura, saúde, educação e segurança. Essas questões estarão entre as prioridades no documento que será entregue ao governador Tarso Genro”, concluiu o presidente da CTB-RS.
Emanuel Mattos – CTB-RS (Foto: Pedro Revillion – Correio do Povo)