Chico Buarque apresenta no Rio seu show “Chico”

“Eu queria dedicar esta noite ao meu querido amigo Oscar Niemeyer”, disse Chico Buarque, num raro momento em que saiu do script, nesta quinta-feira, 05/01, na estréia carioca do show “Chico”. Bons amigos, familiares, repórteres, a namorada Thaís Gulin e celebridades dos mais altos escalões não faltaram a esse evento que abre, quase que oficialmente, o calendário cultural de 2012 na cidade. Fechado o Canecão, coube dessa vez ao Vivo Rio, no Aterro do Flamengo, oferecer pouso a Chico.

O palco é amplo, o som é bom, e a pista comporta, com um certo aperto inevitável, a distinta massa que acorreu ao chamado. E quem esteve lá decerto não saiu decepcionado com o que viu e ouviu ao longo de cronometrada uma hora e meia de espetáculo, que fica em cartaz até a metade de fevereiro, de quinta a domingo.

“Chico” é o show que apresenta o disco de mesmo nome, lançado no ano passado e acolhido com entusiasmo por público e critica. Mas ele começa mesmo é com “O velho Francisco”, do álbum “Francisco”, de 1988. Chico sorri, mas nada fala. Em meio ao veludo de “Desalento”, terceiro número do repertório, a platéia ensaia um coro. Mas nem precisa esperar muito, porque logo está diante de “Querido diário”, a primeira do bloco “Chico” do show — e se regozija. No entortado frevo “Rubato”, o cantor larga o violão e, meio desajeitado, vai para um lado, e depois, outro — faz parte. Alguém grita “Thaís!” e aí vêm em sequência “Essa pequena”, “Tipo um baião” e “Se eu soubesse” (“e aí, larari, larari”). Era o que todo mundo queria ouvir e cantar junto.

“Bastidores” e “Todo sentimento” (com belo piano de João Rebouças) encerram uma parte mais contida do show. Com “O meu amor”, entra em cena o Chico explodindo de feminilidade, que vai desembocar em “Teresinha” e no coral mais afinado e encorpado que se ouviu na noite do lado de cá do palco. “Anos dourados” é um daqueles sucessos dos quais não há como escapar, e “Sob medida” funciona como uma catarse, o grande momento do Chico feminino, na delícia de cuspir o “sou igual a você, eu nasci pra você, eu não presto”. Depois disso, a ordem é baixar um pouco a bola com “Nina” (a valsa russa de “Chico”) e com “Valsa brasileira”.

Um dos números que mais têm funcionado no novo show é o do resgate de “Geni e o zepelim”, do disco e espetáculo “A ópera do malandro”, de 1979. É quando o contador de histórias se anima, faz caras e bocas, interpreta, e a banda consegue extrair os comentários musicais e sublinhar as mudanças de rota da trama. O bom ânimo ainda está lá quando Chico dá um pirueta, se enrosca pelo samba e chama o baterista Wilson das Neves para dividir a cena em “Sou eu”, recente parceria com Ivan Lins. Depois da enxurrada de estrogênio, é a hora de brincar com a cumplicidade masculina, que os dois (num contraponto entre a voz bossa de Chico e a empostada de Wilson) continuam, faceiros, em “Tereza da praia”. Outro ponto alto do show.

E tudo mais se conecta em “Chico”. Do xote “A violeira”, eles vão para o baião + roque de “Baioque” e , daí, para o hip-hop-sufoco, via Criolo, da nova versão de “Cálice”. O círculo temático (Brasil, raças, periferia, relações de poder) se fecha em “Sinhá”, a faixa que encerra o disco “Chico” com tudo isso e mais um sentido de religiosidade que se expressa no ritmo dos atabaques e nos versos da canção (“Eu choro em iorubá/mas oro por Jesus”). Um tropeço (“errei a letra!”) só deixa a música mais humana. Ao fim, com o mantra percussivo ao fundo, Chico vai à frente e, logo depois, se retira.

A mensagem foi deixada, e o show poderia terminar por ali. Mas público que é público sempre quer mais, e é por isso ele volta para o bis. Depois de uma do novo disco (“Barafunda”) e de um de seus clássicos mais recentes (“Futuros amantes”) ele sai “Na carreira”, que é para avisar que, ali sim, estava se despedindo. Aquela tradicional passada pela frente do palco para tocar mãos do público, e o roteiro estava cumprido. Sob medida para a expectativa dos fãs ilustres ou não em noite de estréia.

Fonte: O Globo

 

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