O primeiro capítulo da novela Amor e Revolução, do SBT, que foi ao ar na terça-feira (5), e peças promocionais montadas pela emissora deixam mais claras as intenções da novela. Seu desejo é mesmo entrar no tema para valer e cobrar, inclusive, a punição de torturadores e matadores.
Por Jaime Sautchuk*
No capítulo de abertura já ficou esboçada a trama central do enredo do escritor Tiago Santiago, autor da novela. É um drama amoroso entre uma jovem de família de esquerda com um militar progressista, que vive o dilema da sua condição castrense versus truculência do regime.
Eles se conhecem durante a histórica invasão do prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro. Cenas documentais, capturadas em tempo real, em abril de 1964, são mescladas com as gravadas agora, em cenário montado nos estúdios do SBT, em São Paulo.
Na segunda-feira, já tarde da noite, o SBT apresentou programa de uma hora sobre os bastidores da novela. Teve os lances técnicos, de explosões, tiros de festim, maquiagem com hematomas que chegam a doer de tão reais que parecem, no dizer de uma atriz, e essas coisas de uma produção de cinema ou TV.
Mas houve, também, depoimentos de atores sobre seus papéis. É o caso do já veterano Cláudio Cavalcanti, que faz o papel de um “comunista histórico”, inspirado em um dos deputados constituintes de 1946, entre os quais estavam, por exemplo, João Amazonas, Maurício Grabois e Jorge Amado. Mas, na novela, o personagem tem nome fictício.
Cláudio, outros atores, o autor Tiago Santiago, o diretor Reynaldo Boury, todos rasgaram o verbo contra o que se passou no período da ditadura. O bordão “ditadura nunca mais” foi repetido por vários deles. E muitos defenderam que os crimes cometidos são imperdoáveis e merecem punição rigorosa.
Já no domingo, o autor da novela foi o entrevistado no programa de debates ancorado pela jornalista Marília Gabriela, no próprio SBT. Santiago deu detalhes da trama e expôs o sentimento de toda a equipe, da criação aos atores, que é o de vestir a camisa de uma causa justa, segundo suas colocações.
E até nos programas de auditório do SBT, como o musical de Raul Gil, parte do elenco foi anunciar o início da novela. O volume da divulgação provocou certo frisson em alguns setores menos acostumados a serem criticados, nas forças armadas.
Mas, segundo reportagens nos espaços de política da grande mídia, as novas gerações do alto escalão militar receberam com muita naturalidade esse movimento. Até porque esses novos quadros parecem saber colocar as Forças Armadas em seu lugar, que é definido com limpidez em nossa Constituição.
* Jaime Sautchuk trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de S. Paulo, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS
(matéria publicada originalmente no Portal Vermelho)
Veja abaixo o vídeo promocional da nova novela do SBT: