Italianas se mobilizam e derrubam popularidade de Beslusconi

Algo muito profundo parece ter mudado na Itália. A revolta das mulheres, que na segunda-feira (14) levou centenas de milhares de pessoas às ruas, em 280 cidades da Itália e do estrangeiro, para pedir a demissão de Silvio Berlusconi e rejeitar sua política machista e patriarcal, coincidiu com a queda do primeiro-ministro nas pesquisas. Uma enquete da Demos publicada na segunda-feira pelo jornal “La Repubblica” mostra que o carismático líder é neste momento o político menos valorizado do país: entre os dez nomes propostos, o do magnata ocupa a última posição. Mas há mais: se houvesse eleições antecipadas, Berlusconi perderia sem apelação, e isso que ainda não se sabe quem seria o líder da oposição.

O primeiro-ministro tentou conter a deterioração nacional e internacional dando uma entrevista ao programa “La Telefonata” do canal 5, um gesto corajoso mas que talvez tenha piorado um pouco as coisas. Berlusconi qualificou o maciço protesto popular como “uma vergonha” e como “uma mobilização falaciosa, organizada pela esquerda para apoiar o teorema judicial”. Referia-se obviamente ao caso Ruby (a jovem marroquina prostituída quando era menor de idade), no qual é acusado de prostituição de menores e corrupção, e no qual arrisca 15 anos de prisão (na terça-feira a juíza de Milão deveria decidir se admite ou não os pedidos dos promotores).

Na realidade, a ideia do protesto simultâneo nada tem a ver com a oposição, demasiado desacreditada para tentar uma semelhante proeza. A revolta surgiu da sociedade civil. Pequenas associações de mulheres e jovens, cristãos de base, o mundo da universidade e do trabalho… Muito Facebook e quase nada de papel. E na rua nenhuma bandeira de partidos políticos e muitos participantes expressando sua raiva não só contra Berlusconi, mas também contra uma oposição que cada vez mais italianos veem como uma muleta do berlusconismo.

O primeiro-ministro replicou aos que atribuem a degradação da mulher à conexão entre sua forma de exercer o poder e o estilo de suas televisões privadas: “As mulheres sabem quanta consideração tenho por elas, sempre me comportei com elas com grande atenção e respeito, em minhas empresas e no governo”, disse. Mais ainda: foram a promotoria de Milão e a mídia hostil que “pisotearam a dignidade” de suas convidadas para as festas em Arcore, “expondo-as à zombaria pública sem razão”.

Sua situação política fica em todo caso seriamente afetada. Depois de seu encontro na sexta-feira com o presidente da República, no qual este o advertiu de que deve se submeter a julgamento e conter o choque institucional com a magistratura se quiser terminar a legislatura, Berlusconi afirmou na segunda-feira que Giorgio Napolitano lhe garantiu que não dissolverá as Câmaras se o governo continuar governando e aprovando leis. O problema é que o Executivo está quase exclusivamente dedicado a frear seus problemas judiciais (em algumas semanas serão abertos outros três processos fora o caso Ruby), e a sorte da maioria depende da Liga Norte, que só espera aprovar a reforma federalista. Napolitano ofereceu a Umberto Bossi um prazo para consegui-lo, mas se não for possível a Liga desconectaria o respirador.

Nesse caso, as pesquisas desenham um futuro obscuro para Berlusconi. Os eleitores criticam não tanto seus vícios privados, como suas carências políticas: só um cidadão em cada quatro considera que o governo “cumpriu suas promessas”, diz a pesquisa de “La Repubblica”, que revela que a confiança em Berlusconi caiu a 30%, o mínimo desde 2005, e prevê que, caso a eleição fosse hoje, a centro-direita perderia a disputa.

A maioria, ampliada com La Destra, sucumbiria de forma clara (57% a 43%) contra uma improvável “aliança constitucional” da oposição, desde o Terceiro Polo (finianos e democrata-cristãos) ao PD, Itália dos Valores e o grupo esquerdista de Nichi Vendola. Mas também perderia caso se formassem três blocos: a centro-esquerda venceria por 6 pontos contra uma direita dividida em dois. De maneira que só resta uma opção: aguentar seja como for.

Fonte: El País

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