Em um mundo cada vez mais acelerado, onde o ritmo de trabalho muitas vezes é intenso e exigente, surge uma questão fundamental: qual é a relação entre o tempo de trabalho e o tempo de vida? Essa reflexão envolve um equilíbrio delicado, pois enquanto o trabalho é essencial para garantir nossa subsistência e desenvolvimento, o tempo de vida vai além das horas gastas no ambiente profissional. Ele é composto pelas vivências, pelos momentos com a família, amigos, lazer, descanso, leitura, convivência social e desenvolvimento espiritual.
O tempo de trabalho, especialmente em uma sociedade capitalista, consome uma parte substancial do tempo de vida do trabalhador e se sobrepõe ao tempo de vida usufruído livremente pelo individuo, criando uma pressão para estar sempre disponível e produtivo para o capitalsita.
A ganância do capitalista pelo lucro, que ele extrai do tempo do trabalhador consumido no trabalho, pode resultar, e efetivamente resulta, em jornadas exaustivas e na constante busca por metas excessivas de produção, elevando a intensidade do trabalho e a produtividade, o que pode comprometer a saúde mental e física.
Uma classe doente
No Brasil, esta consequência transparece no fato de que 30% dos trabalhadores e trabalhadoras sofrem ou já sofreram com a Síndrome de Burnout, de acordo com a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse no Brasil (ISMA-BR). Em números absolutoa isto significa cerca de 30 milhões de pessoas condenadas à doença e à infelicidade pelas relações de trabalho.
A Síndrome de Burnout é uma doença ocupacional reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Não é difícil concluir que temos uma classe trabalhadora doente no Brasil, o que é obviamente uma causa da baixa produtividade do trabalho no país.
Caracterizado por exaustão física e mental, o burnout afeta diretamente a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores, tornando-se uma preocupação crescente em diversos setores.
Seus efeitos vão além do cansaço comum, levando à perda de interesse e motivação, sentimento de impotência, e até mesmo sintomas físicos como dores de cabeça e problemas gastrointestinais.
Quando as horas de trabalho se estendem além do necessário, o que se perde é o tempo para o autocuidado, para as relações pessoais e para o simples prazer de viver.
Tempo de vida
Por outro lado, o tempo de vida é aquilo que realmente nos define enquanto seres humanos. São os momentos em que conseguimos experimentar o mundo ao nosso redor, os laços que formamos e as experiências que enriquecem nossa existência.
Se a vida for vivida apenas no “intervalo” do trabalho, o resultado pode ser uma sensação de vazio e arrependimento no futuro, ao perceber que sacrificou tanto tempo de vida ao trabalho em detrimento do tempo livre para se dedicar ao que realmente traz felicidade e satisfação.
O estresse e as exigências angustiantes impostas pelas relações capitalistas de produção explicam o anseio da classe trabalhadora pela redução da jornada de trabalho, que explodiu agora no movimento Vida Além do Trabalho (VAT), com a exigência de abolição da exaustiva e desumana escala 6X1.
O trabalho não pode consumir todo o tempo de vida, ou mesmo a maior parte do tempo de vida dos indivíduos que pertencem à classe trabalhadora e que, por sinal, constituem a maioria dos brasileiros e brasileiras.
Semana de 4 Dias
Isso implica na necessidade de estabelecer limites claros na jornada, reduzindo-a a um tempo máximo de 36 horas semanais, o que vai abrir condições para instituir a Semana de 4 Dias, uma experiência exitosa em vários países, que resultou em ganhos substanciais da produtividade, como sugere o caso da Islândia.
O nível de desenvolvimento das forças produtivas e de automação alcançados pela humanidade nesta altura da sua história possibiltia, e mais do que isto cria a necessidade histórica de uma redução substancial da jornada de trabalho também para combater o desemprego em massa.
O capital, os capitalistas e o capitalismo são as forças poderosas que se opõem tenazmente a esta tendência que brota espontaneamente da história.
Mobilização social
Para afastar os obstáculos criados pela classe dominante e desobstruir o caminho para a redução da jornada de trabalho é indispensável uma grande mobilização social, que só pode ser organizada e liderada pela classe trabalhadora. A explosão do anseio pela redução da jornada nas redes sociais é um forte sinal neste sentido.
É fundamental adotar práticas que incentivem o bem-estar e garantir que o trabalho não se torne o único nem o principal propósito da vida. Ao viver de maneira mais equilibrada, podemos melhorar a nossa qualidade de vida, evitar o stresse e doenças ocupacionais, aumentar a produtividade no trabalho e, principalmente, sentir que estamos vivendo plenamente.
É importante lembrar que o tempo de vida é finito, e por isso devemos usar cada momento de forma consciente, valorizando o tempo que temos, seja para o trabalho ou para as coisas que realmente importam.
Quando o tempo de trabalho e o tempo de vida se harmonizam, o resultado é uma vida mais plena, com significado e satisfação.
O tempo livre é a medida da liberdade e da da verdadeira riqueza humana.
Fonte: Vida e Trabalho