O veto brasileiro à Venezuela no Brics

Brics 2024 (Foto: Sergey Bobylev/Ag. Sputnik).

A decisão do Brasil gera restrições regionais, questiona a autonomia diplomática e sinaliza uma possível concessão aos interesses dos EUA

Por Pedro Luiz Teixeira de Camargo (Peixe), no Vermelho

A decisão brasileira de vetar a entrada da Venezuela no BRICS+ tende a gerar profundas repercussões para as relações diplomáticas na América do Sul, inclusive levantando questionamentos sobre a soberania da política externa do Brasil. Ao impedir a participação venezuelana, o Itamaraty não apenas compromete a integração regional, mas também sugere um alinhamento implícito com a estratégia imperialista dos Estados Unidos da América (EUA), em aparente contradição com os interesses nacionais e a busca por uma diplomacia mais autônoma.

O BRICS+ tem se consolidado como uma alternativa ao domínio econômico e financeiro das potências ocidentais, a possibilidade de inclusão de novos países no grupo reflete uma estratégia de expansão e maior integração entre economias emergentes. Nossa negativa à entrada venezuelana, contudo, cria um ruído na tentativa de fortalecer laços regionais e desafiar a hegemonia geopolítica estadunidense. A exclusão de um parceiro regional e com posição geográfica estratégica pode atrapalhar sobremaneira a cooperação sul-sul e a multipolaridade econômica global.

Nosso vizinho, mesmo sofrendo os efeitos do embargo econômico promovido pelos EUA, possui um papel relevante na geopolítica latino-americana. Seu protagonismo na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e as vastas reservas de petróleo fazem dela um ator econômico de peso. Sua admissão nos BRICS+ poderia consolidar uma posição mais forte no setor energético global e reduzir a dependência dos mercados controlados pelas potências ocidentais.

Do ponto de vista econômico, esta posição pode até mesmo afetar diretamente o Mercosul e outras iniciativas comerciais na América do Sul, pois ao isolar um dos nossos principais vizinhos, é possível que se comprometa o desenvolvimento de variados projetos de infraestrutura, energia e logística que exigem cooperação transnacional, em especial na região Norte do país.

Esta decisão abre margem para críticas sobre uma possível subordinação da política externa nacional aos interesses estadunidenses. Historicamente, o Itamaraty sempre buscou equilibrar relações com potências globais, sem abdicar da autonomia diplomática. No entanto, esta recente ação abre margens para uma estranha concessão aos interesses imperialistas, que há anos promovem uma política de isolamento e sanções contra o governo de Nicolás Maduro.

Essa aparente mudança na postura diplomática brasileira (bem diferente das outras gestões liderados por Lula) pode gerar fricções dentro do próprio governo brasileiro e com parceiros regionais tradicionais que têm defendido uma maior integração regional. Nossa ação, portanto, pode vir a fragilizar não só esses laços políticos, mas também vir a minar a nossa liderança histórica na defesa da integração latino americana.

É preciso destacar também a credibilidade internacional do Brasil junto aos demais membros do bloco, hoje visto como um grupo de nações capaz de desafiar o status quo global. Assim, o veto em questão pode transmitir a imagem de um país hesitante em assumir um papel mais ousado no cenário internacional. Em vez de liderar a cooperação entre economias emergentes, preferimos arriscar sermos um parceiro inconsistente, mais preocupado em não contrariar os interesses das potências ocidentais.

Para a economia nacional, o alinhamento com os interesses estadunidenses também pode ser arriscado. A dependência de mercados e capitais oriundos dos EUA não é garantia de estabilidade econômica, especialmente diante das instabilidades geopolíticas e das mudanças nas cadeias globais de valor. Ainda mais tendo a China como principal parceira comercial…

É essencial que o Brasil reavalie sua estratégia diplomática e busque uma posição mais autônoma. A integração regional e os interesses nacionais não devem ser sacrificados em nome de agendas externas que pouco ou nada trazem de benéfico, especialmente quando há tanto a ser ganho com uma política externa soberana e independente.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal CTB

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