Brasil deve ambicionar um crescimento mais robusto do PIB

Durante a pródiga fase de industrialização, entre os anos 1930 a 1980, o PIB do Brasil cresceu a uma taxa média anual superior a 6%. A partir dos anos 1980 a situação mudou dramaticamente.

No rastro da crise da dívida externa, que eclodiu no início daquela década e resultou numa nefasta transferência de recursos ao exterior para pagamento dos juros, a situação mudou dramaticamente.

A economia nacional passou a desenvolver ciclos que foram caracterizados pelos economistas como voos de galinha. A taxa média de crescimento da produção desabou para pouco mais de 2% ao ano.

Desde então, o desempenho da economia foi de mal a pior, sendo agravada com a emergência do neoliberalismo nos anos 1990, a desindustrialização, progressiva financeirização do orçamento público e entrega das empresas estatais a capitalistas nativos e estrangeiros. O país experimentou a desafortunada receita neoliberal.

O assim chamado “novo normal”, de baixo crescimento e voos de galinha, foi naturalizado e criou até uma ideologia que enaltece a mediocridade econômica.

Os arautos do sistema financeiro, por exemplo, afirmam que o potencial de crescimento do  PIB brasileiro não passa de 2,5% e enxergam em qualquer desvio deste percentual um sinal de superaquecimento e risco de descontrole inflacionário.

Do outro lado, mesmo nas fileiras das correntes ditas desenvolvimentistas a ambição por um crescimento robusto da produção esmoreceu.

A taxa anual de crescimento da Índia está em torno de 7%. O PIB da China avançou 5,2% no ano passado e deve adicionar mais 5% ao seu valor neste ano, a julgar pela previsão do FMI.  

Depois dos anos de depressão e estagnação que se seguiram ao golpe de 2016, nos governos Temer e Bolsonaro, a recuperação da economia sob o governo Lula merece ser exaltada e comemorada. Mas, é de bom tom evitar o exagero.    

Conforme alertou o economista Paulo Nogueira Batista Júnior em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, “não podemos soltar fogos por crescimento de 3%”, pois este deve ser o piso e não o teto do crescimento econômico.

Nogueira Júnior foi diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional e vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco do Brics hoje presidido por Dilma Rousseff.

Leia abaixo extratos da entrevista publicada no site 247, que contempla também outros problemas correlatos da economia nacional.

Para o economista embora o número represente um avanço, o Brasil tem potencial para crescer muito mais e não deve se contentar com esse desempenho. “Os dados da economia brasileira demonstraram mais uma vez a incapacidade dos economistas liberais de prever o desempenho do PIB”, afirmou Batista Júnior.

“Os economistas estão errando há três anos”, completou, referindo-se à discrepância entre as previsões de crescimento e o resultado efetivo da economia nacional.

Batista Júnior enfatizou que, mesmo diante de adversidades, como as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca que afetou diversas regiões do país, o Brasil ainda consegue atingir o crescimento de 3%. “O Brasil vai crescer 3% apesar dos choques de oferta”, disse. Porém, ele adverte que esse número deve ser visto como o mínimo aceitável para o país. “Não vamos soltar fogos por crescimento de 3%. Esses 3% devem ser o nosso piso, e não o nosso teto. , afirmou, reforçando que o potencial do país está muito além das metas atualmente alcançadas.

O papel do Banco Central e a economia sob nova direção

Outro ponto levantado por Paulo Nogueira Batista Júnior foi a condução da política monetária e o impacto das decisões do Banco Central no crescimento econômico. Para o economista, um dos principais erros foi a fixação de uma meta de inflação “ambiciosa demais”, o que teria prejudicado a dinâmica do crescimento. “O erro foi fixar a meta de inflação ambiciosa demais”, criticou, referindo-se à gestão de Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central.

Com a saída de Campos Neto prevista para breve, Batista Júnior vê a possibilidade de mudanças significativas na condução da política econômica. Ele considera que a nova gestão do Banco Central, sob a liderança de Gabriel Galípolo, tem uma grande responsabilidade pela frente. “Sem Roberto Campos Neto, é chegada a hora da mudança”, afirmou o economista, prevendo uma nova fase para o controle monetário no Brasil. “A partir de janeiro, o governo Lula terá a presidência do Banco Central, com Gabriel Galípolo, e a maioria dos diretores”, comentou. Para Batista Júnior, o governo tem a obrigação de iniciar uma mudança estrutural na política econômica já no próximo ano.

O primeiro teste de Gabriel Galípolo

Entre os desafios que aguardam Galípolo, Batista Júnior destacou a questão da PEC/65, que, segundo ele, representa um risco ao País. “Teste número um do Galípolo: como vai lidar com a PEC/65, que é tão nociva?”, questionou. A PEC, que amplia a independência do Banco Central, tem sido amplamente criticada por economistas que a consideram prejudicial por facilitar a captura da autoridade monetária pelo sistema financeiro.

O economista argumenta que, com a mudança no comando do Banco Central, há uma oportunidade única para corrigir rumos e ajustar as políticas econômicas. “O governo tem a obrigação de iniciar uma mudança a partir de janeiro”, reforçou, apostando em uma virada de chave na gestão econômica do país.

Projeções e desafios para o futuro

O comentário de Batista Júnior vem no contexto das mais recentes projeções econômicas divulgadas pelo Ministério da Fazenda. Segundo o novo boletim da Secretaria de Política Econômica (SPE), a expectativa de crescimento do PIB brasileiro em 2024 foi elevada de 2,5% para 3,2%. No entanto, as previsões para 2025 foram revistas para baixo, com uma expectativa de crescimento de 2,5%. Apesar da revisão positiva para o próximo ano, Batista Júnior alerta que o Brasil pode e deve almejar mais. Para ele, o crescimento econômico de 3% é apenas um ponto de partida e não deve ser visto como o limite do que o país pode alcançar.

O desafio, portanto, será manter a trajetória de crescimento em um cenário de ajustes fiscais e controle da inflação, ao mesmo tempo em que se lida com as pressões externas e os impactos climáticos, que têm afetado setores importantes da economia, como a agricultura. O economista acredita que, com uma política econômica mais alinhada ao crescimento sustentável, o Brasil tem condições de superar esses obstáculos e atingir taxas de crescimento mais robustas nos próximos anos.

Ilustração: Divulgação/Internat

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