Servidoras e servidores da rede federal do RJ protestam contra à proposta de fatiamento e privatização da saúde

Servidores repudiam fatiamento da rede na audiência organizada pelo MPF. À frente, a coordenadora do DGH, Tereza Navarro, cuja gestão também foi vaiada pelos trabalhadores. Foto: Mayara Alves.

Vaias generalizadas, gritos de ‘fora Nísia’, ‘fora Ebserh’, ‘fora município’ e ‘não ao fatiamento’ foi a maneira como os servidores da rede federal do Rio reagiram à fala do Secretário Adjunto de Atenção Especializada à Saúde (SAES), Nilton Pereira Junior, durante audiência realizada na tarde da última sexta-feira (13/9), na sede do Ministério Público Federal (MPF) do Rio. Com o tema ‘Transparência das decisões administrativas para a transferência de gestão e garantia da assistência à saúde’, a audiência pública foi convocada visando debater a situação dos hospitais federais do Rio.

A lamentável e repugnante fala de Nilton Pereira foi proferida quando já havia transcorrido mais da metade da audiência. Em seguida, também falaram os representantes da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), numa ridícula e inútil tentativa de convencer os servidores a concordarem com o inaceitável fatiamento da rede federal. A exemplo do ocorrido com Nilton Pereira, as falas desses gestores também foram vaiadas, o mesmo ocorrendo com a gestão do DGH, a cargo de Tereza Navarro.

Em sua fala, Nilton Pereira reafirmou a intenção da ministra Nísia Trindade (Saúde) de municipalizar o Hospital Federal do Andaraí (HFL) logo após o processo eleitora e também de entregar as gestões de outras unidades federais à Ebserh e ao Grupo Conceição. Num exercício de deboche, o representante do Ministério da Saúde chegou ao absurdo de afirmar que “os servidores que assim o desejarem terão a possibilidade de pedir transferência de suas respectivas unidades”. Neste momento, os trabalhadores da rede federal levantaram cartazes de greve e entoaram as já conhecidas palavras de ordem cantadas desde o início da paralisação: “o SUS é nosso, ninguém tira da gente, direito garantido não se compra e não se vende”. Após sua fala, Nilton Pereira enfrentou novo constrangimento, quando foi xingado de “vendido” pelos servidores presentes à audiência.

“Rede Federal não é o problema”, afirma dirigente do Sindsprev/RJ

“Nos últimos tempos, o governo Lula [PT] tentou colar na rede federal e em seus trabalhadores a pecha de ineficiência, o que é uma falácia visando justificar o fatiamento e a privatização. A rede federal é qualificada como um problema, mas não somos o problema. Ao contrário, nós somos a solução. O problema é a gestão do Ministério da Saúde, que quer entregar a rede federal ao município do Rio, onde as unidades estão caindo aos pedaços, para a Ebserh, onde faltam insumos e impera o sucateamento, e ao Grupo Conceição, que tenta culpar os servidores pelo caos. Na verdade, o que está em jogo é a transferência de orçamentos milionários, como no Hospital do Andaraí. Em 2023, quando pedimos a contratação de 10.500 profissionais, o Ministério da Saúde só aceitou 4.117. Mesmo assim, a rede aumentou em 23% a sua produção, realizando 815 mil consultas e 45 mil cirurgias. Agora, chegamos aqui para ouvir as baboseiras contadas pelo representante do Ministério. A rede federal só se manteve de pé até agora pelo esforço dos servidores, que resistem”, afirmou Cristiane Gerardo, dirigente regional do Sindsprev/RJ.

Presidente do Conselho Municipal de Saúde do Rio (CMS-RJ), Osvaldo Mendes reforçou as críticas ao fatiamento. “No processo de municipalização do Hospital do Andaraí, o CMS-RJ não foi ouvido e por isso fomos surpreendidos. O resultado é que, durante plenária realizada em julho, o CMS rejeitou a municipalização, que desrespeitou o controle social. Somos contrários ao fatiamento e à privatização de todas as unidades federais de saúde e lutamos para revogar a Portaria da ministra Nísia que municipalização o Andaraí”, frisou.

Vaiado pelos trabalhadores, o representante do Ministério da Saúde, Nilton Pereira, foi muito criticado pelo plenário da audiência. Foto: Mayara Alves.

Representando o Conselho Estadual de Saúde do Rio (CES-RJ), Leonardo Légora (presidente) também lembrou o desrespeito ao controle social. “Queremos revogar a Portaria porque a população e demais instâncias do controle social não foram em nenhum momento consultadas. Mas também lutamos por concurso público e pela imediata saída das organizações sociais da gestão das unidades públicas de saúde. Quero lembrar que no passado já houve uma experiência de municipalização que deu errado. Esperamos que o SUS seja nosso, e não fatiado”, disse.

“A ministra Nísia está há 18 meses no cargo e a gestão dela mostra que não há seriedade nas propostas do atual governo. A verdade é que a atual política, se for realmente implementada, vai provocar a morte de pessoas”, pontuou o médico Júlio Noronha, dirigente do Sindicato dos Médicos do Rio (Sinmed-RJ).

MPF mostrou iniciativas em defesa da saúde pública

A audiência da última sexta (13/9) foi aberta por falas dos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) Roberta Trajano Sandoval Peixoto, Aline Mancino da Luz Caixeta e Alexandre Ribeiro Chaves. Nas referidas falas, os procuradores explicaram os procedimentos e iniciativas tomadas pelo MPF nos últimos anos, como a proposição de ações civis públicas pleiteando a realização de concursos e a contratação de profissionais para a rede e a solução dos graves problemas de sucateamento e infraestrutura das unidades federais de saúde. Segundo os procuradores, várias dessas iniciativas infelizmente não foram acatadas pelo Poder Judiciário.

Servidora do Hospital Cardoso Fontes apresenta questionamentos dos trabalhdores da rede federal durante a audiência. Foto: Mayara Alves.

Também falaram representantes do Ministério Público Estadual do Rio (MPE-RJ) e do Tribunal de Contas da União (TCU), que explicaram detalhes sobre auditorias realizadas nas unidades da rede SUS em todo o Brasil e também no Rio de Janeiro, visando identificar problemas e propor diagnósticos para solução. O objetivo, segundo o TCU, é dar efetividade às políticas públicas de saúde e assim garantir a melhoria do atendimento à população.

Sindsprev/RJ cobra explicações sobre perda de vigência da MP 1.215

Na semana retrasada, uma mensagem da Mesa Diretora do Congresso Nacional afirmou que a vigência da Medida Provisória (MP) nº 1.215/2024 terminou no último dia 3 de setembro, contrariando o prazo de vigência original da referida MP, que é 31 de dezembro deste ano. A MP 1.215 foi promulgada em maio deste ano para viabilizar a contratação temporária de 1.786 trabalhadores nas unidades da rede federal de saúde do Rio. Em ofício enviado na última quinta-feira (12/9) à coordenadora-geral de gestão de pessoas do Ministério da Saúde, Etel Matielo, o Sindsprev/RJ pergunta que medidas estão sendo tomadas pelo Ministério para sanar a perda de vigência da MP 1.215. O Sindsprev/RJ também pergunta sobre “qual instrumento jurídico o Ministério está implementando para dar qualidade legal ao exercício de função pública dos CTUs junto à rede federal”.

A cada momento, o governo Lula (PT) demonstra seu completo desprezo pela rede federal de saúde, seus servidores e a população usuária. Na prática, Lula (PT) repete as nefastas políticas de Temer e Bolsonaro para a saúde pública.

Informações: Sindsprev-RJ.

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