Há 50 anos Brasil e China cultivam uma relação de amizade e prosperidade comum

Artigo publicado no livro “China e Brasil: 50 anos de amizade e parceria”, que comemora os 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países

Por José Reinaldo Carvalho (*)

Ao comemorar o jubileu de ouro dos seus laços diplomáticos, o Brasil e a China olham para o passado com alegria por terem percorrido um bom caminho e encaram com otimismo a perspectiva para o futuro. São 50 anos de notáveis conquistas mútuas. Neste período, Brasil e China estão trilhando um caminho de paz, prosperidade e desenvolvimento comum. As palavras-chave que caracterizam estes laços são amizade, cooperação mútua e parceria estratégica global.

Um marco original importante para o estabelecimento destas relações foi a visita no ano de 1961 do então vice-presidente do Brasil, João Goulart, a convite do governo chinês, que estava em processo de consolidação das conquistas de sua revolução.

O Brasil começava a praticar uma política de não alinhamento automático aos Estados Unidos, buscava posicionar-se de maneira independente e dava os primeiros passos para a interação internacional voltada para os países em desenvolvimento e os esforços iniciais para a instauração de uma “nova ordem econômica internacional”. As relações diplomáticas com a China foram estabelecidas em 15 de agosto de 1974. Cinco décadas de uma parceria que se consolidou como um pilar fundamental para ambos os países.

Ao longo do tempo transcorrido, a cooperação se fortaleceu em diversas áreas, com acordos comerciais, culturais e científicos. Esses laços evoluíram e foram galgando sucessivamente novos patamares. Em 1993, os dois países estabeleceram a Parceria Estratégica. Em 2012, as relações sino-brasileiras foram elevadas ao status de Parceria Estratégica Global. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial brasileiro e tornou-se também o principal investidor externo direto no Brasil, fator estratégico para o desenvolvimento econômico porque gerador de crescimento, emprego e renda.

A última década viu um salto qualitativo na cooperação entre Brasil e China. Investimentos chineses em infraestrutura, como o setor de transportes e energia, tornaram-se cruciais para a expansão econômica brasileira. Além disso, parcerias em pesquisa e desenvolvimento impulsionam inovações em setores estratégicos.

Durante os primeiros 15 anos do século XXI, as relações entre a China e o Brasil viveram o seu melhor momento histórico. Com a cooperação bilateral, Brasil e China se afirmaram como economias importantes. Juntos, principalmente no âmbito do Brics e da ONU, defenderam no plano global os interesses dos países em desenvolvimento.

A parceria estratégica abrangente entre o gigante asiático e o gigante do Cruzeiro do Sul, para além das áreas econômica e comercial, se expressaram também no plano geopolítico, com a defesa por ambos os países do multilateralismo, do diálogo, da valorização da ONU, da paz e da democratização das relações internacionais, aspectos fundamentais na construção do mundo multipolar.

À medida que celebramos o 50º aniversário das relações Brasil-China, é necessário também olhar para o futuro.

À medida que as dinâmicas globais evoluem, é imperativo que Brasil e China mantenham um diálogo aberto, enfrentem desafios de maneira colaborativa e explorem novas oportunidades para garantir uma parceria dinâmica e sustentável nas próximas décadas.

É notável como as iniciativas chinesas para o Desenvolvimento Global, a Segurança Global, a da Civilização Global, a política de Construção da Comunidade de Futuro Compartilhado, o Novo Cinturão e Nova Rota da Seda e as políticas de fomento à Modernização podem ser benéficas à humanidade ao exercerem impacto positivo na dinâmica econômica e geopolítica global, e por conseguinte benéficas também ao Brasil. Afinal, da parte do nosso país, a partir do terceiro mandato do Presidente Lula, volta a ser praticada uma política externa inclusiva e abrangente, focada na inserção soberana do país na realidade global, que se mostra desafiadora. Hoje o Brasil se pauta por um relacionamento externo cooperativo e o país volta a reunir condições de ser um protagonista no soerguimento de uma nova ordem econômica e política, o que pressupõe dar passos decisivos em seu progresso interno econômico e social. É necessário para tanto explorar as possibilidades que a cooperação com a China oferece.

O rápido crescimento econômico chinês transformou o país em um ator central nos assuntos mundiais. Para o Brasil, essa ascensão representa oportunidades significativas.

Cinquenta anos de relações Brasil-China demonstram não apenas uma história de sucesso econômico, mas também uma convergência geopolítica que moldou e continua a moldar o panorama internacional. A modernização da China não apenas influencia positivamente o desenvolvimento brasileiro, mas também abre portas para uma parceria mais robusta e dinâmica. À medida que enfrentamos os desafios do futuro, é imperativo que essa aliança se baseie na inovação, sustentabilidade e uma compreensão compartilhada das complexidades geopolíticas que moldarão o século XXI.

A China e o Brasil se tornaram parceiros confiáveis. As iniciativas de um e outro são bem acolhidas. A visão do presidente chinês, Xi Jinping, sobre uma “Comunidade de Futuro Compartilhado” é uma proposta que transcende fronteiras e visa criar um mundo mais interconectado e cooperativo. Esta ideia é benéfica também para o Brasil, abrindo portas para uma cooperação mais profunda e promissora.

A proposta de uma Comunidade de Futuro Compartilhado enfatiza a interdependência econômica entre as nações. O Brasil, como uma potência econômica emergente, pode se beneficiar significativamente desse conceito ao fortalecer laços comerciais e investimentos bilaterais. A integração mais estreita das economias pode resultar em oportunidades de crescimento sustentável para ambos os países.

No ensejo das celebrações do jubileu de ouro das relações bilaterais com a China, será útil considerar positivamente a Iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota”, proposta pela China, porque se trata de um projeto de grande envergadura conectando diversas regiões do mundo por meio de infraestrutura, comércio e cooperação. Para o Brasil, a participação ativa nesse empreendimento pode trazer uma série de vantagens e oportunidades estratégicas. Isto pode traduzir-se em investimentos e parcerias que impulsionem o desenvolvimento de setores-chave, como transporte, energia e telecomunicações. A participação na Iniciativa pode significar investimentos substanciais em projetos de infraestrutura no Brasil.

A Iniciativa proporciona ao Brasil a chance de fortalecer seus laços comerciais e atrair investimentos significativos. Ao participar ativamente dessa iniciativa, o Brasil pode se beneficiar do aumento do comércio internacional, com a ampliação das exportações e a diversificação de mercados. No contexto do anúncio do novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) durante o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialistas apontam que o Brasil poderia encontrar vantagens significativas ao se tornar parceiro na Iniciativa Cinturão e Rota.

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Ao celebrar o jubileu de ouro das relações diplomáticas, Brasil e China fortalecem também suas responsabilidades perante o mundo. Como dois países soberanos relevantes no palco internacional, contribuem para a construção da paz, da multipolaridade e da prosperidade comum dos povos e são exemplos vívidos do significado do encontro de civilizações. O futuro desse relacionamento é brilhante e digno da grandeza das duas nações.

(*) José Reinaldo Carvalho, jornalista, editor internacional e escritor. Presidente do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil

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