Na madrugada desta segunda-feira (29), o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) informou que Nicolás Maduro foi reeleito presidente daquele país na eleição realizada domingo (28) para um novo mandato de seis anos. O anúncio foi feito com 80% dos votos apurados e, segundo o CNE, não há possibilidade de mudança do cenário, com as projeções indicando que Maduro conquistou 51,2% dos votos, enquanto o principal candidato da oposição, Edmundo González, obteve 44%.
“Acredito que o resultado está consumado. O povo decidiu: Maduro presidente!”, exclamou o presidente da CTB, Adilson Araújo, que está em Caracas acompanhando o pleito a convite do governo local como observador internacional, ao lado 880 delegados de 107 países.
O presidente reeleito discursou para seus apoiadores em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano, afirmando que sua vitória era uma garantia de paz e estabilidade. “O povo disse paz, tranquilidade. Fascismo na Venezuela, na terra de Bolívar e Chávez, não passará”, assegurou.
Foi um processo marcado por grande mobilização e significativa participação, com o registro de longas filas em muitos locais da votação, que ocorreu oficialmente das 7h às 19h, mas eleitores que estavam na fila após o horário oficial ainda puderam votar.
De acordo com o CNE, 59% dos eleitores compareceram às urnas, um aumento de 13 pontos percentuais em relação aos 46% registrados em 2018, quando Maduro conquistou seu segundo mandato.
Vitória da civilização
Como era de se esperar, a oposição liderada por María Corina Machado, uma política de extrema direita filha de um rico empresário e envolvida nas tentativas de golpe contra Chávez e Maduro, está contestando os resultados e procurando criar um clima de instabilidade política e de sabotagem ao novo governo, contando para isto com o apoio do imperialismo estadunidense.
“A eleição na Venezuela, como em outros países da América Latina e do mundo, foi marcada pela polarização entre as forças de esquerda e centro-esquerda e a extrema direita, que hoje é um sério perigo em todo o mundo”, salientou o presidente da CTB.
Segundo Araújo, “a extrema direita significa o retorno da barbárie nazifascista, que no passado conduziu a humanidade à carnificina da Segunda Guerra. A derrota da extrema direita é uma vitória da civilização contra a barbárie”, ressaltou.
Derrota do imperialismo
É preciso observar que a vitória de Maduro se dá num contexto global marcado pela decomposição da ordem imperialista mundial capitaneada por Washington e o G7 e de transição para um novo arranjo geopolítico liderado pela China e os países que compõem o Brics, grupo que hoje tem bem mais relevância econômica para todo o mundo que o decadente G7.
A contradição entre o velho e o novo mundo, que ainda engatinha, transparece também na reação internacional ao anúncio da vitória de Maduro no domingo.
A Argentina, liderada pelo neofascista Milei, está dando total respaldo à oposição. Autoridades da União Europeia e dos EUA manifestaram “preocupação” e lançaram dúvidas sobre a legitimidade do pleito.
Em contrapartida, China, Rússia, Irã, Bolívia, Cuba, Nicarágua e Honduras, entre outros países governados por líderes anti-imperialistas, reconheceram e aplaudiram o resultado.
O presidente Luis Alberto Arce, da Bolívia, destacou a “festa democrática” e a “vontade do povo”.
Xiomara Castro de Zelaya, presidente de Honduras, felicitou Maduro.
O povo falou, a revolução venceu
O presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, comemorou o resultado e fez o seguinte comentário:
“Nicolas Maduro, meu irmão, sua vitória, que é do povo bolivariano e chavista, derrotou de forma limpa e inequívoca a oposição pró-imperialismo. Vocês também derrotaram a direita regionalista, intervencionista e ‘Monroeista’ [relativo à doutrina Monroe, que prega ação americana na América Latina]”, disse o presidente cubano.
“O povo falou e a revolução venceu.”
O ex-presidente Raul Castro telefonou para Maduro para parabenizá-lo.
O presidente Vladimir Putin, da Rússia, destacou a importância da “parceria estratégica” entre os dois países e acrescentou que Maduro sempre será “um convidado bem-vindo em solo russo.”
“Isso atende plenamente aos interesses dos nossos povos e está alinhado com a construção de uma nova ordem mundial mais justa e democrática”, acrescentou o líder russo.
A China, através do porta-voz de seu Ministério das Relações Exteriores, Lian Jian, reconheceu a vitória de Maduro e cumprimentou o presidente venezuelano.
“A China está pronta para enriquecer a parceria estratégica com a Venezuela e para beneficiar os povos dos dois países”, anunciou o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do país ao reconhecer o resultado da eleição venezuelana em pronunciamento à imprensa.
O respaldo da China, que superou os EUA e hoje possui a maior e mais dinâmica economia do mundo, tem grande relevância para a Venezuela, que – como a Rússia – enfrenta sanções de países da União Europeia , além dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. O poder econômico chinês praticamente neutralizou as sanções do Ocidente contra Moscou e pode aliviar a pressão contra Caracas.
Percebe-se nesses fatos que a reeleição de Maduro também representa um revés para o imperialismo e o velho mundo que representa e um sinal da crescente afirmação de uma nova ordem mundial que ainda engatinha, mas que terá, a julgar pela vontade manifesta por seus líderes reunidos no Brics, um caráter multilateral e efetivo respeito pelo direito dos povos e nações à autodeterminação, diferentemente do que ocorre na atualidade.