Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio do Rio de Janeiro, Miguel Pereira e Paty do Alferes
Logo nos primeiros dias da catástrofe climática que deixou o Rio Grande do Sul debaixo d’água, alguns produtores começaram a “alertar” que haveria impactos sobre o preço do arroz, item essencial da cesta básica de todos os brasileiros. Bastou, porém, que o Governo Federal anunciasse uma grande compra do produto no mercado internacional, como forma de evitar o desabastecimento e a variação brusca nos preços, para que os produtores voltassem atrás.
Responsáveis por 70% da produção nacional, os rizicultores gaúchos se apressaram em vir a público dizer que não havia necessidade de importar. Segundo a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), 85% da safra já havia sido colhida e apenas uma das seis regiões produtoras no sul do estado havia sido parcialmente impactada pelas enchentes.
Quer dizer, não passava de uma fake news para aumentar os preços e lucrar em cima da tragédia dos conterrâneos. Mentira que só foi desdita quando os produtores perceberam que seria um tiro no próprio pé, pois a importação de grandes quantidades de arroz baixaria o preço do produto e, ao invés de lucro extra, eles teriam grandes prejuízos.
Agora, quem tenta ludibriar os consumidores é o varejo. Sem justificativa real, além da mesma desinformação ensaiada pelos produtores, grandes redes de supermercado de todo o país aumentaram o preço do arroz acima do que seria justo. Fora isso, alguns supermercados têm limitado a compra do produto a poucos quilos por cliente, como uma forma de aumentar o terrorismo e a pressão sobre os consumidores. Quem se dá mal, como sempre, é o lado mais fraco.
Além de injustificado, o aumento do preço nos supermercados é abusivo. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP, o preço do arroz no atacado teve uma alta de 4% desde o início das chuvas no Rio Grande do Sul. No entanto, o repasse dos supermercados aos consumidores foi muito maior. No ano, a alta média do preço no varejo é de 14,5% e no acumulado dos últimos 12 meses chega a 24,26%. Em algumas regiões do país, no entanto, como no Distrito Federal, foram registrados aumentos de mais de 100% no preço cobrado pelo quilo do cereal.
É preciso restabelecer a verdade. Não vai faltar arroz e ninguém precisa estocar. O Código de Defesa do Consumidor estabelece que é prática abusiva condicionar o fornecimento de produto a limites quantitativos sem justa causa. É preciso também que os Procon e outras entidades de defesa do consumidor atuem com firmeza para evitar os aumentos exorbitantes de preços.
É lamentável que sempre exista quem, por ganância, esteja disposto a se aproveitar da tragédia alheia para lucrar. Uma atitude muito feia, que contrasta com a belíssima corrente de solidariedade que mobiliza todo o país para reerguer o grande estado gaúcho e apoiar nossos irmãos do sul.