Por José Medeiros
Todos os dias pela manhã faço um giro sobre os principais jornais do país, analisando as notícias, separando algumas para o meu clipping e me atualizando sobre os grandes debates do país. Há tempos observo no jornal Estado de São Paulo, o Estadão, a linha editorial mais conservadora dentre todos os grandes (e conservadores) veículos de mídia do país.
Hoje, 15 de maio de 2024, foi dia de constatar. As críticas do jornal da família Mesquita mais uma vez elevam o tom contra a geração de empregos, o desenvolvimento da indústria nacional e levanta a bandeira da privatização da Petrobras.
O jornal classifica a retomada do setor naval e desenvolvimento dos estaleiros brasileiros, fator tão essencial para a retomada econômica do Rio de Janeiro, por exemplo, como obsessão do Presidente Lula e usa o exemplo da Sete Brasil como fator para condenar a investida, ignorando toda rede de estaleiros e cadeia a eles ligadas destruída pelos atos criminosos da Operação Lava Jato.
Através de seus colunistas e editoriais – cabe aqui destacar que todos artigos assinados como opinião e não como matérias jornalísticas – o jornal condena supostos investimentos bilionários em gasodutos e construção de navios e defende abertamente a privatização da Petrobras. O jornal não destina nenhuma linha sobre a importância dos empregos e da renda que seria gerado para os trabalhadores e trabalhadoras dos estaleiros e da cadeia industrial do petróleo e gás no Brasil. Estados, como o Rio de Janeiro, tem sua economia extremamente dependente dessas cadeias.
O Rio de Janeiro que já teve 86 mil trabalhadores e trabalhadoras em seus estaleiros, hoje tem menos de 3 mil atuando no que sobrou do setor naval fluminense. Investimentos anunciados pelo governo lula projetam mais de 20 mil postos de trabalho apenas na cidade de Niterói. Rio de Janeiro, Angra dos Reis e os municípios que circundam o Comperj também seriam beneficiados com a retomada do setor naval e investimentos na cadeia industrial de petróleo e gás. A quem interessa o não-investimento nesse setor?
É importante refletir quais interesses defende o jornal da família Mesquista? Ler o estadão, e qualquer outro veículo de comunicação, requer o cuidado com a classe a qual o jornal representa. No caso do periódico paulista, definitivamente, o desenvolvimento industrial, a soberania nacional e a geração de empregos não estão entre suas pautas.
*José Medeiros é historiador e jornalista.