Mobilidade urbana é um dos grandes desafios da região metropolitana no Rio de Janeiro (RMRJ). Com serviços públicos privatizados, o trabalhador e a trabalhadora passaram a conviver com serviços caros, perigosos e ineficientes. Diariamente sair de qualquer município da RMRJ para acessar o centro da capital é um desafio hercúleo que toma horas da vida da classe trabalhadora, gerando uma péssima qualidade de vida em uma das regiões mais populosas do país. Hoje, vimos um retrato do colapso do transporte público ineficiente.
Uma pesquisa divulgada pelo instituto Expert Market, dos Estados Unidos, apontou o Rio de Janeiro com o pior sistema de transporte do mundo. O estudo se baseou em critérios como tempo de viagem, distância percorrida, tempo de espera nos pontos de ônibus, baldeações e o custo mensal do transporte.
O Caos da manhã de 14 de maio
O Rio de Janeiro amanheceu nessa terça-feira, 14 de maio, com um caos no transporte público com quase todos os modais com intensos problemas. Trens, Metrô, BRT, todos os modais enfrentaram problemas que, em geral, afligem diariamente quem os usas.
Atrasos e sucateamento nos trens da Supervia não são novidade e, hoje, não foi diferente. O ramal Saracuruna, no começo da manhã, circulou com intervalos de 50 minutos por conta de atos de vandalismo, segundo a concessionária. O Metrô Rio, na Linha 2, que atende a zona norte, teve 16 estações fechadas por invasão de bandidos na subestação do Colégio.
Mas não foram apenas os modais sob trilhos a enfrentar problemas. Um ônibus da polícia militar, por volta das 7 da manhã, invadiu a faixa exclusiva do BRT na avenida Brasil e colidiu com um BRT, causando transtornos na, já tumultuada, principal via que liga a Zona Oeste e o subúrbio da zona norte ao centro da cidade. Na outra via importante nessa conexão, a Linha Amarela, um acidente envolvendo um caminhão, um carro e duas motos na Linha Amarela, que deixou uma vítima fatal e mais uma pessoa ferida, deixou a via totalmente fechada até às 7h32.
Tarifas Caras & Modais Sucateados.
Hoje foi um dia muito difícil para milhares de trabalhadores conseguirem chegar aos seus trabalhos, mas não é bem uma novidade. As tarifas do transporte público no Rio de Janeiro estão entre as mais caras do Brasil. O alto valor das tarifas não reflete, no entanto, num transporte de qualidade.
Andar de transporte público no Rio de Janeiro requer quase 20% do salário mínimo. Isso quando há a necessidade de se locomover com “apenas” duas viagens de ônibus. Se colocarmos as tarifas de trens, barcas e metrôs que superam os R$ 7, esses valores comprometem ainda mais a renda da população.
Linhas de ônibus que “desaparecem”, veículos sucateados, trens atrasados e caindo aos pedaços, frotas não climatizadas e superlotadas são problemas comuns para o povo fluminense. Enquanto os empresários do setor tem lucros cada vez mais altos e recebem altas verbas do poder público para não ter sua lucratividade prejudicada, o trabalhador e a trabalhadora seguem maltratados diariamente por modais incapazes de transportar com dignidade o cidadão.
De acordo com estudo do Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), 49% dos deslocamentos de cariocas e fluminenses são realizados por transporte público. O povo carioca fica, segundo o ITDP, em média 67 minutos no transporte, por deslocamento, todos os dias. Diante disso, o tempo médio de deslocamento que aqueles que habitam na Região Metropolitana do Rio, de um em cada quatro pessoas demoram mais de uma hora para se deslocar de casa para o trabalho, isso demonstra o pior resultado do país.
Insegurança: outro desafio para o transporte público fluminense
Outro fator problemático nos transportes é a insegurança. Seja com roubos de cabos nos trens e metrôs, ou com assaltos e ataques de milícias e facções (como os ocorridos em outubro do ano passado, que queimaram dezenas de ônibus), os trabalhadores e trabalhadoras estão longe de ter segurança ao usar o transporte público na RMRJ.
O medo da violência não é apenas nos coletivos, mas nos entornos de grandes postos de integração de modais a violência também aflige o povo fluminense. O número de roubos a ônibus na região onde está localizada a Rodoviária do Rio de Janeiro e o Terminal Gentileza subiu mais de 152%, na comparação entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Em todo o estado, somente em janeiro de 2024, foram 473 assaltos a ônibus. No ano passado, durante todo o ano, foram 5.533 ocorrências desse tipo de crime. Ao todo, 5 passageiros foram mortos durante os roubos dentro dos ônibus.
Os trens urbanos também são constantemente alvos da violência e seus usuários estão longe de se sentirem seguros nas estações e durante os trajetos. Em 2023, a Supervia contabilizou um assalto a cada dois dias nas composições estações da malha ferroviária. A empresa também apontou cerca de 81 arrastões durante o período.
Ou seja, caro, ineficiente, sucateado, perigoso e ruim, esse é o retrato do transporte público na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Está tudo errado, mudanças são urgentes para que trabalhadores e trabalhadoras tenham dignidade no deslocamento, seja para trabalho, lazer, ou quaisquer fins que forem na segunda maior metrópole do país. Informações: CTB-RJ.