Por: Igor Corrêa Pereira.
Falo em meio ao turbilhão de acontecimentos, como um sobrevivente da situação de guerra em que a população gaúcha padece
Falo em meio ao turbilhão de acontecimentos, como um sobrevivente da situação de guerra em que a população gaúcha padece com uma enchente histórica que atinge mais de 300 municípios do Rio Grande do Sul desde a semana passada. Os desabrigados pelas cheias tem pressa, vivenciamos belas demonstrações de solidariedade no enfrentamento à catástrofe. É difícil distanciar as emoções em busca de sínteses de análise. Mas preciso falar em meio a dor do campo de batalha.
Energia elétrica e água encanada foram conquistas importantes da humanidade e sua falta traz um grande sofrimento. É uma perversa ironia que em meio a maior inundação de água que se tem registro, já sejam 860 mil imóveis sem desabastecidos desse bem essencial à vida. Em relação a energia elétrica, já são 421 mil usuários desatendidos no estado. Uma pergunta incômoda precisa ser feita: o governador Eduardo Leite acertou ao privatizar o controle sobre esses dois bens essenciais e que hoje faltam à população?
O mesmo governante que alegremente entregou à iniciativa privada esses dois bens necessários para manter a vida e a atividade econômica, diante da tragédia que assola os gaúchos, exige do executivo e legislativo federais um aporte extraordinário de recursos públicos para reconstruir as perdas causadas pela calamidade climática. Fica revelada, em meio à tragédia, a sinistra cartilha neoliberal. Os lucros são privatizados e os prejuízos são do Estado! Na hora de privatizar a CEEE (energia elétrica) e a CORSAN (água), o Estado era visto como ineficiente e debilitado financeiramente. Agora, em meio ao colapso climático, é o mesmo Estado ineficiente e sem dinheiro que precisa aportar recursos? Algo de errado não está certo!
Ainda está na memória dos porto-alegrenses o apagão da CEEE Equatorial em fevereiro deste ano, quando uma tempestade assolou a região. A empresa que arrematou a CEEE é de propriedade do bilionário Jorge Paulo Lemann. Este homem, que segundo a revista Forbes é o segundo homem mais rico do país, com um patrimônio estimado em R$ 94 bilhões, porque não foi cobrado por Eduardo Leite a tomar providências pela calamidade natural? Ele é capacitado para assumir o controle da energia elétrica dos gaúchos no lugar do Estado, mas se algo dá errado quem socorre é o Estado? Esse espírito empreendedor é muito cômodo, não é mesmo? Quando o tempo é bom, os ganhos são privatizados. Quando há tempestades, os prejuízos são públicos.
A destruição que assola nosso estado hoje tem causas naturais sim, isso é evidente. Mas as decisões políticas de nossos governantes potencializam o sofrimento da população e do meio ambiente. O povo gaúcho é um povo aguerrido e solidário e não merece aceitar tamanho descaso. Chega a hora de batermos de frente contra o entreguismo realizado por governos neoliberais que lembram do Estado na hora da tempestade, mas assim que surge a bonança, utilizam o recurso público para engordar o lucro de monopólios privados.
Sim governador Eduardo Leite, nós precisamos que o Estado nacional faça importantes investimentos para reconstruir o território gaúcho. Mas o dinheiro público, que é o dinheiro do povo, deve reverter para o povo. Já que é desse recurso do povo que se espera a reconstrução, que se devolva ao povo o controle sobre a água, a energia elétrica e outros recursos. Saiamos irmanados dessa grande tragédia retomando para o poder público o controle da CORSAN e da CEEE. Basta do parasitismo neoliberal. Se o Estado é convocado na tempestade, que também administre no tempo bom. Talvez assim, em futuras tempestades, não tenhamos tantos estragos.
Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.
Um comentário
Misturou tudo. Tentou fazer um bolo de chocolate com hortelã apenas. Como mestrando em educação precisa de uns bons ensinamentos e estudo na área política!