Por José Reinaldo Carvalho (*) –
Os sionistas israelenses cometem diuturnamente crimes de lesa-humanidade contra o povo palestino. O exército agressor, decidido a levar adiante o genocídio e o extermínio da população em Gaza, bombardeia hospitais, escolas, igrejas, mesquitas, mercados, residências, praças, vielas, instalações da ONU e da imprensa. Está evidente quem são os terroristas. Em tais condições, são totalmente desprovidas de sentido afirmações de intelectuais, parlamentares e lideranças de partidos e movimentos sociais estabelecendo equivalência entre as ações violentas de Israel e a luta armada do povo palestino, protagonizada na Faixa de Gaza pelo Movimento de Resistência Islâmica Hamas.
Por razões históricas já exaustivamente explicadas e justificadas, a luta do povo palestino por libertação nacional e por um Estado plenamente independente e soberano é legítima. Os crimes de Israel mais uma vez evidenciam que os palestinos têm direito a reagir por todos os meios a seu alcance.
Centenas de pessoas foram assassinadas nas últimas terça e quarta-feira devido aos ataques aéreos contra o campo de refugiados de Jabalia, no norte da sitiada Faixa de Gaza. São incontáveis as pessoas ainda sob os escombros. Durante esses bombardeios foram dezenas os edifícios civis destruídos. Os assassinatos perpetrados nos últimos bombardeios elevaram o número de vítimas fatais a cerca de 9 mil, entre elas quase a metade crianças. Há mais de 22 mil feridos, muitos sem condições de atendimento hospitalar, seja porque a infraestrutura de saúde de Gaza está inoperante, com muitas unidades atingidas por bombardeios, ou porque a falta de energia inviabiliza seu funcionamento.
O Crescente Vermelho Palestino, equivalente da Cruz Vermelha, caracterizou como genocídio os ataques israelenses a hospitais. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, condenou o ataque a hospitais.
Craig Mokhiber, diretor do escritório de Nova York do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, deixou o cargo na terça-feira (31), ocasião em que escreveu uma carta a seus superiores afirmando que Gaza é um caso clássico de genocídio e lamentando a impotência do organismo multilateral para tomar as medidas necessárias a salvar a população palestina.
Em declarações ao Brasil 247, Socorro Gomes, ex-presidente do Conselho Mundial da Paz e destacada dirigente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz) afirmou que “os sionistas israelenses e os imperialistas norte-americanos são irmãos siameses no extermínio do povo palestino e estão buscando uma espécie de ‘solução final’”, em analogia ao que buscavam os nazistas quando massacraram os hebreus.
Chegará um tempo em que Jabalia será invocada em obras literárias, artísticas e monumentos. Passará à História por ter sofrido o mesmo martírio de outras localidades atingidas mortalmente pelos imperialistas norte-americanos, êmulos e cúmplices dos terroristas israelenses. Jabalia ficará gravada na memória eterna da humanidade como Hiroshima e Nagasaki, cidades japonesas arrasadas pelos bombardeios atômicos; Hanói, Haiphong, Hue, Da Nang, Saigon – localidades vietnamitas que foram alvo de bombardeios e armas químicas.
Notáveis exemplos de crimes de guerra dos Estados Unidos foram também as cidades iraquianas de Bagdá, Faluja, Najaf e Basra. No Afeganistão, o exército agressor estadunidense semeou destruições e matou milhares em cidades como Cabul, Kandahar e Jalalabad. Em pleno sudeste europeu, a Otan arrasou Belgrado. No Líbano, Israel dizimou aldeias no interior e bairros na cosmopolita Beirute. Em algum momento esses crimes serão punidos. A resistência dos povos acumulará forças e alcançará a vitória contra a opressão, o que trará também verdade e justiça.
As vozes de lideranças titubeantes e fracas estão em dissonância com os consagrados conceitos formulados pela própria experiência dos povos. Não se trata de defender um interminável ciclo de violência. O direito à rebelião é um conceito complexo que envolve a ideia de que os povos podem e devem se opor a um governo opressor e tirânico, ilegítimo e injusto. Os oprimidos podem sim, e devem, recorrer à rebelião ou à resistência armada como último recurso para se libertar. O direito à rebelião emana da ideia de lutar por prerrogativas consagradas porém vilipendiadas, como a autodeterminação nacional, transformada em letra morta pelo imperialismo neocolonialista, principalmente quando exerce a opressão manu militari.
Por óbvio, as forças lúcidas de vanguarda, que manejam judiciosamente a ciência da estratégia e da tática, sabem discernir os momentos históricos e lidam com as conquistas da civilização, entre estas os instrumentos do direito internacional e do direito humanitário internacional, cujos princípios e normas apontam para a solução de conflitos por meios pacíficos. Mas o veto dos Estados Unidos ao cessar-fogo em Gaza, equivalente a uma licença para matar ofertada a Israel, faz parte dos impasses objetivos da atual situação política mundial e constitui um fator a mais a dar razão aos combatentes palestinos.
A situação geopolítica no Oriente Médio é notoriamente complexa. Os conflitos que esta encerra exigem soluções de fundo. Na sua interpretação podem caber diferentes tipos de análises com distintos critérios. Mas não é permitido aos que lutam por um mundo de paz semear e alimentar nos oprimidos a ilusão de que vão contar com a generosidade de inimigos implacáveis dispostos a levar às últimas consequências a imposição dos seus privilégios.
(*) Jornalista, editor do Resistência, secretário-geral do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz), membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, onde é responsável pelo setor de Solidariedade e Paz.