Por José Reinaldo*
A Cidade do Cabo, na África do Sul, sediou, nos dias 1 e 2 de junho, a Reunião dos Ministros de Relações Exteriores dos países-membros do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
A reunião ministerial foi realizada no contexto dos preparativos para a Cúpula dos Chefes de Estado dos Brics, que ocorreu em Joanesburgo, na África do Sul, de 22 a 24 de agosto. Paralelamente à reunião ministerial, decorreu também um encontro dos “Amigos dos Brics”, com a presença de 15 ministros das Relações Exteriores da África e do Sul Global.
O evento, presidido pela titular de Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, serviu como um momento de reflexão conjunta sobre o desenvolvimento das situações regionais e globais.
Os países dos Brics são representantes do Sul Global. No contexto atual, e levando-se em consideração que a Cúpula deste ano será sediada na África do Sul, é natural que as atenções se voltem para a parceria entre os Brics e a África, parceria essa que pode ser concedida ao crescimento mútuo acelerado, ao desenvolvimento sustentável e ao multilateralismo inclusivo.
A Cúpula de Joanesburgo poderá, ainda, dedicar esforços à segurança da arquitetura política, econômica e financeira global, para que ela se torne mais equilibrada e inclusiva.
A reunião na Cidade do Cabo atraiu a atenção do mundo, tanto de governos e instituições internacionais quanto da opinião pública, refletindo o crescimento da importância do grupo e de suas atividades em prol da cooperação e do desenvolvimento compartilhado, em contraste com os apetites expansionistas e as ações individualistas e unilaterais de potências ocidentais lideradas pelos Estados Unidos. Em meio aos novos desafios que se apresentam, a busca do desenvolvimento é uma tarefa prioritária dos países emergentes. Por isso, o desenvolvimento é um tema sempre presente nos debates no âmbito dos Brics.
Em um contexto em que um dos principais entraves ao desenvolvimento dos países do Sul Global é o apetite hegemonista dos Estados Unidos, aliado ao uso do dólar como instrumento de pressão, é natural que uma das preocupações fundamentais dos países dos Brics, neste momento, seja reduzir ou até mesmo se livrar gradualmente da dependência do dólar, por meio da introdução de uma moeda comum. Os Estados-membros dos Brics foram informados sobre o uso potencial de moedas alternativas para proteger o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do impacto das garantias. Essa foi uma das principais questões abordadas na reunião da Cidade do Cabo.
Os chanceleres do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul também discutiram os planos de admissão de novos membros na organização.
Um dos aspectos que demonstram o aumento da importância dos Brics e de seu papel como plataforma para o desenvolvimento do Sul Global é a vontade de outros países ingressarem no grupo, manifestada por cerca de 20 nações, incluindo Venezuela, Argentina, Irã, Argélia, Arábia Sauditas e Emirados Árabes Unidos. Isso indica que os Brics são percebidos como um mecanismo aberto e inclusivo, opinião que é compartilhada por todos os seus integrantes. De fato, isso já se reflete nas atividades do NBD, (Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como “banco do Brics”), que vem se expandindo continuamente, com a adesão de Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito e Uruguai. A Arábia Saudita também está em processo de inscrição no NBD.
Outros itens importantes também incluem o conflito Rússia-Ucrânia. Como uma força importante que busca salvaguardar a paz e a segurança mundial, os países que formam os Brics, inevitavelmente, discutiram o tema, no intuito de resolver o conflito por meios políticos e diplomáticos.
O fortalecimento dos Brics é um sinal de que estão em curso rápidas transformações no mundo. Os países do Sul Global fortalecem sua cooperação e se mostram mais dispostos a preservar sua soberania e desempenham um papel relevante na economia e política global, criando uma situação nova que consiste na transição para um mundo multipolar.
Em momentos como este, com grandes transformações, os Brics funcionam como uma espécie de “grande família” da integração dos países em desenvolvimento na resistência aos abusos de poder, às garantias, à unilateralidade e às ameaças de coerção, fragmentação e isolamento. Por isso, desempenha um papel crescente na economia internacional e na geopolítica. O mundo não se sente mais representado pelos velhos movimentos de exercício de dominação econômica e política das potências imperialistas ocidentais. Os países e povos, que lutam pelo progresso, autodeterminação e justiça, desejam uma verdadeira cooperação e um desenvolvimento compartilhado, o que somente será alcançado por meio de revolução de integração não baseada em objetivos hegemônicos. Esse desejo empurra os países em desenvolvimento para buscar alternativas de associação a grupos que representam os interesses da maioria das nações e dos povos. Sob todos os aspectos que se analisam, os Brics são um fator positivo que se acrescenta à resistência e à luta dos povos pela paz, o direito internacional, o desenvolvimento e o progresso social.
Assim, o grupo dos Brics se torna cada vez mais legítimo para desempenhar um papel de protagonista na luta por um novo ordenamento político-econômico global, o que, indubitavelmente, altera a disposição de forças existentes, bem como confrontar os desequilíbrios, as desigualdades e as injustiças, colocando em xeque o atual panorama de hegemonia ao fortalecer o campo das forças do progresso social, do desenvolvimento nacional e da paz. Trata-se de uma tendência que as forças imperialistas não podem deter.
*Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e secretário-geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz ( Cebrapaz)