A devolução do bloco de Saturno pela Shell realça a importância da Petrobras para a exploração das riquezas ocultas no pré sal e para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil. Nos governos do golpista Michel Temer e do fascista Jair Bolsonaro a gigante brasileira do petróleo priorizou os interesses dos grandes acionistas privados e foi vítima de um processo de desmonte e privatização fatiada. Confira abaixo a entrevista concedida pelo petroleiro Norton Cardoso de Almeida ao Portal da CTB sobre o tema. Norton é conselheiro deliberativo da Petros e também membro do Conselho Fiscal da Federação Única dos Petroleiros (FUP):
Como você avalia o fato da Shell ter devolvido o bloco de Saturno, localizado no pré-sal da bacia de Santos?
Na verdade isso é um dejavu para quem conhece a história do pré sal e sabe que a própria Shell testou vários poços, antes da Petrobras. Não encontrou nada. A Petrobras foi lá e, com a tecnologia que a empresa desenvolveu, fez os testes e extraiu óleo de alta qualidade e em grande quantidade.
Ainda com a utilização da ciência que a Petrobras detém ficou constatado que esse sucesso não foi pontual, mas revelou a descoberta da maior jazida de petróleo no planeta dos últimos 50 anos.
Portanto, isso mostra claramente que a iniciativa privada é eficiente para se apropriar de lucro fácil e tem aversão a risco e pouca disposição em investir em pesquisa.
Como ficou a Petrobras após as gestões neoliberais que orientaram as decisões da empresa depois do golpe de Estado de 2016, ou seja, durante os governos Temer e Bolsonaro?
Houve um processo de desmonte da empresa, vulnerabilização de informações sensíveis, de um lado por ação dos governos, o primeiro ilegítimo, o segundo entreguista, antipatriota e refratário à ciência, inclusive no que diz respeito à estratégia energética. De outro, somaram na mesma direção as ações nocivas de agentes da Lava-Jato, que obrigaram a empresa a compartilhar dados sensíveis com governos estrangeiros, profundamente comprometidos com a ganância das petroleiras privadas internacionais e importadores de combustíveis.
Neste contexto houve venda de vários ativos, hoje há situação de ex-gestores que viabilizaram essas vendas com cargos nas empresas compradoras. Alienação de dutos e da BR tornaram a Petrobras refém da logística de terceiros e que antes era dela.
Houve redução de quadros de funcionários, com fuga de ciência acumulada, deterioração do ambiente de trabalho, impacto nas políticas de segurança e, por óbvio, o apontamento de uma privatização, no mínimo inconveniente, inconsequente e irresponsável ou, no limite, criminosa.
Quais as consequências da política de priorizar a distribuição dos lucros aos acionistas em detrimento dos investimentos e de iniciativas sociais e de apoio à cultura?
Primeiro fica comprometido o futuro da empresa, a Petrobras depende de pesquisa para sobreviver, essa situação da Shell corrobora isso, o conhecimento é fundamental no sucesso do negócio primeiro da Petrobras, que é uma empresa de energia, criada para isso e para atender os interesses do povo brasileiro. Ora, é inconcebível tratar a empresa como um empreendimento qualquer ou apenas do ponto de vista contábil. Quem investe na empresa sabe que ela tem essa finalidade inicial, portanto, não há que se reclamar. Mais da metade da produção nacional de petróleo hoje vem do pré sal, que surgiu de um endividamento, muito criticado na época por esses contabilistas fundamentalistas, mas que se não houvesse a empresa estaria, aí sim, insolvente.
No caso dos investimentos sociais e em cultura, vale repetir, a Petrobras existe para servir ao povo brasileiro e todos os investidores sabem disso… Nesta toada, apoios a iniciativas que atacam o drama social nacional é a retribuição mínima que se deve ter ao verdadeiro dono da empresa. Quanto a investimentos culturais, é muito claro a reverberação destes recursos no desenvolvimento da cultura nacional e na geração de emprego e renda, basta ver os países desenvolvidos, quanto eles investem neste setor, os americanos, ingleses, franceses, espanhóis e até os argentinos, donos de dois Oscars, que não temos nenhum… é assustador a lógica de se ter artistas de ponta, como o Brasil felizmente tem, na figura de vilões por necessidade de financiamento da área.
O que deve ser feito para resgatar o caráter público da empresa?
Retomar a verticalização da empresa, desde o poço até o posto, quiçá até o poste, agregando o setor elétrico. Há uma necessidade imperiosa de entender o conceito de soberania energética e, evidentemente buscando critérios de eficiência e economicidade, prover todos os brasileiros, seja onde for, de condições de vida digna. Isso passa por investimentos em novas unidades de produção de petróleo, refinarias, logística, pesquisa em transição energética, valorização do trabalhador, responsabilidade social, ambiental e por fim resgatar o sentimento de orgulho nacional legítimo, real e honesto.