Na manhã desta segunda-feira (28), a sede da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), em São Paulo, foi palco de um encontro decisivo para o campo sindical e os movimentos sociais. Com início às 9h, o evento “Café Contra o Amargo Juros” reuniu lideranças, economistas, representantes de movimentos populares e militantes de diversas frentes para debater a política de juros altos do Banco Central e organizar mobilizações para as próximas semanas.
O encontro se deu em um contexto de forte apreensão: o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicou que, nos dias 6 e 7 de maio, poderá elevar novamente a taxa Selic em 1 ponto percentual, alcançando 15,25% ao ano — uma das mais altas do mundo.
Segundo o presidente da CTB, Adilson Araújo, o objetivo da reunião foi articular uma resposta enérgica à política econômica em curso. “A reunião objetiva organizar as manifestações contra a elevada taxa de juros praticada pelo Banco Central do Brasil. Lamentavelmente, contrariando as expectativas da sociedade, mais uma vez o Comitê de Política Monetária sinaliza a possibilidade de aumentar a taxa de juros já tão alta. Eu diria que isso é um grande contrassenso”, afirmou.
Araújo ainda destacou a contradição entre o cenário brasileiro e o movimento global: “A expectativa, sobretudo dos países em desenvolvimento que estão enfrentando a recessão, tem sido de reduzir juros, ampliar crédito, estimular o consumo e retomar a produção industrial. Aqui, o Brasil segue fora do trilho. É chegada a hora do governo dar um cavalo de pau na política econômica, com uma redução substancial da taxa de juros para recolocar o trabalho e o desenvolvimento no centro do debate.”
Durante o encontro, foi aprovada a criação de um fórum amplo contra os juros abusivos e ratificada a realização do ato nacional “Ocupa Faria Lima – Menos Juros, Mais Empregos”, marcado para o dia 6 de maio, na Avenida Paulista.
Ubiraci Dantas, vice-presidente da CTB, ressaltou a importância da articulação popular: “Tivemos uma reunião muito produtiva com juventude, trabalhadores, mulheres, donas de casa, no sentido da gente enfrentar essa situação dos juros que está destruindo a economia do Brasil. Essa grande iniciativa do nosso presidente Adilson permitiu dar o pontapé inicial. Marcamos uma nova reunião para o dia 20, e vamos jogar pesado para ampliar com empresários, estudantes, moradores. Vamos ocupar a Faria Lima, onde estão os banqueiros, e no dia 6 de maio vamos ocupar a Paulista para mostrar nossa indignação contra essa taxa de juros absurda, pornográfica.”
Para Mara Kitamura, presidenta do Sinpro-Sorocaba, a mobilização sindical é fundamental. “É muito importante que todos os sindicatos se organizem para que a gente faça uma força ampla contra o aumento dos juros. Todos estão sentindo o alto preço dos alimentos, cidadãos endividados… temos que lutar contra essa carestia.”
Lídia Correia, representante do Comitê contra a Carestia e da Federação das Mulheres Paulistas (FMP), reforçou que os juros altos comprometem o futuro do país: “Há muito tempo a gente vem apontando que a questão dos juros no Brasil é grave. A maior taxa de juros do mundo consome os recursos da União, das indústrias, do comércio e das famílias. O Brasil não tem como prosperar assim. Precisamos articular uma frente nacional contra essa política.”
O diretor nacional de jovens trabalhadores da UJS, Amarildo, destacou a necessidade de ampliar alianças: “A reunião hoje foi para ratificar o ato do dia 6 contra o aumento da taxa de juros e também criar um fórum que cohesione nosso campo e extrapole seus limites. É preciso unir forças progressistas e democráticas contra essa política que tem promovido a desindustrialização e a carestia.”
Já Lucas Chen, da Juventude Pátria Livre (JPL), apontou a centralidade do tema para a agenda dos movimentos: “A gente definiu que o centro da atuação social, sindical e estudantil do Brasil precisa ser a redução da taxa de juros. Estamos convocando um fórum para construir grandes atos e ações que revertam esse quadro. Com juros a 15%, o Brasil vai continuar gastando R$ 900 bilhões por ano em pagamento de dívida, enquanto falta recurso para educação, saúde e desenvolvimento.”
O evento Café Contra o Amargo Juros marcou, assim, um novo passo na mobilização nacional por uma política econômica voltada ao crescimento com justiça social. A expectativa agora se volta para os atos de rua programados e para a próxima reunião do Copom, que poderá definir não apenas a taxa Selic, mas o rumo da resistência popular contra os juros extorsivos.