A baiana Vânia Marques Pinto, agricultora familiar, encabeça a chapa unitária para a próxima diretoria da Contag, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares. Será a primeira mulher eleita para a presidência da entidade. Formada em Pedagogia da Terra e mestra em Educação do Campo, Vânia é hoje secretária de Política Agrícola e Agrária da CTB e também secretária de Política Agrária da Contag. A eleição da nova diretoria ocorre no 14º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (14º CNTTR), convocado para os dias 01, 02 e 03 de abril em Luziânia/GO.
Em entrevista ao Portal CTB, a sindicalista destacou a luta pela reforma agrária, fortalecimento da agricultura familiar, defesa de um projeto nacional orientado pela valorização do trabalho e enfrentamento da onda conservadora neofascista. Confira abaixo
P- Como avalia o fato, histórico, de ser a primeira mulher (a ser) eleita para a presidência da Contag?
Primeiro quero dizer que me sinto muito honrada de ter a possibilidade de ocupar esse espaço que é uma luta histórica nossa (mulheres). E vejo esse fato como um grande desafio. A Contag é a maior organização sindical da agricultura familiar na Americana Latina e tem uma grande responsabilidade nas conquistas para a vida das pessoas no campo, nas florestas e nas águas.
P- Quais serão as prioridades e principais desafios do mandato?
Nós vamos realizar um planejamento estratégico do mandato assim que a diretoria for empossada. Mas já posso assegurar que uma das principais prioridades é cuidar da organicidade do sistema Contag, fortalecer nossas bases e consequentemente buscar mecanismos para fortalecer a agricultura familiar. Os desafios são vários, mas podemos dizer que um deles diz muito respeito à atual conjuntura brasileira. Ainda vivemos uma onda de conservadorismo fascista e a continuidade de um projeto de sociedade pautada em princípios de valorização das pessoas, da classe trabalhadora e a superação da fome e da miséria é fundamental para melhoria de vida da população brasileira. Ainda nessa conjuntura é também um desafio o acesso as políticas públicas para o campo brasileiro.
P- Como vê a questão da unidade para a Contag e o conjunto do movimento sindical?
A unidade na atual conjuntura é ainda mais necessária. E a manutenção dessa unidade é fundamental para o fortalecimento do sistema Contag.
P- A reforma agrária ainda é uma bandeira relevante para o campo?
A Reforma Agrária é uma das principais bandeiras da Contag. E sem sombra de dúvidas é essencial não apenas para o campo, mas para a sociedade brasileira. Ter uma reforma agrária é garantir uma reparação de uma injustiça histórica e promover desenvolvimento. Hoje a agricultura familiar ocupa apenas cerca de 23% das áreas agricultáveis no Brasil, sendo que representamos mais de 70% dos estabelecimentos. Somente esse dado já bastaria para identificar que não existe uma justiça fundiária no Brasil. Mais do que isso a agricultura familiar tem menos acesso crédito e ainda assim é responsável pela diversidade de alimentos que chega à mesa da população brasileira. Nas culturas permanentes, o segmento responde por 48% do valor da produção de café e banana; nas culturas temporárias, são responsáveis por 80% do valor de produção da mandioca, 69% do abacaxi.
A reforma agrária é fundamental para garantir que as famílias que não possuem terra possam ter a segurança de ter onde produzir.