Por Gelson Alves, secretário-geral da CTB Minas
Belo Horizonte foi palco de um ato significativo das centrais sindicais e movimentos sociais no último dia 10. A participação ampla de representantes dessas entidades demonstra que a resistência e a necessidade de mobilização continuam vivas. Já a ausência de um número massivo de participantes nos mostra que é preciso uma articulação mais eficaz e engajadora. É urgente a rearticulação do movimento sindical e das forças populares em uma luta que transcenda as pautas imediatas dos trabalhadores e alcance as questões que afetam a sociedade como um todo.
O conteúdo das reivindicações do ato foi claro e urgente: a luta contra a proposta da jornada de trabalho 6×1, a defesa contra a PEC 66, a luta contra a impunidade dos golpistas que tramaram contra a democracia, e a resistência contra os esforços de privatização das companhias de água e energia no Estado de Minas Gerais. Estes pontos são apenas alguns dos desafios que atravessam o cotidiano da classe trabalhadora e exigem uma resposta contundente e unificada.
A reflexão que precisamos fazer, no entanto, vai além da simples análise das pautas. É necessário questionar a capacidade do movimento sindical e dos movimentos sociais em engajar a maioria da classe trabalhadora e as massas populares em uma luta contínua e articulada. Como podemos enfrentar os valores neoliberais propagados na sociedade, como a ideia de que cada um deve lutar por si, em detrimento do coletivo? A luta cultural, marcada por disputas de ideias, se tornou uma arena essencial para a mudança. Contudo, as redes sociais, dominadas por narrativas que priorizam o individualismo e a desinformação, dificultam a organização de uma resistência genuína. Como podemos construir uma luta unificada, quando as discussões são fragmentadas e as narrativas de enfrentamento são distorcidas pela velocidade da informação e a influência das plataformas digitais?
É fundamental considerar a participação crescente das comunidades religiosas na luta social. O trabalho, enquanto centro da luta, encontra nas igrejas, nas comunidades de fé e nos movimentos religiosos uma poderosa rede de solidariedade e organização. A fé, nesse contexto, não se limita à espiritualidade, mas se torna uma ferramenta de resistência e ação política. Não se pode ignorar que as religiões de base popular, muitas vezes marginalizadas, possuem um vínculo profundo com a classe trabalhadora e com as questões sociais mais urgentes.
A luta de classe tem o trabalho como seu centro, pois é a classe trabalhadora que, com seu suor e sua luta diária, mantém a estrutura econômica do país. O trabalho, que no capitalismo é muitas vezes explorado e desvalorizado, é, ao mesmo tempo, a força propulsora das mudanças sociais. Quando a classe trabalhadora se organiza e se mobiliza, ela não está apenas reivindicando melhores condições de trabalho, mas também desafiando a estrutura que permite a concentração de poder nas mãos de poucos, questionando um sistema que se sustenta na exploração de seu trabalho.
É com esse espírito de luta unificada que propomos uma agenda de trabalho para o ano de 2025, buscando construir uma frente de resistência ampla e permanente. Já em janeiro, teremos a oportunidade de reforçar a denúncia do golpe de 8 de janeiro de 2023 e, ao mesmo tempo, celebrar o mês dos trabalhadores aposentados, que sempre estiveram na linha de frente das lutas sociais. Em março, a luta das mulheres deve ser intensificada, com um 8 de março combativo, que resgate as demandas históricas e atuais da mulher trabalhadora. A mobilização no carnaval de Belo Horizonte e em outras cidades também precisa ser repensada, incorporando a crítica e a resistência como parte da celebração.
O 28 de abril, Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, e o 1º de maio, Dia do Trabalhador, devem ser momentos de unificação da classe trabalhadora em massa nas ruas. Esses dias têm o poder de convocar não apenas os sindicalistas, mas toda a população, em uma frente de luta que se articule contra os retrocessos que têm afetado direitos fundamentais. São eventos essenciais para dar visibilidade às nossas pautas e construir uma consciência coletiva de que estamos todos, de alguma forma, imersos em uma luta permanente pela garantia de nossos direitos, pela justiça social e pela soberania nacional.
O Brasil precisa de uma frente de defesa que inclua todas as forças políticas progressistas e que seja capaz de unir trabalhadores, estudantes, movimentos sociais, religiosos, mulheres, negros, indígenas, LGBTQIA+ e todos os setores oprimidos. A unidade é mais do que uma necessidade; é uma questão de sobrevivência política e social. A luta por direitos e pela soberania não é uma luta isolada de cada categoria ou de cada movimento, mas uma luta de todos que desejam um Brasil mais justo, mais igualitário e verdadeiramente democrático.
É preciso entender também o novo perfil da classe operária, a fragmentação dos mecanismos de produção, a reestruturação produtiva e o impacto do empreendedorismo, que muitas vezes é visto como uma forma de individualismo, e não como uma forma coletiva de luta. A classe trabalhadora está se reconfigurando, com trabalhadores que vão desde os de aplicativos até os que lidam com novas tecnologias nas fábricas. Surgiram variações dentro da classe trabalhadora, trazendo desafios significativos para a organização de uma luta unitária. A compreensão dessa nova realidade é essencial para traçar estratégias adequadas de mobilização e resistência, levando em consideração a diversidade de interesses e a dificuldade de unir esses diferentes segmentos sob uma mesma causa.
A construção desse movimento, que se expanda e se fortaleça a partir das ruas, das fábricas, dos campos, das universidades e dos centros urbanos, exige mais do que palavras de ordem. Exige compromisso, organização e persistência. A luta é longa, mas a vitória depende da nossa capacidade de nos unirmos, de nos fortalecer como classe, e de compreender que cada conquista individual é uma vitória coletiva. O futuro do Brasil depende da nossa ação agora.
É hora de dar passos firmes, de ampliar a unidade e de garantir que o movimento sindical e os movimentos sociais caminhem juntos, com coragem e convicção, em direção a um Brasil verdadeiramente para todos e com todos.