Por: Josué King Ferreira.
Um pequeno Estado com sua economia gigante. Cravado na região Sudeste entre estados de economia pujante, o Espírito Santo se sobressai com os seus 78 municípios. Onde tudo que se planta dá, já diria Pero Vaz de Caminha em sua carta ao rei de Portugal.
Seu solo fértil, região de montanhas habitadas por descendentes de imigrantes italianos, pomeranos e alemães, belas praias, e um potencial turístico que não podemos mensurar. Mas também se destaca pelo potencial do agronegócio -hoje em crescimento exponencial no Brasil e o Espírito Santo, não fica de fora.
Como o Estado sobreviveu à competição entre vários portos da federação dentro de sua hinterlandia, no raio de mil quilômetros – Rio, São Paulo e Bahia?
Os portos públicos sob domínio da União eram 37. Na década de 70 surgiu a discussão de modernização do Espírito Santo e implantação de grandes projetos para alavancar sua economia:Vale do Rio Doce, Aracruz Celulose, Companhia Siderúrgica Tubarão e Samarco Mineração.
Na década de 80, começam a surgir os terminais privados em vários estados, com uma lógica diferente de movimentação de cargas, por movimento hora especificamente para o contêiner.
Chegamos até aqui com todos os problemas da época. A plataforma logística sobre portos e ferrovia do nosso Estado já estava pavimentada por muitos que passaram pela administração do nosso Estado, mas foi no período do governador da época,”José de Melo
Carvalho Muniz Freire” que ganhou contornos para o que temos, com visão além do alcance, cem anos à frente do seu tempo (1869 – 1881).
“Na época houve uma aceleração significativa na migração para o Espírito Santo, cerca de 12 mil imigrantes. E o resultado do crescimento da imigração na década de 70, foi o aumento da produção do café na capital (128-276 arrobas), quase equiparando com a da região de Itapemirim, (141-645)”, relata o historiador Estilaques Ferreira dos Santos no livro “Memórias do Desenvolvimento do Espírito Santo”, na edição dedicada ao então presidente do Espírito Santo (1869-1881).
Para o nosso tempo, 2024, a exportação capixaba hoje bateu a soma de mais de 7 milhões de sacas de café.
“A produção do açúcar decaiu nas duas regiões para apenas 2.000 arrobas, respectivamente. À medida que essa produção crescia, crescia também a força dos interesses mercantis vinculados a ele, a possibilidade de exportação direta para o exterior, sem passar pelo
Rio de Janeiro”, continua Santos.
“Em 1875, o Presidente Domingos Monteiro Peixoto advertia que o Espírito Santo ‘não teria vida própria enquanto não estabelecer relações diretas com os mercados estrangeiros, para realizar sem tutela o comércio de exportação e importação e, por consequência’.
“Certo dessas verdades…e convicto do rigoroso dever que tenho de promover os melhoramentos que possa levantar o comércio e a lavoura do abatimento em que se acham, encarreguei o honrado comerciante da praça do Rio de Janeiro, Belarmino Gama, de se entender com qualquer companhia de navegação estrangeira, informar se era possível contratar o trânsito de seus vapores (navios), pelo porto desta capital, quando menos seis vezes por ano.”
O Espírito Santo continua a se desenvolver até hoje. O movimento de embarcações estrangeiras do comércio exterior davam clara indicação que o Rio de Janeiro já não monopolizava o comércio externo, mas passava a ter a praça de Vitória, uma alternativa para sua operação. Em 1886, se registrou que, das 179 embarcações, saídas do Porto de Vitória, 20 eram de exportação, ainda conforme o historiador.
Hoje isso é, astronomicamente, maior e, como o nosso Estado é produtor e exportador, em 2022, passaram pelo nosso Complexo Portuário 2083 embarcações. Em 2023, superamos as expectativas com 2154, conforme dados da praticagem.
Mas, antes de falar de nossas cargas, tipo ou nossa produção e embarque, é importante reconhecer as particularidades do nosso Complexo Portuário do Espírito Santo, o Porto de Vitória, lembrando que todo desenvolvimento portuário começou nos berços públicos, antes Companhia Porto de Vitória (CPV), depois, Codesa, hoje, Vports, primeira experiência brasileira de privatização de um porto público.
Enfim, é o porto o maior indutor do desenvolvimento econômico e social do Espírito Santo desde Muniz Freire, ainda na era do Império, até os tempos modernos da República em atualização.
*Josué King Ferreira é graduado em Gestão Portuária, mestre em Sociologia e líder sindical dos arrumadores na capatazia.