Por Adilson Araújo, presidente da CTB
O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão, o que só ocorreu em 13 de maio de 1888.
Fundado com base em duas classes fundamentais – os escravizados, que constituíam a classe trabalhadora da época, e os proprietários dos escravos -, o sistema escravista durou 388 anos e deixou marcas profundas e heranças perversas na sociedade brasileira.
Entre essas, destaca-se o racismo, do qual temos notícias diariamente e que foi estimulado sobremaneira durante os governos dos golpistas Michel Temer e Jair Bolsonaro.
O negro na classe trabalhadora
É oportuno destacar que os preconceitos e intolerâncias raciais estão estreitamente entrelaçados com as contradições e a luta de classes em nosso país.
Segundo dados do IBGE, os negros constituem 57% da população brasileira. São maioria também da nossa classe trabalhadora, somando 55% das pessoas ocupadas.
No nefasto “capitalismo selvagem” vigente em nosso país, o patronato utiliza o racismo para aumentar a taxa de exploração da classe trabalhadora, além de fomentar divisões e dificultar a unidade classista dos explorados. Esta realidade transparece nas estatísticas sobre as diferenças salariais no mercado de trabalho nacional.
O rendimento médio dos negros é 40% inferior ao dos não negros, de acordo com estudo do Dieese divulgado nesta terça-feira (19). Os negros com ensino superior ganham 32% menos que os demais trabalhadores com o mesmo nível de ensino, diferença que pouco se alterou com a Lei de Cotas.
Um em cada 48 homens negros ocupados está em um cargo de liderança, enquanto entre os não negros, a proporção é de um para cada 18.
Nas 10 profissões mais bem pagas, os negros representam 27% dos ocupados, mas são 70% dos trabalhadores nas 10 ocupações com os menores rendimentos.
Luta pela igualdade
Neste 20 de Novembro, consagrado como o Dia da Consciência Negra, em que lembramos e reverenciamos a memória de Zumbi do Palmares, é o caso de reiterar os compromissos assumidos como Princípios e Objetivos da CTB no seu congresso de fundação, em dezembro de 2007. A luta pela igualdade é estratégica.
“Não aceitamos os preconceitos, as discriminações e as intolerâncias, seja de cor, raça, etnia, credo, origem, geração, classe social, gênero ou orientação sexual. Lutaremos com vigor por uma sociedade totalmente livre do machismo, da dominação de classe, do racismo e da homofobia, males estimulados pelo capitalismo que maculam e enfraquecem os ideais de igualdade e justiça social na sociedade brasileira”, proclama o documento aprovado em Belo Horizonte pelos congressistas.
Compartilhamos a convicção de que sem a emancipação dos negros e negras, das mulheres e outros segmentos oprimidos e discriminados da nossa sociedade não se poderá falar em libertação da classe trabalhadora e tampouco será aberto o caminho para uma nação justa, fraterna e igualitária, sob um sistema socialista.