Investimentos do gigante asiático já movimentaram mais de R$ 5,8 trilhões
Por Flavia Marinho
Adesão à Rota da Seda vai trazer bilhões ao Brasil: ferrovias, rodovias e uma nova era de investimentos da China promete revolucionar a América Latina
A China apresentou ao mundo um dos maiores projetos de infraestrutura e de investimentos da História. É a ‘Nova Rota da Seda’, iniciativa que já movimentou mais de 1 trilhão de dólares em obras de infraestrutura como portos, rodovias, ferrovias e projetos energéticos em mais de 150 países, principalmente na África, América do Sul e Oriente Médio.
A adesão do Brasil ao projeto de investimentos, formalmente chamado ‘Iniciativa Cinturão e Rota’, está na pauta da visita que o presidente chinês Xi Jinping fará ao Rio de Janeiro em novembro para o encontro do G20.
É uma decisão estratégica: a entrada na Rota da Seda, iniciativa liderada pela China, promete investimentos massivos em obras de infraestrutura. Com foco em rodovias, ferrovias e outras áreas cruciais para o desenvolvimento. O Brasil avalia cuidadosamente os impactos dessa adesão.
Recentemente, foi formado um grupo de trabalho interministerial para analisar o potencial dessa parceria com a China. A proposta dos investimento pode fortalecer as relações comerciais entre Brasil e China, mas também levanta preocupações em Brasília sobre a reação dos EUA, especialmente em um cenário de vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas. A proximidade com Washington é vista como essencial para o equilíbrio diplomático brasileiro, o que torna essa decisão ainda mais delicada.
Construção promete conectar o Brasil ao maior mercado do mundo
Fontes ligadas ao governo indicam que a embaixada chinesa no Brasil espera formalizar a entrada do país na iniciativa durante a visita de Xi Jinping em novembro. A Rota da Seda é uma estratégia da China para integrar investimentos e economias globais em torno de um vasto projeto de comércio centrado em Pequim. Com investimentos colossais em obras que abrangem desde ferrovias a rodovias em diversos países, o Brasil está na mira dessa integração econômica, que promete acelerar o desenvolvimento do país em áreas estratégicas.
No entanto, diplomatas do Itamaraty aconselharam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a adiar o anúncio até que o resultado das eleições dos EUA, realizadas nesta terça-feira, 5 de novembro, seja conhecido. Existe a preocupação de que uma vitória de Trump poderia prejudicar as relações entre Brasil e Washington se o país anunciar sua adesão aos investimentos da China, na Rota da Seda, antes do término das eleições.
O próprio Lula já expressou apoio a Kamala Harris, candidata democrata à presidência dos EUA, e disse em reuniões com líderes brasileiros que espera sua vitória. A entrada nos investimentos na Rota da Seda, associada ao apoio a Harris, poderia ser vista como um afastamento de Washington, especialmente sob uma administração republicana, que tem demonstrado uma postura mais crítica em relação à China.
Participação na Rota da Seda seria uma “medida fundamental”, nas relações de longo prazo entre Brasil e China
A decisão de se unir à iniciativa chinesa começou a ser considerada em junho, quando a ex-presidente Dilma Rousseff, agora à frente do Banco dos Brics, apresentou os benefícios dos investimentos da adesão ao governo Lula. O grupo de trabalho criado para avaliar a proposta inclui nomes de peso, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, e deve se reunir após a Assembleia Geral da ONU para discutir o tema.
Lula, em declarações públicas feitas em julho, comentou que o Brasil está ponderando cuidadosamente o que pode ganhar com a adesão aos investimentos da Rota da Seda. A entrada na iniciativa seria uma oportunidade para o país se posicionar como um elo estratégico nas rotas comerciais da América Latina, especialmente em um momento em que o governo busca a reindustrialização e o fortalecimento da integração sul-americana.
A embaixada chinesa, por sua vez, destacou que a participação do Brasil na Rota da Seda seria uma “medida fundamental”, sinalizando estabilidade nas relações de longo prazo entre os dois países. Além disso, a China acredita que essa parceria está em total consonância com os planos de investimentos e desenvolvimento econômico de Lula, incluindo a aceleração do crescimento e as rotas de integração da América Latina.
Até o momento, nem a embaixada da China em Brasília nem o Ministério das Relações Exteriores do Brasil responderam aos pedidos de comentários sobre os últimos desdobramentos dessa negociação. A expectativa é que os detalhes sejam discutidos e possivelmente anunciados em breve, dependendo do cenário político nos EUA e das estratégias diplomáticas do governo brasileiro.
Fonte: CPG