Globo confunde realidade com desejo em campanha contra adesão do Brasil à Nova Rota da Seda

Os bastidores da diplomacia mundial são hoje marcados por uma guerra surda entre os EUA, aliado ao chamado Ocidente, e a China, juntamente com países do Brics, pela liderança geopolítica nas diferentes regiões que compõem o globo.

Isto transparece com muita nitidez no debate sobre a possibilidade do Brasil ingressar na iniciativa Cinturão e Rota, também batizada de Nova Rota da Seda, patrocinada pela China.

O Brasil tem muito a ganhar aderindo à iniciativa, que prevê vultosos investimentos em infraestrutura, área fundamental para o desenvolvimento nacional em que a economia brasileira é muito carente precisamente por falta de investimentos.

Mas, forças hoje nem tão subterrâneas comandadas pelo imperialismo já agem em sentido contrário aos interesses nacionais porque os EUA, obcecados em contar a ascensão da China, não gostaram da ideia.     

Há uma semana, a chefe de Comércio dos Estados Unidos, Katherine Tai, declarou que o governo brasileiro deveria pesar os riscos de aderir à Nova Rota da Seda, o que soou como uma ameaça velada e uma ingerência descarada na política externa brasileira, uma afronta à soberania nacional que é muito característica da conduta imperialista de Washington.

Mais triste e grave é o fato do imperialismo contar com uma poderosa legião de testas de ferro para defender seus nefastos interesses em nosso território.

É o caso de O  Globo, que manipulou declarações do diplomata Celso Amorim para difundir a falsa notícia de que o Brasil estaria propenso a rejeitar a adesão ao ousado projeto chinês. 

Em entrevista ao blog Cafezinho, Amorim desautorizou a interpretação enviesada do veículo da rica e poderosa família Marinho.

Leia:

Brasil vai participar, diz Amorim

Em entrevista exclusiva ao Cafezinho, Amorim reafirma desejo do Brasil em participar da Rota da Seda.

Por Miguel do Rosario

Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais, deu entrevista hoje ao Globo, em que fala dos planos do governo Lula em relação a famosa Rota do Cinturão e da Seda, projeto chinês de infra-estrutura, de enorme alcance geopolítico.

A manchete do Jornal deu ênfase a uma parte da entrevista, em que Amorim teria “sinalizado” que o Brasil não estaria disposto a “assinar” o tratado oficial dos paises que fazem parte da Rota do Cinturão e da Seda.

Trechos da reportagem do Globo:

“— A palavra-chave é sinergia. Não é assinar embaixo, como uma apólice de seguro. Não estamos entrando em um tratado de adesão. É uma negociação de sinergias — disse ao GLOBO o principal assessor de Lula para assuntos internacionais.

Com isso, Amorim sinalizou que o Brasil não deve aderir formalmente ao programa chinês. Criado há mais de uma década, cerca de 150 países em desenvolvimento tiveram de assinar memorando de entendimento para se juntar à iniciativa.”

— Eles (os chineses) falam sobre cinturão, mas não é uma questão de aderir. Eles dão os nomes que eles quiserem para o lado deles, mas o que interessa é que são projetos que o Brasil definiu e que serão aceitos ou não — completou.

***

A entrevista de Amorim causou imediatamente mal estar na comunidade brasileira que defende o aprofundamento das relações do Brasil com a China, e entende que a adesão do Brasil a algum tipo de tratado com o gigante asiático seria muito vantajosa para o Brasil.

A decisão, naturalmente, tem implicações geopolíticas importantes, tanto que uma autoridade americana de passagem para o Brasil, Katherine Tai, representante do Departamento de Comércio do governo americano, alertou que o Brasil “deveria ter cautela com uma possível adesão à Nova Rota da Seda”. A declaração da americana gerou reações fortes de Pequim, incluindo a divulgação de uma nota da Embaixada da China em Brasília, dizendo que a fala de Tai seria um falta de respeito com a soberania brasileira.

O Cafezinho procurou Amorim, para perguntar se a interpretação da Globo estaria correta. Pois se trata apenas de uma interpretação, por enquanto. Aí que mora a falácia. Para receber investimentos do projeto chinês chamado Rota do Cinturão e da Seda, os países naturalmente assinam memorandos e entendimentos, mas não existe um tratado jurídico oficial. Cada país participa à sua maneira, de acordo com os procedimentos legais e as condições políticas próprios. Não é preciso, portanto, “assinar” nada, ou nenhum tratado “Quero fazer parte da Rota da Seda”, além dos memorandos obviamente necessários.

A reportagem, ao dizer que Amorim “sinalizou” a não assinatura de um tratado com a China que formalizasse a adesão do Brasil à Rota da Seda, gerou a impressão de que o governo Lula estivesse repudiando, de alguma maneira, a participação no projeto.

A resposta de Amorim “sinaliza” que essa interpretação da Globo foi apressada, e reflete antes o wishful thinkg do jornal, notoriamente inclinado aos EUA, do que os verdadeiros planos do governo brasileiro.

Amorim nos respondeu que não é bem isso. O Brasil quer e precisa receber investimentos da China, e tem todo o interesse em participar do projeto chinês conhecido como “Rota do Cinturão e da Seda”, mas que a intenção é estabelecer uma relação equilibrada entre Brasil e China:

“Vamos trabalhar nas sinergias entre o projeto chinês “um cinturão, uma rota” e os projetos brasileiros (PAC, etc)” .

Eu insisti, perguntando se a resposta dele significava que o Brasil estaria, categoricamente, dentro do projeto chinês da Rota da Seda.

Ele rebateu: “Ou a China estará nos nossos projetos…”

Ou seja, o Brasil quer participar da Rota da Seda, e para isso, naturalmente, terá de assinar memorandos e acordos, mas a decisão do governo brasileiro é, como disse Amorim, integrar o projeto chinês aos projetos de infra-estrutura já existentes, ou em vias de formulação, do Estado brasileiro.

Na entrevista ao Globo, Amorim lembra que Brasil e China já têm vários projetos ambiciosos em conjunto, em andamento ou em fase de estudo, desde infra-estrutura até energia solar e carros híbridos.

“A ideia é passar para outro patamar e isso faz parte de uma visão do Brasil, de ter suas relações diversificadas e não ficar dependendo de um único fornecedor, ou um único parceiro. A parceria não é só comprar e vender, mas investir com insumos feitos no Brasil, por exemplo”, afirmou Amorim à Globo.

Amorim está preocupado em passar a mensagem, para o público interno e para o mundo, de que o governo tem sim interesse em aprofundar a parceria estratégica com a China, mas que essa parceria, no que tange às obras no Brasil, será coordenada pelo governo brasileiro, e estarão em “sinergia” com obras idealizadas de acordo com o interesse nacional.

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