Roque Lazo, da Secretaria Operacional da Alba, culpou EUA por estratégia que visa fomentar revolta social
A Articulação Continental de Movimentos Sociais (Alba) culpou o bloqueio dos EUA contra Cuba pelo apagão total que deixou o país às escuras no final de semana. O reestabelecimento da energia foi retomado na segunda-feira (21).
Durante coletiva de imprensa realizada em São Paulo nesta terça-feira (22), Roque Lazo, da Secretaria Operacional da Alba, analisou a atual crise energética no país e afirmou que os bloqueios políticos e econômicos contra o país caribenho ocasionaram, propositalmente, a queda do sistema de energia do país.
“A causa fundamental [do apagão] tem a ver com a saída de sistemas fornecedores de eletricidade e combustível insuficiente para suprir os equipamentos”, afirmou Lazo. Segundo Lazo, a verdadeira responsável pela crise é “a política de bloqueios dos EUA sobre Cuba, que não conta com os suprimentos necessários. Por conta das sanções, não tem como Cuba ter dinheiro para pagar os provedores de combustíveis para as estações de energia”.
Segundo Lazo, o impacto do bloqueio estadunidense impossibilita Cuba de negociar combustíveis de outros países, que temem possíveis sanções dos EUA caso negociem com o país caribenho. Além disso, os próprios bloqueios sobre Cuba impedem o país de ter fontes de dinheiro suficientes para a compra dos insumos necessários para gerir o sistema elétrico.
“A crise energética está relacionada com as crises persistentes de insuficiência de capacidade financeira de suprir com insumos básicos para o sistema energético nacional”, continuou Lazo. “Em termos técnicos, o sistema não conseguia mais suprir a demanda de energia elétrica. Havia um deficit diário até o apagão, nos últimos dias chegou a oscilar 1200 a 1300 megawatts diariamente de deficit.”
“Houve, então, a decisão de um fechamento total do sistema elétrico. Entre o fim de semana e segunda, não havia sistema elétrico total em Cuba. O drama de não ter combustível e, portanto, energia, foi se prolongando. As condições de hostilidade financeira e econômica que levaram a isso.”
“Crise proposital criada pelos EUA”
Para Roque Lazo, as políticas estadunidenses contra Cuba “sempre tiveram como objetivo crises como a que vimos agora”. A Lei Helms-Burton, de 1996, usada como exemplo por Lazo, restringiu ainda mais as imposições comerciais e econômicas contra a ilha caribenha, e para o representante da Alba, visam causar um desespero lógico na população cubana, que gere alguma forma de mal-estar ou revolta social.
“A única maneira previsível de impedir a Revolução Cubana é ter um curso de ação que provoque desafeto contra o governo, a partir do desespero da população”, afirmou Lazo. “O principal responsável pela situação é o governo dos EUA. Porque o conjunto de medidas que tomaram contra a política cubana é objetivando um cenário que vemos agora, como o apagão, para configurar um colapso do sistema. Um desespero populacional.”
Segundo Roque, o curso de ação do governo dos EUA é continuar com as imposições e bloqueios econômicos, para deixar que impedir boas condições materiais para a população. Por isso, para o representante da Alba, as eleições nos EUA não proveem mudanças no horizonte próximo que indiquem uma mudança nesta intenção.
“Para nós, dá no mesmo [o resultado das eleições]. A única coisa que Cuba pediu foi a queda de bloqueios que impedem qualquer tipo de funcionamento efetivo de um país. Pois [os bloqueios] se tratam das mesmas ideias de genocídio – fazer desaparecer uma população inteira”, finalizou Lazo.
Apagão total
Mais de 70% da população cubana recuperou o serviço de eletricidade após quatro dias de apagão total, emergência agravada pela passagem do furacão Oscar que deixou seis mortos no leste da ilha, informaram as autoridades nesta terça-feira (22).
“Nesta manhã, 70,89% dos clientes em Cuba contavam com serviço de eletricidade”, afirmou o Ministério de Energia e Minas em sua conta no X, onde acrescentou que “a ampliação da cobertura elétrica no país” continua.
O presidente Miguel Diaz-Canel disse na segunda-feira que as forças armadas estavam liderando os esforços de resgate na área do desastre, nos municípios de San Antonio del Sur e Imias, em Guantánamo, “onde há áreas ainda inacessíveis” com “níveis de inundação historicamente inéditos”.
Os ventos do Oscar varreram telhados e casas inteiras na cidade de Baracoa, a quase 1.000 quilômetros de Havana, onde postes e árvores foram derrubados e detritos foram deixados em toda a orla marítima, segundo a televisão cubana.
Nesta terça-feira, a empresa de eletricidade informou que Guantánamo e Santiago de Cuba são as províncias com “menor disponibilidade” de eletricidade até o momento. No oeste da ilha, a cobertura foi de 95%, enquanto no centro do país ficou entre 40% e 60%.