Rick Azevedo é criador do movimento VAT que, com milhares de pessoas em grupos de Telegram, quer o fim da escala 6×1
Por Gabriela Moncau/Brasil de Fato
Influenciador e criador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), Rick Azevedo, de 30 anos, foi um fenômeno eleitoral no Rio de Janeiro (RJ). Ele foi o vereador do Psol com menos investimentos e mais votos. O próprio partido se surpreendeu.
Para Rick, os 29,3 mil votos que recebeu vêm da força do VAT, que defende o fim da jornada de seis dias de trabalho para um de folga (6×1), “dando voz a trabalhadores que muitas vezes não se veem representados por estruturas tradicionais”.
“O movimento sindical tem uma relevância histórica enorme, sendo responsável por muitas das conquistas que temos hoje”, diz Azevedo. “No entanto, acredito que ele precisa de uma atualização para se adaptar à realidade dos trabalhadores atuais, especialmente daqueles que estão em condições precarizadas ou em setores informais”, avalia.
Desde que saiu de Taipas (TO) aos 17 anos, passando por Palmas (TO) e finalmente chegando ao Rio de Janeiro, Rick levava uma vida comum a muitos jovens negros que buscam melhores condições de vida em metrópoles sudestinas, alternando entre bicos e trabalhos precarizados no setor de serviços.
No último ano, a vida deixou de seguir o roteiro mais previsível. A ascensão meteórica nas redes, e agora na política partidária, deslanchou a partir de um vídeo no TikTok de desabafo e convocação: “estamos vivendo escravidão na pele sem fazer nada”.
“Eu estou querendo saber quando é que nós, da classe trabalhadora, iremos fazer uma revolução nesse país em relação a essa escala 6×1”, disse, depois de receber uma ligação da chefe durante a folga, pedindo que entrasse mais cedo no dia seguinte. Viralizou. Rick passou de balconista de uma farmácia à figura pública da bandeira do fim da escala 6×1 e um influenciador com mais de 200 mil seguidores no Instagram.
Longe de ser uma aposta do Psol, Rick Azevedo recebeu R$60 mil do diretório estadual da legenda para a campanha. Valor bastante mais tímido, por exemplo, que os outros três eleitos do partido: Mônica Benício, William Siri e Thais Ferreira, com R$300 mil cada.
“Acredito que consegui tantos votos porque a minha trajetória fala diretamente com quem está na luta, com quem enfrenta as dificuldades do dia a dia”, pontua o líder do VAT, cuja candidatura enfrentou resistência inicial de sua família. “Eles sabiam que a política é complicada e que eu poderia me frustrar ou me expor a ataques”, explica.
Questionado se a política partidária brasileira caminha para uma composição cada vez maior de influenciadores, Rick considera que “eles têm um papel importante na política, especialmente na capacidade de alcançar muitas pessoas”, mas que “o futuro da política será construído por quem conseguir unir alcance e consistência nas causas que defende”.
Petição com 1,3 milhão de assinaturas e PEC
Assim que o vídeo bombou, em setembro de 2023, Rick criou um grupo de Whatsapp com apoiadores, para decidir o que fazer em prol da pauta. Com limite máximo de duas mil pessoas, a comunidade lotou em menos de uma semana. Foi aí que o nome VAT foi criado.
Fizeram uma petição online intitulada “Por um Brasil que vai além do trabalho: VAT e Ricardo Azevedo na vanguarda da mudança”, pedindo ao Congresso Nacional uma alteração na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pela redução da carga horária. O documento já alcançou 1,3 milhão de assinaturas.
A bandeira ganhou apoio da deputada Erika Hilton (Psol), que apresentou, no último 1º de maio, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela redução da jornada de trabalho. A proposta precisa do voto de 171 parlamentares para tramitar. Até o momento, obteve 65. Desta relação com Hilton, chamada de “madrinha” do VAT, veio a aproximação com o Psol e a ideia da candidatura.