Professora contou como presenciou os atentados israelenses; mais de 600 pessoas já foram mortas
Bombardeios israelenses no Líbano mataram mais 51 pessoas e deixaram mais de 220 feridos nesta quarta-feira (25), segundo o ministro da Saúde libanês, Firass Abiad. Desde que os ataques começaram – com explosões de pagers e walkie talks na semana passada – o número de mortos já ultrapassou os 600, com milhares de feridos, e aterroriza a população local.
Yana Samarani não é do Hezbollah. “Sou de esquerda e professora de História”, se justifica. Mesmo assim ela se sente um alvo constante de Israel, em Beirute, onde mora. Ela contou ao Brasil de Fato como é viver na capital libanesa sob ataque israelense.
“Na terça-feira (17) eu estava em Beirute em um café em Hamra [bairro da capital libanesa] quando ouvimos muitas, pareceram milhões, de explosões ao mesmo tempo. Foi incompreensível, extremamente confuso, ninguém tinha ideia do que estava acontecendo”, disse ela.
O governo israelense diz que uma nova guerra é necessária para permitir que seus cidadãos voltem para o norte de Israel, quase um ano após muitos deles terem deixado suas casas após retaliações do Hezbollah em solidariedade aos palestinos massacrados em Gaza. O Hezbollah é aliado do Hamas e vem lançando foguetes do Líbano em direção ao norte de Israel desde outubro.
Um deles foi lançado em direção à capital israelense, Tel Aviv, na terça-feira, e acabou interceptado por militares israelenses. A “ousadia” do Hezbollah foi respondida por ataques aéreos de Israel, que mataram dezenas de libaneses. Os EUA dizem que ainda é possível evitar uma guerra total, mas sem muita convicção, com o governo israelense dizendo travar uma guerra “contra o Hezbollah”.
Samarani tenta explicar a sensação de vulnerabilidade constante: “Ouvimos o som dos aviões. Dos drones israelenses. É um som permanente, o tempo todo, e não sabemos se eles estão te vendo, se vão atirar em você. É enlouquecedor.”
A professora diz que, “logo depois [dos primeiros atentados], centenas de ambulâncias correram pela cidade, lotando todos os hospitais. Pouco a pouco entendemos que estávamos sendo atacados, um ataque massivo, terrorista, contra todos os cidadãos do Líbano, independente de quem fossem, de quais afiliações políticas. Sentimos que não podemos mais usar nenhum aparelho eletrônico, nossa privacidade, nossas vidas. Tudo está sendo violado.”
O ataque sem precedentes contra tecnologias obsoletas – escolhidas pelo Hezbollah na esperança de que não pudessem ser rastreadas – deixou pelo menos 12 mortos e 2.800 feridos, segundo o Ministério da Saúde do Líbano. Após este golpe, walkie-talkies explodiram em redutos do Hezbollah na quarta-feira, matando outras 25 pessoas.
“Somos
atacados por anônimos que podem nos alcançar a qualquer momento, em todo lugar. Tenho medo de usar o telefone, por exemplo. Eles não atacam um partido, a resistência. O alvo sou eu, Yana Samarani, professora de história em uma escola secundária. Não sou do Hezbollah, não tenho relação alguma com eles, sou de esquerda, não sou do Sul do Líbano ou do Vale do Bekaa [redutos do grupo]. Sou até contrária ao que eles têm como ideologia”, explica.
A última vez que Israel atacou o Líbano foi em 2006, num ataque frontal de 33 dias que deixou 1,2 mortos, a maioria de civis, do lado libanês. “Tudo indica que viveremos isso de novo, toda a tensão. Naquele ano, tivemos 1,2 mortos por Israel em mais de 30 dias. Chegamos já na metade disso em dois dias”, ela calcula.
A ONU diz que desde segunda-feira, mais de 90 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas devido às bombas israelenses. As multidões fogem do sul do país, buscando refúgio no norte, em tese uma região mais segura do pequeno país que se prepara para mais uma guerra com seu vizinho Israel.
“Temos milhares de pessoas nas estradas, presas em carros por 12, 13 horas para fazer um percurso que leva pouco mais de uma hora. Gente dormindo nos carros para evitar serem bombardeados”, diz ela.
Informações: Brasil de Fato.