Queda do preço da cesta básica mostra que não há motivo para alta dos juros

Os dados de agosto da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA) realizada pelo Dieese indicam que o valor do conjunto dos alimentos básicos diminuiu em todas as 17 capitais onde a pesquisa é realizada mensalmente.

A queda ocorre pelo segundo mês consecutivo e é um claro sinal de que não se justifica a alta da taxa básica de juros (Selic) que vem sendo anunciada como algo “inevitável” pela mídia hegemônica.

O Brasil já pratica as maiores taxas de juros reais do mundo, o que transformou a economia nacional num paraíso dos rentistas, que abocanham em torno de 50% do Orçamento da União, subtraindo recursos que deveriam financiar o SUS e a educação pública.

Ao contrário do que propõem os porta-vozes do mercado financeiro é necessário reduzir as taxas de juros para melhorar a vida do povo e revigorar a economia nacional com o povo consumindo mais e as empresas realizando novos investimentos para ampliar a oferta.

De acordo com o Dieese as cestas mais caras são as de São Paulo (R$ 786,35), Florianópolis (R$ 756,31) e Rio de Janeiro (R$ 745,64).

As mais baratas estão no Nordeste: Aracaju (R$ 516,40), Recife (R$ 533,12) e João Pessoa (R$ 548,90), cabendo ressalvar que nas cidades do Norte e Nordeste a composição da cesta é diferente das demais capitais.

Salário mínimo necessário

Em agosto o valor do salário mínimo necessário para bancar as despesas previstas na Constituição foi de R$ 6.606,13, 4,68 vezes o mínimo real, que é de R$ 1.412,00, um valor claramente insuficiente para fazer frente às despesas elementares de uma família com quatro membros (dois adultos e duas crianças).

O tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 102 horas e 01 minuto. Após desconto de 7,5%, referente à Previdência Social, o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em média, 50,13% do rendimento para adquirir os produtos em agosto.

Em São Paulo, que tem a cesta básica mais cara do país, o trabalhador que recebe o piso nacional compromete mais de 60% do salário com alimentos e, não raro, vive em situação de rua.

Ou seja, quem ganha o mínimo gasta mais da metade do salário com alimentação, sobrando pouco ou quase nada para quitar outras despesas, com aluguel, saúde, educação, transporte, higiene, luz, água, gás de cozinha, lazer, etc.

Comportamento dos preços dos produtos da cesta

• O quilo do tomate teve o valor reduzido em todas as cidades, entre julho e agosto. As quedas variaram entre -43,11%, em Fortaleza, e -6,96%, em Campo Grande. Em 12 meses, apenas Belém apresentou taxa positiva (4,09%). Nas demais capitais, houve diminuição do valor médio, com destaque para os percentuais em Recife (-53,31%), Natal (-52,86%) e Brasília (-52,40%). A maior oferta, devido ao calor, abaixou os preços no varejo.

• O valor do quilo da batata diminuiu nas 10 capitais da região Centro-Sul, onde o tubérculo é pesquisado, com variações entre -29,04%, em Campo Grande, e -13,49%, em Vitória, entre julho e agosto. Em 12 meses, todas as cidades tiveram elevação de preço, com destaque para as variações de Campo Grande (81,16%) e Rio de Janeiro (70,04%). O avanço da colheita aumentou a oferta e provocou retração dos preços no varejo.

• A farinha de mandioca, cujo valor é coletado nas cidades do Norte e do Nordeste, apresentou diminuição de preço em quase todas as capitais, exceto em João Pessoa (3,91%). Os recuos variaram entre -7,09%, em Fortaleza, e -0,54%, em Salvador. Em 12 meses, apenas Belém acumulou alta de 7,98%. Os demais municípios tiveram redução, com destaque para Fortaleza (-17,60%) e Recife
(-16,19%). De junho a agosto, pequenos produtores fabricam artesanalmente farinha de mandioca. Esse evento, conhecido no Nordeste como “farinhada”, pode ter elevado a oferta do produto, contribuindo para o recuo dos valores, uma vez que a mandioca está com preço alto devido à disponibilidade restrita e à demanda aquecida.

• O preço do feijão diminuiu em 15 capitais, entre julho e agosto. Para o tipo preto, coletado nas capitais do Sul, em Vitória e no Rio de Janeiro, as variações negativas foram de -3,17%, em Porto Alegre; -0,35%, em Florianópolis; e, -0,26%, no Rio de Janeiro. Já em Curitiba (2,45%) e Vitória (1,66%), houve aumento do preço médio. Em 12 meses, as quedas de preço aconteceram em Porto Alegre (-5,33%) e no Rio de Janeiro (-0,91%). As altas acumuladas foram observadas em Curitiba (11,74%), Vitória (7,78%) e Florianópolis (7,75%). O preço do tipo carioquinha, pesquisado no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em Belo Horizonte e em São Paulo, apresentou queda em todas as capitais, com variações entre -10,45%, em Belo Horizonte, e -0,99%, em Aracaju. Em 12 meses, os valores caíram em quase todos os municípios pesquisados, com destaque para Belém (-17,76%) e Recife (-14,45%). As altas ocorreram em Goiânia (4,77%) e Campo Grande (0,95%). No caso do grão carioca, a maior oferta e a menor demanda explicaram as diminuições no varejo. Para o tipo preto, a menor oferta do grão argentino e o fim da safra nacional resultaram em aumentos em algumas capitais.

• O preço do leite UHT diminuiu em 12 capitais, com taxas entre -3,62%, em Campo Grande, e -0,26%, em Belém. Em São Paulo e Vitória, não houve alteração do preço médio, já os aumentos ocorreram em Salvador (2,36%), Aracaju (0,53%) e Brasília (0,16%). Em 12 meses, 14 capitais tiveram altas acumuladas. Em Porto Alegre, a variação chegou a 11,69%, e, em Campo Grande, a 9,30%. As reduções foram registradas em Recife (-4,38%), Vitória (-3,79%) e Natal (-0,80%). A maior
oferta no campo reduziu o preço do derivado no varejo.

• O preço médio do quilo do açúcar diminuiu em 12 das 17 capitais na comparação de julho com agosto. As variações estiveram entre -5,19%, em Porto Alegre, e -0,49%, em Brasília. Não houve alteração de preço em São Paulo nem em Belo Horizonte. Em Curitiba (1,56%), Campo Grande (0,25%) e Aracaju (0,23%) foram observadas elevações. Em 12 meses, 15 cidades tiveram alta, com destaque para Natal (9,76%), Brasília (9,68%) e São Paulo (8,00%). As diminuições foram registradas em Porto Alegre (-2,97%) e no Rio de Janeiro (-2,56%). A fraca demanda e a maior oferta, controlada pelas usinas, reduziu o preço no varejo.

• O preço comercializado do quilo do café em pó aumentou em todas as capitais, entre julho e agosto. As altas variaram entre 1,06%, em Florianópolis, e 13,75%, em Goiânia. Em 12 meses, todas as cidades apresentaram elevação, com destaque para os percentuais de Belo Horizonte (41,70%) e Aracaju (38,12%). A oferta restrita de grão no Vietnã, o aumento do preço internacional, a desvalorização do real em relação ao dólar e as oscilações no volume da colheita devido às mudanças climáticas são alguns dos fatores que podem explicar a alta de preços no varejo.

• Entre julho e agosto, o preço do óleo de soja no varejo subiu em 15 das 17 capitais. As taxas oscilaram entre 0,56%, em Fortaleza, e 6,39%, em Belém. As reduções ocorreram em Porto Alegre (-1,19%) e Campo Grande (-0,58%). Em 12 meses, o preço aumentou em 15 capitais. A alta mais significativa foi verificada em Belo Horizonte (10,07%). Duas cidades acumularam queda: Porto Alegre (-3,23%) e Recife (-3,02%). Maior demanda interna e externa pelo óleo bruto elevaram o preço do produto no varejo.

A pesquisa completa está disponível no site do Dieese

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