Liderada por um presidente com uma capacidade cognitiva duvidosa e na véspera de uma eleição que pode resultar na vitória da extrema direita, os Estados Unidos são a própria imagem da decadência e da irracionalidade, em cujas margens prosseguem o genocídio na Faixa de Gaza e a guerra por procuração na Ucrânia, alimentada pelo expansionismo da OTAN. Agora, num forte sinal de que Washington perde o protagonismo no conflito líderes ucranianos acenam na direção de uma solução pacífica e se voltam não para os EUA mas para a China como potência com capacidade de comandar um processo exitoso de negociação com a Rússia nesta direção.
O chanceler da Ucrânia, Dmitro Kuleba, defendeu nesta terça-feira (23) um “diálogo direto” com a China para acabar com a guerra com a Rússia, em uma visita ao país asiático, que embora aliado político de Moscou mantém uma posição de neutralidade diplomática em relação ao conflito iniciado em 2022.
“É muito importante que Kiev e Pequim estabeleçam um diálogo direto e troquem posições” sobre o conflito, declarou o chanceler ucraniano em um vídeo publicado nas redes sociais depois de chegar à capital chinesa.
A China sustenta o status de ator neutro e ressalta que não fornece ajuda letal a nenhuma das partes, diferentemente dos Estados Unidos e de outras nações ocidentais.
Kuleba, cuja visita vai se prolongar até sexta-feira, anunciou que manteria “conversas amplas, detalhadas e substanciais” com o seu contraparte chinês, Wang Yi, para alcançar “uma paz duradoura e justa” com a Rússia.
Essa é a sua primeira visita à China desde o início do conflito.
Por sua vez, a China disse que as conversas se centrariam em “promover a cooperação sino-ucraniana e outros temas de interesse comum”.
Do lado da paz
A China sempre acreditou que “um cessar-fogo e um entendimento político precoces servirão aos interesses comuns de todas as partes”, declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ningm, nesta terça-feira.
“A China continuará do lado da paz e do diálogo”, acrescentou.
A China vem tentando se perfilar como mediador na guerra e mandou seu enviado especial em assuntos euro-asiáticos, Li Hui, à Europa várias vezes.
O presidente chinês, Xi Jinping, disse este mês ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que as potências mundiais tinham que ajudar a Rússia e a Ucrânia a reiniciarem as negociações.
A China também publicou um documento no ano passado em que pedia uma “solução política” para o conflito e foi uma das ausências destacadas da cúpula unilateral de paz realizada no mês passado na Suíça, para a qual a Rússia sequer foi convidada.
Em sua mensagem desta terça, Kuleba destacou a necessidade de “evitar a concorrência entre planos de paz” e acrescentou que a China “deve contemplar as relações com nosso país através do prisma de suas relações estratégicas com a Europa”.
Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Russia Eurasia Center, acredita que Kiev usará esta semana para tentar “convencer a China a participar de uma segunda cúpula de paz”.
A China se tornou um apoio político e econômico crucial para uma Rússia que foi isolada pelo Ocidente desde o início da invasão e submetida a sanções inéditas.
Ocidente em decadência
As sanções econômicas, inicialmente descritas como uma “bomba atômica” destinada a destruir a economia russa e levar Putin à lona, incluíram até o confisco das reservas de Moscou depositadas em bancos ocidentais, mas não tiveram o efeito desejado. Em contrapartida, contribuíram para evidenciar a decadência do G7 e o deslocamento do poder econômico e geopolítico do Ocidente para o Oriente.
Sob a liderança de Putin, os russos reorientaram suas relações econômicas (comerciais e financeiras) na direção da China, da Índia, do Brics, o que resultou num desempenho econômico significativamente superior aos das anêmicas potências europeias.
O Produto Interno Bruto (PIB) russo cresceu 3,6% em 2023, ao passo que a Zona do Euro e a União Europeia praticamente estagnaram com um avanço médio de 0,4% e recessões em alguns países, incluindo a Alemanha.
No primeiro trimestre deste ano a economia russa cresceu mais de 5% e previsões do FMI sugerem que o desempenho em 2024 deve situar-se em 3,2%, bem acima dos países reunidos no chamado G7.
A história ensina que poder econômico e poder geopolítico são interdependentes e caminham de mãos dadas, com a preeminência, em última instância, do primeiro.
A liderança econômica dos EUA, e em geral do Ocidente, ruiu e provoca a decomposição da ordem mundial formalizada pelos acordos de Bretton Woods. O apelo da Ucrânia à China, que hoje inegavelmente é dona da maior economia do mundo, sugere que a hegemonia geopolítica do imperialismo norte-americano é uma página da história que está em vias de ser virada,