“É uma vitória dos povos na luta contra o imperialismo, uma vitória da liberdade de imprensa e de expressão que desmascara a retórica falaciosa dos Estados Unidos”. Foi com essas palavras que o presidente da CTB. Adilson Araújo, definiu a liberdade do jornalista australiano Julian Assange, que deixou a prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres, na manhã de 24 de junho, depois de ter passado 1.901 dias preso injustamente.
Ele recebeu fiança do Supremo Tribunal de Londres e foi libertado no aeroporto de Stanstead durante a tarde de segunda-feira (24), onde embarcou em um avião e partiu do Reino Unido, segundo informações do site Wikileaks, que em nota considerou sua libertação como “o resultado de uma campanha global que abrangeu organizadores de base, defensores da liberdade de imprensa, legisladores e líderes de todo o espectro político, até às Nações Unidas”.
A mobilização “criou espaço para um longo período de negociações com o Departamento de Justiça dos EUA, conduzindo a um acordo” que deve ser formalizado ainda nesta terça-feira (25).
O jornalista australiano, hoje com 52 anos, foi vítima de uma perseguição implacável dos EUA por ter revelado ao mundo, através de documentos oficiais obtidos e divulgados pelo Wikileaks, o modus operandi do imperialismo pelo mundo, incluindo as torturas no Iraque e em Guantánamo, o manual de torturas do Pentágono e soldados estadunidenses sorridentes enquanto cometiam assassinatos, documentados em vídeo.
A lista de barbaridades cometidas pelo Estado imperialista sediado em Washington compreende, ainda, espionagem de chefes de Estado, crimes de guerra, pressões políticas ou diplomáticas, além de inúmeros exemplos de abusos de poder. Os imperialistas, porém, encobrem seus crimes com uma propaganda enganosa em que asseguram estar agindo em defesa da democracia e dos direitos humanos.
Golpe de 2016
A ex-presidenta Dilma Rousseff foi uma das vítimas da espionagem imperialista, conforme informações obtidas e vazadas pelo site criado por Julian Assange em 2013, operação ilícita cujo significado foi subestimado à época pelo PT e o governo.
O fato é que a espionagem de Dilma Rousseff, de outros integrantes do seu governo e de empresas como a Petrobras e a Odebrecht, integrava uma conspiração mais séria levada a cabo pelos imperialistas, entre elas a malfadada e antipatriótica Operação Lava Jato, que abriu caminho ao golpe de 2016, à prisão de Lula e eleição do neofascista Jair Bolsonaro em 2018.
Os EUA forma os principais beneficiários do golpe, impuseram multas bilionárias à Petrobras, destruíram as grandes empreiteiras, num golpe mortal contra a engenharia nacional e mudaram, da água para o vinho, os rumos da política externa brasileira, que sob os governos Temer e Bolsonaro foi realinhada aos desígnios de Washington.
Versões fantasiosas
Assange foi perseguido por vazar cerca de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas americanas desde 2010. Ficou detido como um preso político, cujo crime foi revelar a realidade brutal mascarada pela narrativa falsa construída por Washington para encobrir as atrocidades que comete em nome da democracia, das liberdades e dos direitos humanos.
Os fatos desmentem as versões fantasiosas disseminadas pela mídia neoliberal a serviço da oligarquia financeira sobre a conduta das potências capitalistas, mas se as versões são melhores que os fatos para o imperialismo este não hesita em perseguir e assassinar a verdade para que seus interesses e suas narrativas prevaleçam. Isto ficou transparente no caso Assange.
Assassinos sorridentes
É sintomático que, embora façam alarde em torno da liberdade de imprensa quando estão contrariadas, os veículos que compõem esta mídia venal não se mobilizaram em defesa do corajoso jornalista que ousou expor os crimes cometidos pelos EUA, recorrendo à cumplicidade do silêncio.
Entre os materiais divulgados por Assange está um vídeo que mostra soldados norte-americanos matando 18 civis de um helicóptero no Iraque. Outros documentos vazados revelam assassinatos de civis, incluindo jornalistas, e abusos cometidos por autoridades dos EUA e de outros países.
“Quero dizer que as informações relevantes divulgadas pela WikiLeaks permitiram à comunidade internacional conhecer melhor os fatos e a verdade”, comentou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Mao Ning, em conferência de imprensa.
No dia 27 de março, a República Popular da China manifestou solidariedade para com o jornalista australiano e apelou à “equidade e justiça” no caso. Para os comunistas em Pequim, Assange “expôs uma grande quantidade de informação secreta sobre as guerras dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque e revelou também o fato de a CIA levar a cabo todo o tipo de ataques cibernéticos”.
Herói da luta anti-imperialista
O advogado de Assange, Edward Fitzgerald, argumentou em sua defesa no tribunal que seu cliente foi perseguido por práticas jornalísticas comuns, destacando que a obtenção e publicação de informações confidenciais de interesse público são essenciais para a democracia.
Assange ficou preso na Inglaterra desde 2019, após passar sete anos na embaixada do Equador em Londres, onde buscou refúgio contra os EUA. Sua prisão configurou um notório atentado à liberdade de imprensa e de expressão por parte de um país que se faz passar como o mais democrático do planeta. O que fica claro nesta história é que imperialismo e democracia são, na verdade, incompatíveis.
Em contraposição ao imperialismo, as forças democráticas e patrióticas das nações oprimidas consideram o australiano Julian Paul Assange um herói da luta contra o imperialismo e pela liberdade e soberania dos povos. Ao revelar os crimes e barbáries subjacente à arrogante política externa dos Estados Unidos ele contribuiu para despertar a consciência anti-imperialista e estimular as lutas dos povos pela verdadeira democracia, soberania e socialismo.
Foto: Justin TALLIS/AFP