Na 112ª Conferência Internacional do Trabalho, organizado pela OIT, na Suíça, Lula ainda acusou a extrema direita de, ao conquistar o poder, desprezar os pobres e tentar “silenciar minorias” pelo mundo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta quinta-feira (13), que é urgente recuperar o papel do Estado como planejador do desenvolvimento e defendeu que este é o momento para uma nova globalização no mundo.
Críticas ao “mercado”
Numa crítica velada aos arautos do chamado mercado, que na verdade são porta-vozes mascarados dos interesses da oligarquia financeira, o líder do PT afirmou que a ação da “mão invisível” do mercado (expressão criada pelo economista inglês Adam Smith) vem promovendo a exacerbação das desigualdades, o que se desdobra na polarização social e política.
O discurso foi feito em Genebra, na Suíça, onde Lula participou da 112ª Conferência Internacional do Trabalho, organizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). No evento, o presidente foi convidado para fazer o encerramento do fórum inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social.
Recuperar o papel do Estado
Na contramão da ideia de Estado mínimo abraçada pelos neoliberais, o chefe do Executivo brasileiro afirmou que “recuperar o papel do Estado como planejador do desenvolvimento é uma tarefa urgente. A mão invisível do mercado só agrava desigualdades. O crescimento da produtividade não tem sido acompanhado pelo aumento dos salários, gerando insatisfação e muita polarização. Não se pode discutir economia e finanças sem discutir emprego e renda”, disse o presidente.
“Precisamos de uma nova globalização, uma globalização de face humana. A justiça social e a luta contra as desigualdades são prioridades da presidência do Brasil do G20 que se realizaráa em novembro próximo”, afirmou.
Ascensão da extrema direita
A degradação das condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras decorrente da imposições de políticas neoliberais criou também um ambiente propício para a ascensão da extrema direita, munida hoje com um falso discurso antissistema que, de certa forma, vai ao encontro do descontentamento popular com o status quo.
Mas, conforme observou Lula, ao conquistar o poder a extrema direita tenta “silenciar minorias” pelo mundo, além de agravar as assimetrias e contradições sociais. Sobre isso, o presidente brasileiro argumentou que é preciso que os setores progressistas e democratas voltem a se tornar referência de contestação contra a “ordem vigente”.
“O extremismo político ataca e silencia minorias, negligencia os mais vulneráveis e vende muita ilusão. A negação da política deixa um vácuo a ser preenchido por aventureiros que espalham a mentira e o ódio. A contestação da ordem vigente não pode ser privilégio da extrema direita. A bandeira anti-hegemônica precisa ser recuperada pelos setores populares, progressistas e democratas”, salientou.
Alertou, ainda, para os perigos que acompanham o avanço do neofascismo. “Eu tenho dito a todo mundo que nós temos um problema de risco da democracia tal qual nós a conhecemos. Porque o negacionista nega as instituições, nega aquilo que é o Parlamento, aquilo que é a Suprema Corte, aquilo que é o Poder Judiciário, aquilo que é o próprio Congresso. Ou seja, são pessoas que vivem na base da construção de mentiras”, disse o presidente ao ser questionado pelos jornalistas sobre o resultado das eleições para o Parlamento da União Europeia.
“Acho que as pessoas que respeitam a democracia têm que brigar para que a democracia prevaleça na Europa, na América do Sul, na América Latina, na Ásia e em todos os lugares”, acrescentou.
Taxação dos ricaços
Lula também lembrou que o Brasil está capitaneando, sob seu comando, o debate sobre a taxação dos super-ricos no G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia.
“O Brasil está impulsionando a proposta de taxação dos super-ricos nos debates do G-20. Nunca antes o mundo teve tantos bilionários. Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm quase US$ 15 trilhões em patrimônio. Isso representa a soma dos PIBs do Japão, da Alemanha, da Índia e do Reino Unido”, informou.
Ele também assegurou que o Brasil vai trabalhar para que a OIT ratifique proposta que visa eliminar os assentos permanentes dos países mais industrializados no Conselho da Organização, um privilégio que não faz o menor sentido, muito menos numa época de franca decadência do G7.
Com informações do Valor
Foto: Ricardo Stuckert/PR – Presidente Lula da Silva, durante reunião bilateral com o diretor-geral da OIT, em Genebra