Paulo Vanzolini 100 anos: um homem de moral pela ciência, pela arte e pela vida

Paulo Vanzolini, em 2008, na Virada Cultural de São Paulo. Foto: Silvio Tanaka Fonseca.

Por Marcos Aurélio Ruy

Para quem acredita que São Paulo possa ser o túmulo do samba, é bom lembrar do centenário do compositor Paulo Vanzolini. Paulistano da gema, ele compôs mais de 70 canções, e muitas delas alimentando almas ainda hoje, mesmo depois de sua morte, em 2013, aos 89 anos. No dia 25 de abril, ele teria completado 100 anos.

 

Na Boca da Noite (1974), canta Márcia

Quem nunca cantarolou que “um homem de moral não fica no chão, nem quer que mulher (termo substituído por ninguém, pela cantora Elza Soares, numa atualização de gênero) lhe venha dar a mão, reconhece a queda e não desanima, levanta sacode a poeira e dá a volta por cima”, da música Volta por Cima. E quem não viveu situação parecida em que precisou de uma mão amiga?

Assim é a obra de Vanzolini, tão a cara de São Paulo quanto outro ícone da música popular brasileira: Adoniran Barbosa (1910-1982). O cotidiano paulistano sempre presente nas músicas do grande cientista, um dos criadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), durante o governo Carvalho Pinto (1962), que corre o risco de privatização pelo desgoverno de extrema-direita Tarcísio de Freitas.

Volta por Cima (1962), canta Noite Ilustrada

Com grande destaque em seus trabalhos científicos, ele escreveu mais de 150 artigos acadêmicos, de acordo com o Jornal da USP. Também foi diretor do Museu de Zoologia, mas aqui destaca-se o seu trabalho como compositor ao mostrar a vida boêmia da maior metrópole da América do Sul, como em Ronda, citada por Caetano Veloso na bela Sampa. “De noite eu rondo a cidade/ A lhe procurar, sem encontrar/ No meio de olhares espio/ Em todos os bares/ Você não está”.

Ao lado de Na Boca da Noite, em parceria com Toquinho, essas canções estão entre os maiores sucessos de Vanzolini, cantadas no Brasil inteiro e até em outros países. “Cheguei na boca da noite/

Parti de madrugada/ Eu não disse que ficava/ Nem você perguntou nada”.

O cineasta Ricardo Dias, diretor do documentário Um Homem de Moral (2009), conta ao jornalista André Felipe de Medeiros que se espantou ao ver “aquele cara chegando do mato com uma espingarda na mão, era o compositor de Volta por cima”. Quando ele foi com o pai visitar a obra da hidrelétrica de Jupiá, no Paraná, e Vanzolini estava no local para realizar um estudo sobre o impacto ambiental da usina na região, por isso usava a espingarda para coletar exemplares das espécies nativas.

Ronda (1953), canta Inezita Barroso

A equipe de jornalismo da TV Cultura de São Paulo produziu o documentário Cobras, Lagartos e Música – 100 anos de Paulo Vanzolini, que vale a pena assistir para conhecer um pouco mais da vida e obra desse grande compositor, que não tinha conhecimentos musicais, mas compunha por intuição.

Trailer do documentário Um Homem de Moral (2009)

Apesar de não saber música, suas canções são carregadas de uma miscelânea inusitada de sons e poesias como histórias do cotidiano. Vale muito a pena ouvir suas canções para conhecer um pouco mais de São Paulo e do Brasil.

Porque “no fundo do chão eu botei raiz/ A seiva do chão eu bebi feliz/ No escuro da minha casa

Vai me nascer outra asa/ E eu volto solto pro ar/ Contigo livre a bailar/ Enquanto o vento soprar

Sem pensar no chão”, como diz na canção Raiz.

Documentário Cobras, Lagartos e Música – 100 anos de Paulo Vanzolini (2024)

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