Por Altamiro Borges
As mentiras espalhadas pelo esgoto digital bolsonarista sobre a tragédia no Rio Grande do Sul têm incomodado até as Forças Armadas. Nesta sexta-feira (10), o conciliador José Múcio, ministro da Defesa, e os comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha desembarcaram no Estado com a missão, entre outras, de combater as fakes news que prejudicam o atendimento à população gaúcha. Em coletiva à imprensa, eles detalharam o trabalho dos militares no resgate das vítimas das chuvas e denunciaram as mentiras que podem causar mortes.
Segundo matéria do site Metrópoles, “a estratégia foi acertada com o Palácio do Planalto… ‘É a voz das Forças Armadas defendendo o trabalho que estão fazendo e denunciando essa campanha de ataques’, resumiu à coluna um integrante do governo… É a quarta vez que o ministro da Defesa visita o Rio Grande do Sul desde o início das chuvas”. Ele foi acompanhado pelo general Tomás Paiva, comandante do Exército, almirante Marcos Olsen, da Marinha, e brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, da Aeronáutica.
Na entrevista, José Múcio informou que 14 mil militares estão mobilizados para ajudar no resgate de pessoas ilhadas e desabrigadas – 3.500 se dedicam a buscar as vítimas e 11.500 estão em atividades de apoio – e foi duro na crítica aos difusores de mentiras. “Seria ótimo que usassem o talento que têm de criar fake news para nos ajudarem a salvar vidas”. A bronca dos militares é compreensível. Eles têm sido alvo de ataques rasteiros das milícias digitais bolsonaristas – que antes bajulavam tanto os milicos na sua cruzada golpista.
“Frouxas Armadas”, “melancias”, “traidores”
Na semana passada, Carlos Madeiro relatou no site UOL que “publicações das Forças Armadas sobre ações de resgate e apoio a vítimas das chuvas nas redes sociais receberam ataques nos últimos dias. Alguns comentários são de perfis identificados com bandeiras do Brasil e até de Israel – e fazem referência à recusa dos militares em apoiar o golpe do Estado após a eleição de 2022. A maior parte critica a corporação citando ‘oportunismo’ e até negando suas ações. Também falam em ‘ação de marketing’ para promover as Forças Armadas”.
O colunista listou uma série de postagens desse esgoto digital. Vale registrar algumas: “Nosso reconhecimento aos Corpos de Bombeiros e Polícias Militares dos Estados. Quanto às Frouxas Armadas só incompetência e oportunismo para tentar limpar a imagem”, esbravejou um miliciano. “A verdade é que as melancias só servem para pintar meio fio e cortar grama”, rosnou outro maluco, associando os militares à fruta que é verde por fora e vermelha por dentro. Um terceiro esbravejou: “Traidores, pelo menos vê se prestam pra alguma coisa”.
Deputados bolsonaristas difundem ataques
Em outro artigo no site UOL, a colunista Letícia Casado avalia que a “disseminação de fake news em meio aos trabalhos de resgate das vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul expõe a decepção de bolsonaristas com o Exército no governo Lula. Cientistas políticos que analisam as redes sociais dizem que o movimento contra as Forças Armadas está crescendo de maneira constante há algum tempo, mas ficou mais cristalizado e disseminado com a participação de parlamentares agora na crise do Sul”.
A matéria relata que “deputados bolsonaristas como Ricardo Salles, Carla Zambelli, Mario Frias e Luiz Philippe de Orleans, todos do PL em São Paulo, têm feito críticas, abertas ou veladas, ao trabalho dos militares no estado… ‘Quando uma figura, que já foi ministro e é deputado federal, aparece fazendo sarcasmo com os militares, realmente chama atenção, é um passo além’, diz o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, referindo-se a Ricardo Salles. O parlamentar publicou um vídeo nesta sexta-feira (10) criticando o que classificou ironicamente de ‘eficiência logística’”.
Ilustração: Getty Images