O protagonismo da classe trabalhadora na luta contra o neofascismo argentino

Foto: Roberto Parizotti.

Por Adilson Araújo, presidente da CTB

O governo do neofascista Javier Milei é adorado pela oligarquia financeira internacional e, compreensivelmente, tem o apoio do FMI, cuja diretora de comunicação, Julie Kozak, declarou que o “progresso” feito pelo Executivo “até agora tem sido impressionante”.

O sentimento do povo é precisamente o oposto. Isto foi mais uma vez demonstrado, com notável vigor, na quinta-feira (9) quando o país ficou paralisado por mais uma greve geral, a segunda na atual gestão, que completa seis meses nesta sexta (10).

Quando falou em “progresso impressionante” obtido por Milei a dirigente do Fundo Monetário Internacional fez uma alusão ao superávit nas contas públicas verificado no primeiro trimestre deste ano, resultado celebrado como “histórico” pelos arautos do neoliberalismo.

Em contrapartida, os mesmos motivos que fazem a alegria do famigerado Fundo, da banca internacional, assim como da direita neoliberal e da extrema direita, despertam, do outro lado, indignação e revolta popular, especialmente na classe trabalhadora e seus representantes.

O superávit foi obtido à custa de um brutal ajuste fiscal, com a demolição do Estado, demissões em massa de servidores, cortes dramáticos dos investimentos, das verbas destinadas às universidades, à assistência e bem estar social.

Os neoliberais comemoram a queda de 35% nas despesas do Estado. Mas, conforme observou o economista Juan Manuel Telechea, “a questão é como se chegou a esse resultado. Isso se explica muito pelo ajuste do gasto público e mais da metade desse ajuste foi conquistado com a trituração dos salários e aposentadorias”.

Estima-se que 45% do resultado do primeiro trimestre se deve ao arrocho de salários, pensões, aposentadorias e programas sociais; 20% foram atribuídos à redução das obras públicas e o restante ao fim de subsídios e aumento de impostos.

As medidas agravaram a crise econômica, aumentaram substancialmente a pobreza e o sofrimento das famílias pertencentes à classe trabalhadora.

A Argentina é hoje perturbada por uma severa recessão. A inflação bate em quase 290% ao ano. A indústria entrou em colapso, com uma queda de 21,2% na produção em relação ao ano passado. Na construção o tombo foi ainda maior, de 42,2%, de acordo com informações divulgadas pelo Instituto de Estatísticas Indec.

A verdade subjacente a esses fatos é que os interesses das classes dominantes são cada vez mais antagônicos aos da classe trabalhadora e dos povos e o projeto neoliberal, cujo fracasso já foi evidenciado ao longo dos últimos anos,  deriva inevitavelmente para o autoritarismo de matiz neofascista.

A resistência do povo e as lutas contra o retrocesso florescem em contraposição à ofensiva da extrema direita e do neoliberalismo. A adesão à greve, convocada unitariamente pelas centrais sindicais do país, foi total e surpreendeu positivamente até seus organizadores.

Hector Daer, líder da CGT, saudou a “contundência” da paralisação e disse que o comparecimento maciço “mostra que o governo precisa tomar nota. O sucesso da greve se deve ao fato de ela ter o apoio social e político para realizar esse tipo de paralisação. É uma greve política porque estamos discutindo todas as ações que estão prejudicando o tecido do nosso país. O governo deve tomar nota para retificar sua política de ajuste”.

Além de duas greves gerais (uma realizada em 24 de janeiro e a outra, de 24 horas, na quinta-feira) a oposição promove protestos todos os dias. O maior deles ocorreu em 23 de abril, quando uma multidão estimada em 1 milhão de pessoas marcharam por todo o país em defesa da universidade pública, ameaçada pela falta de orçamento.

Com Milei, a temperatura da luta de classes entre capital e trabalho aumentou sensivelmente na Argentina e pode resultar no encurtamento do mandato conquistado pelo líder neofascista nas últimas eleições presidenciais.

Quem lidera os protestos é o movimento sindical e a classe trabalhadora, cujo protagonismo político está em alta.

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