A Argentina amanheceu nesta quinta-feira (9) paralisada por uma nova greve geral convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), maior e mais influente central sindical do país, em protesto contra a Lei de Bases, que deve ser votada pelo Senado. É a segunda greve nacional contra o governo presidido pelo neofascista Javier Milei, que ainda não completou seis meses.
O pacote neoliberal conhecido como Lei de Bases compreende um ajuste fiscal que prevê privatizações, concentração de poderes ditatoriais nas mãos de Milei e mudanças na legislação trabalhista consideradas inaceitáveis pela classe trabalhadora e o movimento sindical.
O principal ramo de atividades atingido é o transporte público, que pode ser considerado a espinha dorsal de uma greve geral, uma vez que afeta, e muitas vezes inviabiliza, o trabalho em diferentes áreas e setores como a indústria e os serviços.
A mídia argentina já noticiou um trânsito intenso na capital, Buenos Aires, onde há poucos ônibus à disposição da população e relatos de ao menos dois ataques com pedradas em coletivos na periferia da cidade. Estima-se que 6,5 milhões de pessoas ficaram sem transporte público.
Os portos também não funcionaram, paralisando o comércio agroexportador e as importações.
Na convocação, a CGT acusa o governo ultraliberal de Milei de carecer de “diálogo social” e de implementar “um ajuste brutal que é especialmente sofrido pelos setores de baixa renda, pelas classes médias assalariadas, pelos aposentados e pensionistas”.
A greve teve grande adesão e foi avaliada como plenamente exitosa pelos sindicalistas.
Hector Daer, líder da CGT, saudou a “contundência” da paralisação e disse que o comparecimento maciço “mostra que o governo precisa tomar nota. O sucesso da greve se deve ao fato de ela ter o apoio social e político para realizar esse tipo de paralisação. É uma greve política porque estamos discutindo todas as ações que estão prejudicando o tecido do nosso país. O governo deve tomar nota para retificar sua política de ajuste.”
Não houve manifestações em Buenos Aires, mas em províncias como Córdoba, Río Negro e Chubut, grupos de apoiadores marcharam com slogans contra a “Lei de Bases” das reformas econômicas que estão sendo discutidas no Senado.
A Argentina amarga a recessão econômica e uma inflação próxima dos 290% ao ano, enquanto o governo comemora um superávit fiscal no primeiro trimestre após um ajuste fiscal promovido às custas do fechamento de órgãos do Estado, milhares de demissões, eliminação de subsídios, aumento das taxas de serviço público e deterioração de salários e aposentadorias.
A atividade industrial acentuou seu colapso em março, com uma queda de 21,2% em relação ao ano anterior, e a construção caiu 42,2% no mesmo período, de acordo com informações divulgadas pelo Instituto de Estatísticas Indec. A contração industrial é a maior desde abril de 2020, quando a atividade ficou semiparalisada devido à pandemia de Covid-19.
Embora adorado pela oligarquia financeira internacional e a burguesia neoliberal na Argentina e em toda a América Latina, o governo da extrema direita sofre forte oposição do povo argentino e em especial de sua classe trabalhadora, cujo protagonismo político é notório e crescente.
Além de duas greves gerais (uma realizada em 24 de janeiro e a outra, de 24 horas, nesta quinta-feira) a oposição promove protestos todos os dias. O maior deles ocorreu em 23 de abril, quando uma multidão estimada em 1 milhão de pessoas marcharam por todo o país em defesa da universidade pública, ameaçada pela falta de orçamento.
Com Milei, a temperatura da luta de classes entre capital e trabalho está em alta na Argentina e pode resultar no encurtamento do mandato conquistado pelo líder neofascista nas últimas eleições presidenciais.
Argentina-greve geral- Foto de Luis Robayo/AFP Parada de ônibus esvaziada no terminal Constitución, em Buenos Aires, após anúncio de greve geral