Dados coletados pelo Dieese indicam um cenário favorável aos assalariados na mesa de negociações com o patronato. O desempenho das negociações de março de 2024, registradas no Mediador até 9 de abril, apresenta muitas semelhanças com o observado nas duas datas-bases imediatamente anteriores, considerando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como valor de referência da inflação.
As três primeiras datas-bases do ano registraram resultados acima da inflação em mais de 85% dos casos; iguais ao índice inflacionário em cerca de 10%; e inferiores ao INPC em percentuais abaixo de 5%, com menor incidência em janeiro (2,8%).Um fator importante a influenciar o desempenho das negociações no começo de ano foi a valorização do salário mínimo em janeiro (6,97% sobre o valor vigente desde maio de 2023). Algo em torno de um quarto das negociações do primeiro trimestre registrou reajustes em percentuais entre 6,5% e 7,5%, resultando em ganhos reais que variaram entre 2,8% e 3,6% acima da inflação.
A variação real média dos reajustes de março é, no momento, igual a 1,52%. E com a incorporação de novos resultados das datas-bases de janeiro e fevereiro, os valores reais médios correspondentes a esses meses sofreram leve redução: em janeiro caiu de 1,91% para 1,81%; e em fevereiro, de 1,63% para 1,57%, na comparação com os percentuais registrados no boletim anterior.
A queda da taxa de desemprego, a política de valorização do salário mínimo resgatada pelo presidente Lula e o comportamento discreto dos preços, que reduz o índice de reajuste necessário para repor as perdas decorrentes da desvalorização da moeda, são algumas causas da conjuntura positiva para as negociações coletivas, bem diferente dos anos de arrocho salarial impostos à classe trabalhadora pelos governos Temer e Bolsonaro.
Com a desaceleração da inflação, observada no último mês, o valor do reajuste necessário para as categorias com data-base em abril (e que utilizam o INPC como referência da variação dos preços) caiu de 3,86%, válido para as negociações de março, para 3,4%, apontam os técnicos do Dieese.
No acumulado no primeiro trimestre do ano, ganhos reais foram registrados em 86,1% dos 1.825 resultados analisados até 9 de abril. Reajustes equivalentes ao INPC foram observados em 10,7% dos casos, enquanto os demais 3,2% conseguiram apenas resultados abaixo da variação do índice inflacionário. A variação real média em 2024 é, no momento, igual a 1,75%.
No recorte setorial, as negociações na indústria seguem com os maiores percentuais de reajustes acima da inflação em 2024 (88,0%), seguidas de perto pelos serviços (86,9%). No comércio, aumentos reais foram registrados em 76% dos casos.
No recorte geográfico, todas as regiões conseguiram aumentos reais nos salários em mais de 80% das negociações salariais, com maior frequência no Sudeste – onde são observados em quase 90% dos casos – e no Sul – em 88% dos acordos e convenções coletivas. No Norte, apesar do bom desempenho da região, resultados abaixo do INPC foram registrados em percentual maior do que nas demais regiões.
Nesse começo de 2024, o valor médio dos 1.842 pisos salariais analisados foi de R$ 1.611,98; e o valor mediano, de R$ 1.500,00.Na comparação entre os setores, o maior valor médio pertence aos serviços (1.650,14); e o maior valor mediano, ao setor rural (R$ 1.620,90). Já os menores valores são da indústria (valor médio de R$ 1.541,10 e mediano de R$ 1.469,24.
Já no recorte geográfico, os maiores pisos salariais médios e medianos negociados em 2024, até o momento, são os da região Sul (respectivamente R$ 1.730,01 e R$ 1.680,00); e os menores, do Nordeste (respectivamente R$ 1.556,60 e R$ 1.450,00).
Fonte: Dieese