O debate sobre ciência e tecnologia deve ser feito no âmbito de um novo projeto nacional de desenvolvimento orientado para a valorização do trabalho, a democracia e a soberania, na opinião do presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo.
A afirmação foi feita durante a Conferência Livre sobre CT&I e o Mundo do Trabalho, realizada nesta sexta-feira (5) em São Paulo pelo Fórum das Centrais Sindicais em parceria com o Dieese. A reunião foi definida pelos organizadores como fase preparatória da 5ª Conferência Nacional sobre Ciência, Tecnlogia e Inovação, convocada para junho.
Tecnologia e bem estar social
O presidente da CTB ressaltou que é necessário lutar para que as inovações tecnológicas sirvam ao bem estar social e não sejam apropriadas de forma exclusiva pelas grandes empresas com o objetivo de aumentar lucros e precarizar as relações de trabalho.
Observou, ainda, que o desenvolvimento da ciência e das tecnologias “depende da elevação da taxa de investimentos produtivos, que está num patamar muito baixo”, problema cuja solução pressupõe uma redução substancial das taxas de juros e do spread bancário, além da ampliação dos investimentos públicos, destacadamente em educação.
“Lembro que já reivindicamos 10% dos recursos do pré-sal para a educação, uma bandeira justa que precisa ser resgatada”, acrescentou.
Redução da jornada de trabalho
Fausto Augusto, diretor técnico do Dieese, reiterou algumas propostas do movimento sindical relacionadas ao tema, entre elas a redução da jornada sem redução de salários e a regulamentação do inciso XXVII do art. 7°, da Constituição Federal de 1988, que prevê a proteção do trabalhador face à automação. Citou, ainda, a necessidade de fortalecimento das negociações coletivas.
A classe trabalhadora tem de se apropriar dos benefícios advindos das inovações tecnológicas, o que hoje é feito exclusivamente pelo capital e resulta em maior desemprego e precarização, segundo Fausto Augusto. A ciência deve ser orientada para a melhoria das condições de vida, redução das desigualdades sociais e dos desequilíbrios regionais.
Recado do Lula
Dizendo que trazia um “recado do Lula”, o ministro do Trabalho, Rogério Marinho, saudou os sindicalistas presentes na conferência enaltecendo a resistência e a luta em defesa da democracia e contra a perspectiva de barbárie neofascista que seria inaugurada se Jair Bolsonaro fosse reeleito.
“Não fosse a nossa resistência talvez nem estivéssemos realizando esta conferência. Não foi pouca coisa a resistência que fizemos para garantir a democracia, devemos a ela e ao povo brasileiro a vitória de Lula nas urnas e a consequente derrota de Bolsonaro”, declarou.
O ministro entende que não é admissível introduzir inovações revolucionárias sem a participação do mundo do trabalho, o que faz com que poucos se apropriem de seus benefícios em detrimento da maioria do povo, exacerbando a concentração da riqueza e a polarização social.
Marinho manifestou preocupação com a difusão da desinformação e das chamadas Fake News (notícias falsas) por parte da extrema direita, que têm hoje grande poder de influenciar as massas populares. “Temos de enfrentar o debate, olho por olho, nas ruas”, alertou.
A conferência contou também com a participação da Diretora do Departamento de Tecnologia Social, Economia Solidária e Tecnologia Assistiva do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (DEPTS/MCTI), Sônia da Costa, que representou a ministra Luciana Santos, e do secretário-geral Adjunto da Comissão organizadora da V Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (V CNCTI), Anderson Gomes.
Foto: Roberto Parizotti