O mercado de trabalho brasileiro registrou abertura líquida de 306.111 vagas com carteira assinada em fevereiro. Os dados constam do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e foram divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
O resultado de fevereiro veio acima da estimativa mediana de instituições financeiras, gestoras de recursos e consultorias, de abertura líquida de 230 mil vagas, segundo o Valor Data. As projeções iam de 183 mil a 330 mil novos postos de trabalho.
O resultado líquido foi melhor do que o de fevereiro em 2023, quando houve a abertura de 252.487 vagas, na série com ajustes.
Por sua vez, no primeiro bimestre deste ano, foi registrada a abertura líquida de 474.614 vagas.
Êxito do presidente Lula
São fatos positivos que não ocorrem por acaso. Decorrem de políticas econômicas progressistas adotadas pelo governo Lula, cabendo destacar a lei de valorização do salário mínimo, a retomada das obras paralisadas e dos investimentos públicos, a restauração de um Bolsa Família turbinado, a nova política de preços da Petrobras, entre outros fatores.
Cumpre destacar, ainda, a conquista de aumentos reais nas negociações salariais das categorias. Na data-base fevereiro, 88% de 117 negociações analisadas pelo Dieese até o dia 5 de março resultaram em ganhos acima do INPC-IBGE. Outras 9,4% conseguiram repor as perdas acumuladas e só 2,6% ficaram abaixo da inflação.
É o 15º mês consecutivo em que se registra elevação no valor real dos salários, que desde o golpe de 2016 sofreram um forte arrocho.
O cenário favorável aos trabalhadores e trabalhadoras, oposto ao que se verificou no governo neofascista de Jair Bolsonaro, é bom também para a saúde e o desenvolvimento da economia nacional, uma vez que fortalece o mercado interno, aquece o consumo e, por extensão, estimula o crescimento da produção.
Mas, avessa ao aumento dos empregos e dos salários a burguesia só enxerga nesta realidade uma ameaça aos seus lucros.
Um falso temor
Jornalistas que se guiam pela ideologia dominante refletem esta preocupação criticando as boas novas do governo Lula.
Foi o que ocorreu terça-feira (26), quando o comentarista Fernando Nakagawa, da CNN Brasil, afirmou que a aceleração da geração de empregos no Brasil “pode gerar um impacto negativo”, que seria traduzido no “excesso de aquecimento da economia” e aceleração da “inflação”.
O temor do jornalista é tão antigo quanto falso. Ainda no século 19, o filósofo Karl Marx cuidou de refutá-lo no texto intitulado Salário, preço e lucro, um informe pronunciado pelo autor nos dias 20 e 27 de junho de 1865 nas sessões do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores.
A polêmica persiste ao longo dos séculos, geralmente à margem da realidade, porque, na verdade, não tem fundamento nos fatos ou na ciência econômica. Reflete, antes, interesses de classes conflitantes.
A economia burguesa sempre encara com ressentimento e despeito notícias sobre aumento de salários, redução da jornada, diminuição do desemprego ou qualquer benefício conquistado pela classe trabalhadora, enxergando em tudo isto um obstáculo à maximização dos lucros capitalistas.
Do outro lado, economistas e observadores afinados com os interesses da classe explorada defendem um ponto de vista oposto e apontam os amplos benefícios sociais e econômicos oriundos da redução do desemprego e aumento dos salários.
Interesses classistas com contradições semelhantes compõem os conflitos que se manifestam nas mesas de negociações para a definição de acordos e convenções coletivas, como bem sabem os trabalhadores e trabalhadoras eleitas em assembleia para constituírem as comissões de negociações das categorias durante as campanhas salariais, realizadas no mais das vezes anualmente.
Maximização dos lucros
Economistas e jornalistas a soldo do capital, ainda que inconscientes do papel que objetivamente desempenham, repetem feito papagaios os chavões liberais e neoliberais, ainda que esses não tenham qualquer respaldo na realidade, como no caso em tela.
Notemos que o fantasma da inflação também é manipulado pelo presidente do Banco Central, o bolsonarista Roberto Campos Neto, para impor ao país uma taxa real de juros escandalosa, restritiva do consumo e dos investimentos, que limita o potencial de crescimento da economia brasileira.
O pavor da inflação mascara os interesses reais que orientam a atual política monetária. Estes são de outra natureza, pois a taxa de juros nas nuvens rende altos dividendos aos rentistas e banqueiros, que se apropriam de algo em torno de 50% do Orçamento da União.
É sintomático que os comentaristas afinados com o pensamento neoliberal e os interesses da grande burguesia não manifestem maior preocupação com o tema, crucial para os interesses nacionais e o desenvolvimento econômico.
A verdade reside nos fatos
Quanto à inflação, devemos usar os fatos como critério da verdade.
Os indicadores do IBGE sugerem que os preços estão em trajetória de queda e não devem ser motivo para alarde. O Brasil encerrou 2023, o primeiro ano do governo Lula, com o IPCA abaixo do teto da meta.
Diferentemente, no governo ultraliberal do neofascista Jair Bolsonaro, que conta com muitos correligionários na CNN (uma emissora estadunidense), o povo brasileiro amargou um ambiente de estagflação, com alta taxa de inflação combinada com desemprego em alta e recessão econômica, um casamento insólito que esteve notoriamente associado às políticas neoliberais comandadas por Paulo Guedes, com destaque para o Preço de Paridade Internacional adotado pela Petrobras como critério para o reajuste da gasolina, óleo diesel e gás de cozinha.
O desemprego em massa, no caso, conviveu com alta taxa de inflação, caracterizando o que os economistas batizaram de estagflação. Um sofrimento em dobro para a sociedade, sobretudo as camadas mais vulneráveis. Com Lula estamos presenciando o inverso: desemprego e inflação estão em queda, simultaneamente. Isto é bom não só para o povo trabalhador como também para o desenvolvimento nacional, embora cause desconforto nos donos do Capital e seus lacaios.
Umberto Martins
Foto: Iuri Pitta e Fernando Nakagawa da CNN Brasil: reprodução