Já não se cogita atualmente o retorno da Contribuição Sindical compulsória, também batizada de Imposto Sindical, que foi criada por Getúlio Vargas e extinta durante o governo golpista de Michel Temer pela reforma trabalhista. O propósito, óbvio, foi debilitar a luta sindical e destruir ou “flexibilizar” direitos trabalhistas. Mas as centrais sindicais já não lutam pela volta da contribuição, que equivalia ao valor de um dia de trabalho, e era compulsoriamente descontada dos assalariados uma vez por ano. Os sindicalistas defendem hoje a instituição de uma Contribuição Negocial, que não tem caráter de imposto, depende de aprovação em assembleia geral dos trabalhadores e trabalhadoras, ao cabo das negociações coletivas, e é passível de oposição.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas a mídia empresarial insiste em difundir Fake News (notícias falsas) a respeito do tema, com o indisfarçável objetivo de disseminar confusão e indispor a opinião pública e a classe trabalhadora com os sindicatos e suas lideranças. O bolorento Estadão é useiro e vezeiro nesta prática infame, que reiterou nesta quarta-feira (27) na matéria intitulada “Marinho tenta emplacar volta da contribuição sindical em negociação sobre trabalho aos feriados“.
Não é verdade. O próprio ministro do Trabalho já tinha desmentido insinuações semelhantes em mais de uma ocasião, afirmando que a volta da contribuição ou do imposto sindical “não está em discussão“.
Para aparentar objetividade e imparcialidade, a reportagem até concede que os sindicalistas “alegam que não se trata da volta do imposto sindical”. Mas isto vem no corpo da matéria, sem maior destaque e apresentada como uma observação carente de credibilidade.
A linha editorial do jornal está refletida no título, em letras garrafais. E é falsa.
Não se trata apenas de versões e narrativas ideológicas divergentes, mas de fatos. O comportamento do bolorento Estadão vai na contramão do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que assevera em seu artigo 2°: “A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de divulgação pública, independente da natureza de sua propriedade” (que no caso, é burguesa, capitalista).
A matéria é assinada por Mariana Carneiro e Luiz Guilherme Gerbelli. Não se sabe se o título fraudulento, que induz o leitor ou a leitora a uma falsa consciência, é deles ou do editor. Seja como for, é lastimável que subscrevam uma Fake News, que por sinal é pouco sutil.
Seria de bom tom ler e respeitar o Código de Ética da nossa categoria, que no artigo 11 adverte: “O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros”.
Já o artigo 7º estabelece o que deveria ser óbvio para qualquer profissional do ramo: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação”. Não foi o caso.
O Código de Ética dos jornalistas é aprovado em congresso com ampla e democrática participação da categoria. Sua última versão foi definida em 1994. Jornalista que se preza e zela pela verdade e objetividade dos fatos tem o dever de respeitá-lo. Infelizmente isto nem sempre ocorre, ainda menos numa época em que floresce o obscurantismo neofascista e proliferam as falsas notícias e os falsos profetas.
Curiosamente, o jornalão da reacionária família Mesquita criou uma editoria denominada “Estadão verifica” que exala cinismo, destinada quem à “checagem de fatos e de fake news”. É bom que verifiquem melhor se são fatos ou Fake News os próprios conteúdos que produzem, incluindo o título com a versão, reiteradamente desmentida, de que “Marinho tenta emplacar volta da contribuição sindical”.
Umberto Martins