Adilson Araújo, presidente da CTB
O lobo fascista Jair Bolsonaro vestiu pele de cordeiro para se apresentar na manifestação realizada domingo na avenida Paulista. Apresentou-se como um político democrático, patriota e defensor da liberdade.
Temendo o xadrez, que pelo andar da carruagem parece inevitável, o líder da extrema direita afirmou que é uma pobre vítima de perseguição política e chegou a jurar que nunca foi golpista e nem cometeu nenhum crime.
Dizem que aconselhado pelo golpista Michel Temer, ele ainda teve a cara de pau de afirmar que o que busca “é a pacificação. É passar uma borracha no passado. É buscar maneiras de nós vivermos em paz”.
Também defendeu anistia, para si próprio e para os bolsonaristas golpistas do 8 de janeiro que foram presos e depois condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
“Agora, nós pedimos a todos os 513 deputados e 81 senadores, um projeto de anistia” para “os pobres coitados que estão presos em Brasília”.
Ao tentar negar o envolvimento na empreitada golpista, o mito fascista admitiu pela primeira vez conhecer o teor da chamada minuta golpista prevendo a decretação do Estado de Defesa e a prisão do ministro Alexandre Moraes do STF.
Mas, ao mesmo tempo, procurou reduzir o significado do documento, alegando que se tratava de uma alternativa prevista na Constituição.
“Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência”.
É bom lembrar que, em entrevista à revista Veja, publicada no dia 8 de fevereiro, ele afirmou categoricamente desconhecer o conteúdo do texto em questão.
“Nunca chegou a mim nenhum documento de minuta de golpe, nem nunca assinei nada relacionado a isso. Até porque ninguém dá ‘golpe’ com papel”, sustentou.
A existência de duas versões é mais uma prova de que o ex-presidente é um mentiroso contumaz. De todo modo, a confissão na Paulista deve ser usada contra o ex-capitão no inquérito que apura a aventura golpista, segundo informações de investigadores da Polícia Federal ao blog da jornalista Malu Gaspar, uma vez que confirma não apenas a existência da funesta minuta como também que Bolsonaro tinha pleno conhecimento do seu conteúdo e foi seu editor.
A minuta, que aparentemente não chegou a ser assinada, estabeleceria o “Estado de Defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral”, com a prisão de Alexandre Moraes e a anulação do pleito presidencial sob o pretexto de fraude.
Isto nada tem a ver com a Constituição e o Estado Democrático de Direito.
A versão inicial previa ainda a prisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e dos ministros Gilmar Mendes e Luiz Roberto Barroso, do STF, mas o líder fascista teria excluído os três, mantendo apenas a prisão daquele a quem já chamou de canalha em praça pública e considera um arqui-inimigo, o ministro Alexandre Moraes.
Lula não seria empossado e Bolsonaro continuaria à frente do Palácio do Planalto apesar da derrota nas urnas, o que não ocorreu devido à resistência democrática e falta de maior respaldo do Alto Comando das Forças Armadas e do governo Biden.
O discurso, temperado por apelos à conciliação, soou como uma tentativa patética de aparentar inocência e evitar a cadeia.
Conforme avaliaram ministros do STF foi um “´grito de desespero´ diante do avanço das investigações do roteiro do golpe e do temor do ex-presidente da prisão”.
Não dá para “passar uma borracha no passado” de crimes e barbárie que marcaram o cotidiano dos quatro anos em que o Palácio do Planalto foi chefiado pelo líder fascista.
Não é possível esquecer a política sanitária negacionista e criminosa que provocou a morte de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras, a defesa da tortura e dos assassinatos políticos, a perseguição a jornalistas, as bravatas antidemocráticas e xingamentos contra ministros do STF, as crises institucionais artificialmente criadas, o roubo das joias sauditas e a conspiração golpista que culminou no fatídico 8 de janeiro.
A anistia pretendida por Bolsonaro seria um salvo conduto para iniciativas golpistas no futuro, assim como a falta de punição para os militares que torturaram e cometeram crimes durante o regime militar é uma causa da resiliência do espírito antidemocrático nos quartéis que abrigaram os bolsonaristas.
A democracia brasileira será fortalecida sem a punição exemplar dos que tentaram destruí-la e, em especial, do chefe maior da conspiração, o senhor Jair Messias Bolsonaro.
Lugar de golpista é na cadeia.