Por Leonardo Sakamoto
Mesmo as coisas mais óbvias precisam ser ditas de vez em quando: políticos que estejam presentes no ato do dia 25 de fevereiro, em São Paulo, organizado para defender um ex-presidente investigado por tentativa de golpe de Estado, vão passar para a História como apoiadores de golpe.
O bolsonarismo vende o ato como uma defesa do Estado Democrático de Direito, o que é puro suco de cinismo, uma vez que a micareta surge na esteira da operação da Polícia Federal – que começou a emparedar Jair e aliados por tentar dar um golpe.
Bolsonaro quer uma demonstração de força para encarecer sua ida à cadeia e excitar os seguidores, afinal há eleições em outubro. E quanto mais prefeitos eleitos no bolsonarismo, maior a chance de Jair eleger senadores fiéis a ele em 2026. E, com isso, sonhar em cassar mandatos de ministros do Supremo e barrar indicações.
Poucas coisas foram tão escrachadas na política brasileira quanto a tentativa de golpe bolsonarista, planejada ao longo de seu governo e colocada em prática entre o segundo turno da eleicão presidencial e o 8 de janeiro de 2023.
Militares bolsonaristas conspiraram nos corredores palacianos e em conversas de WhatsApp, políticos bolsonaristas discutiam os rumos do golpe no Congresso, assessores e advogados bolsonaristas redigiam decretos golpistas, bolsonaristas plantaram bomba para explodir o aeroporto de Brasília, grupos de elite bolsonaristas do Exército foram convocados para desestabilizar a República, empresários bolsonaristas financiaram o caos.
No centro de tudo, e beneficiário do golpe, Jair Messias, como vêm apontando as investigações da Polícia Federal.
Políticos são hábeis em ora afirmar que a política pode estar à frente, guiando a Justiça (discurso adotado por governo e oposição no início dos trabalhos da CPMI dos Atos Golpistas), ora que precisa estar atrás – como agora, em que dizem que Bolsonaro não foi condenado. E como ainda não foi condenado, o palanque golpista do dia 25 é, na verdade, apenas um palanque. Sim, um insulto à inteligência.
Há aqueles que são mais bolsonaristas que o próprio, e estarão lá enxugando o suor do “mito” com seu próprio rosto. Sabem que quanto mais próximos dele, maior a chance de se reelegerem com votos daqueles 15% a 20% do eleitorado radical de direita.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que tenta se vender como uma figura moderada de “frente ampla”, sabe de tudo isso, mas deve comparecer ao palanque golpista de Bolsonaro no domingo em busca do apoio do ex-presidente para a sua reeleição – por mais que correligionários e assessores sonhem com uma gripe ou dengue leve para não precisar comparecer.
Se for, corre o risco de aparecer em uma foto sorrindo ao lado de Jair ao fundo, enquanto uma faixa, em primeiro plano, pede o fechamento do STF. Argumentar que a presença é apenas política é uma bobagem, pois a defesa das instituições democráticas, tão espancadas nesta tentativa de golpe, também é.
Quando estourou o escândalo das joias árabes dadas ao Brasil, mas vendidas no exterior por aliados de Bolsonaro, muitos eleitores evangélicos de Jair preferiram o silêncio das redes sociais. Claro que continuavam o apoiando, e votariam nele de novo. Mas não se sentiram à vontade de vir a público defender um político que fez para si um Bezerro com o Ouro alheio.
Vale ficar de olho nos políticos fora da extrema direita que aparecerem no palanque pago por Silas Malafaia na avenida Paulista. E tentar entender qual o Bezerro que cada um tenta garantir para si que valha o risco de ficar com a imagem de passa pano para golpismo.
Ilustração: Intercept Brasil; Agência Brasil
Fonte: DCM