Por Altamiro Borges
O jornal Estadão informa que o deputado federal Capitão Augusto e a deputada estadual Dani Alonso – ambos do PL, o partido de aluguel de Jair Bolsonaro – enviaram ofícios ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes, contra a escola de samba Vai-Vai por conta do desfile de sábado (10). “Os parlamentares querem que a agregação seja impedida de receber recursos públicos tanto da prefeitura como do Estado no próximo ano”, descreve a matéria.
A Vai-Vai levou ao sambódromo do Anhembi, em São Paulo, o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano”. Ele retrata vários eventos culturais de relevância histórica, como a Semana de Arte de 1922 e o nascimento do Hip Hop. A ala que desagradou os deputados bolsonaristas foi uma composta por foliões fantasiados de policiais do batalhão de choque da PM que usavam chifres e asas vermelhas, parecendo demônios. Ela fez alusão ao disco “Sobrevivendo no Inferno”, do grupo de rap Racionais MC’s, que tem músicas que denunciam a violência policial, em especial contra os jovens pretos – como a canção “Capítulo 4, Versículo 3”.
Atitude tipicamente fascista
Numa atitude tipicamente fascista, os parlamentares querem censurar a livre expressão cultural. “Proponho que a escola de samba Vai-Vai seja proibida de receber qualquer forma de recurso público no próximo ano fiscal, como forma de sanção pela conduta irresponsável e agressão demonstrada. Tal medida não apenas servirá de punição apropriada, mas também como um claro sinal de que ofensas contra as instituições e profissionais de segurança não serão toleradas em nosso estado”, afirma o ofício encaminhado ao governador e ao prefeito – ambos bolsonaristas.
Como registra o Estadão, os dois bolsonaristas não são os únicos que estão babando ódio contra a escola de samba. “A associação da ala com a PM já havia provocado protestos entre policiais e políticos após o desfile da Vai-Vai. ‘A que ponto chegamos?’, questionou o deputado Alberto Fraga (PL-DF), presidente da bancada da bala e primeiro vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara”. Mas, como ironiza o jornalista Leonardo Sakamoto em postagem no site UOL, não há motivo para tanta fúria.
“Quem demoniza a polícia é a própria polícia. É uma bobagem vinda de parlamentares bolsonaristas pedindo bloqueio de recursos, o que é ilegal. Se insatisfeitos com algo, vão à Justiça. É uma tentativa de cercear a liberdade de expressão e a liberdade de crítica… O hip hop e o rap vêm como um desabafo, uma denúncia, uma crítica social da violência, inclusive da polícia. Quem reclama da Vai-Vai está precisando ler e estudar um pouco mais. Esses movimentos são mais atuais que nunca por conta da violência desmesurada das polícias militares. Não só de São Paulo e do Rio, dois estados governados por autoridades ligadas ao bolsonarismo, mas também da Bahia, governada pelo PT”.