O Clã Bolsonaro e seu entorno neofascista está em polvorosa. A Polícia Federal cumpriu nesta quinta-feira 48 mandados judiciais, sendo quatro de prisão. Executando ordens do ministro Alexandres de Moraes, do STF, a polícia está apertando o cerco aos líderes maiores da fracassada empreitada golpista levado a cabo no dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília, poucos dias após a posse do presidente Lula.
Entre os alvos estão o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno; o ex-ministro da Casa Civil general Braga Netto e o ex-ministro da Defesa general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, presidente do partido, foi preso por porte ilegal de arma. Uma medida de busca e apreensão foi cumprida na sede da legenda em Brasília. O ex-assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais Filipe Martins, também foi detido em diligência no Paraná.
A PF também cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do chefe da extrema direita brasileira, Jair Bolsonaro, em Angra dos Reis, exigiu que ele entregue o passaporte em 24 horas, apreendeu o celular do assessor Tercio Arnaud Tomaz e proibiu o ex-presidente de ter contato com os demais investigados. O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, foi outro alvo da operação.
Já o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, atual comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, sediado em Goiânia, investigado por suspeitas de envolvimento em ações relacionadas à tentativa de golpe, desmaiou ao receber a visita da PF.
O líder maior
As investigações estão confirmando as suspeitas generalizadas de que o líder maior do fatídico 8 de janeiro foi o senhor Jair Messias Bolsonaro, que agora já não assume as patifarias que promoveu e procura dar uma de vítima, difundindo a Fake News de que está sendo perseguido pela Justiça.
O ministro Alexandre de Moraes destacou na decisão que autorizou a operação deflagrada pela PF nesta quinta-feira (8) trecho do relatório policial informando que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu de um assessor direto uma minuta de decreto “para executar um golpe de Estado”.
Em outros pontos, o relatório, aponta reuniões entre militares de alta patente, da ativa e da reserva, que teriam o objetivo de debater aspectos operacionais do golpe. A PF indica encontros para discutir a adesão de militares a um plano de golpe, realizados no Palácio da Alvorada com a participação especial de Jair Bolsonaro.
A PF apontou seis núcleos que atuaram na tentativa de golpe de Estado e de ataque ao Estado Democrático de Direito: o de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; o de incitação ao golpe entre militares; o de atuação jurídica; o de coordenação de ações de apoio operacional; o de inteligência paralela, e o de oficiais de alta patente que legitimavam todas as ações.
Todas as medidas autorizadas por Moraes foram avalizadas pelo procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, que em parecer frisou que os envolvidos “visavam, na prática, a reversão do resultado das eleições presidenciais de 2022, de modo a impedir a posse do candidato eleito e, assim, manter o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro no poder”.
Bolsonaro sugeriu mudanças na minuta golpista
A minuta de decreto “para executar um golpe de Estado”, foi entregue ao ex-presidente em 2022 pelo então assessor da Presidência para Assuntos Internacionais Filipe Martins, que foi preso preventivamente nesta quinta-feira, e pelo advogado Amauri Feres Saad, apontado como mentor intelectual do documento.
O texto, segundo o relatório da PF, previa a prisão dos ministros do Supremo Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e também do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O documento preconizava a anulação do pleito presidencial de 2022, sob o pretexto de fraude nas urnas eletrônicas, deposição do presidente Lula e a realização de novas eleições.
A julgar pela PF, Bolsonaro não só tinha conhecimento da minuta golpista como propôs mudanças no texto, sugerindo tirar os nomes de Mendes e de Pacheco. Em dado momento, a PF afirma que Moraes “foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados à tentativa de Golpe de Estado e Abolição do Estado Democrático de Direito, estavam em execução”.
Nas investigações, a PF menciona que Martins embarcou para os Estados Unidos junto com Bolsonaro em 30 de dezembro de 2022, no avião presidencial, sem passar por procedimentos migratórios. Ele também teria retornado ao país, meses depois, sem registros, “o que pode indicar que tenha se evadido do país para se furtar de eventuais responsabilizações criminais”, diz o relatório policial.
“Virada de mesa”
Um dos eventos cruciais para as investigações, conforme aponta a PF, foi uma reunião convocada por Bolsonaro com a alta cúpula do governo federal e realizada em 5 de julho de 2022. No encontro, o então presidente teria cobrado aos presentes que se valessem de seus cargos para disseminar informações falsas sobre supostas fraudes nas eleições.
Um vídeo com a gravação da reunião foi encontrado em um dos computadores do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que fechou acordo de colaboração premiada com a PF, após ter sido preso preventivamente nas investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.
“Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada!”, teria insistido Bolsonaro na ocasião.
Algum tempo depois, o general Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), menciona uma “virada de mesa” em relação às eleições. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse, segundo relatório da PF.
A partir dessa reunião, teria se dado uma sequência de eventos para o planejamento do golpe, descritos em mensagens extraídas de celulares de Mauro Cid e nas quais o ajudante de ordens assume a tarefa de coordenação na disseminação de ataques à Justiça Eleitoral.
Passada a eleição, com a derrota de Bolsonaro, teria se iniciado a fase de planejamento de uma ação mais efetiva de tropas do Exército. O coronel Bernardo Romão Correia Neto, por exemplo, teria organizado reunião em 28 de novembro, em Brasília, com oficiais que aderiram ao golpe para um planejamento operacional.
Em seguida, Correia Neto envia a Cid minuta de documento chamado “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, que teria sido redigido na reunião e com o objetivo de pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao movimento golpista.
Correia Neto foi preso preventivamente nesta quinta-feira, por ordem de Moraes.
Tempo da verdade
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann fez a seguinte declaração sobre a operação da PF nesta quinta.