Na Alemanha, condutores de trens iniciam greve de seis dias por reajustes e redução da jornada

O sindicato alemão de maquinistas GDL convocou na segunda-feira (23) uma greve de seis dias, a quarta no espaço de três meses, face a um novo impasse nas negociações com a companhia ferroviária alemã Deutsche Bahn (DB).

A paralisação foi deflagrada nesta terça-feira (23) no transporte de mercadorias. O transporte de passageiras será interrompido a partir desta quarta-feira (24).

Esta greve, que deverá terminar na próxima segunda-feira de acordo com o calendário dos sindicalistas, será a mais longa das quatro convocadas pelo GDL desde meados de novembro, altura em que os comboios alemães pararam de circular durante 20 horas.

Intransigência

Em um comunicado dirigido à opinião pública, o sindicato acusou a DB de “prosseguir incansavelmente a sua política de recusa e confronto”.

Os trabalhadores exigem um aumento geral dos salários de 555 euros (R$ 2,9 mil ao câmbio atual) e a redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais; e indenização pelas perdas impostas através da da inflação isento de impostos equivalente a 3 mil euros (R$ 16,1 mil) para os trabalhadores a tempo parcial e a tempo inteiro e de 1.500 euros (R$ 8,06 mil) para os aprendizes.

O GDL, que representa cerca de 10 mil trabalhadores, reivindica ainda um aumento de 5% da contribuição patronal para o plano de pensões da empresa e um aumento do prêmio de trabalho por turnos para 25%, tudo a ser implementado no prazo de 12 meses.

“Enormes perturbações”

Durante a última greve, que começou a 9 de janeiro e durou três dias, a DB admitiu “enormes perturbações” no tráfego ferroviário em toda a Alemanha.

O porta-voz da DB, Achim Stauß, especificou que, no tráfego de longa distância, circularam cerca de 20% dos comboios e que também nas ligações regionais houve ” restrições maciças”.

Em dezembro, a empresa revelou que tinha feito uma oferta de aumento salarial de 4,8% a partir de agosto e um aumento adicional de 5,0% a partir de abril de 2025, assim como um “bónus compensatório para fazer face à inflação” de até 2.850 euros.

Além disso, a DB ofereceu a possibilidade de redução da jornada de trabalho, a partir de 01 de janeiro de 2026, de 38 para 37 horas, ou um aumento salarial adicional de 2,7%.

No ano passado, a empresa esteve também em colisão com o sindicato EVG, que representa cerca de 180 mil trabalhadores de outras profissões do setor ferroviário. Um acordo foi alcançado no final de agosto.

Acirramento da luta de classes

Durante o último ano, a Alemanha tem enfrentado um aumento dos conflitos sociais em diferentes setores profissionais, em grande medida provocado pela aceleração da inflação num contexto de guerra no leste da Europa, sanções contra a Rússia, estagnação econômica e crise energética. 

O poder de compra dos salários caiu sensivelmente, despertando revolta na classe trabalhadora e acirrando a luta de classe.

O aumento das contradições e tensões sociais enfraquecem o governo de coligação liderado pelo social-democrata Olaf Scholz, cuja popularidade caiu para níveis históricos mínimos, alavancando por outro lado a tendência à polarização política e favorecendo a ressurreição de grupos nazistas.