Frutos objetivos da crise do capitalismo e da ordem imperialista mundial, frente à qual as forças consideradas de esquerda e centro esquerda parecem impotentes, a radicalização das lutas de classes e a polarização social e política tornaram-se as marcas principais deste tempo. Num contexto de conturbado transição geopolítica a extrema direita ganha musculatura e avança de forma preocupante em todo o mundo.
Por aqui, isto se refletiu na vitória do neoliberal, e neofascista fantasiado de anarcocapitalista, Javier Milei na Argentina: Em novembro, ele venceu as eleições presidenciais na Argentina, derrotando o peronista Alberto Fernández, com um discurso radical contra a China e o Brasil, defendendo a privatização generalizada de empresas estatais, eliminação de impostos e a adoção do padrão-ouro.
No governo, embora tenha reduzido o tom, dois dias após a posse anunciou um pacote econômico indigesto para a classe trabalhadora, que prevê a demissão de centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras do setor público, suspende a publicidade institucional do governo federal por 1 ano, institui uma desvalorização cavalar do peso frente ao dólar, reduz o número de ministérios de 18 para 9 e as secretarias de 106 para 54, diminui ao mínimo as transferências discricionárias às províncias, suspende novas licitações de obras públicas e cancela as licitações aprovadas cujo desenvolvimento ainda não tenha sido iniciado, reduz os subsídios à energia e aos transportes, e em particular aos transportes na Região Metropolitana de Buenos Aires, o que vai provocar aumento das tarifas, um tarifaço.
A taxa de câmbio oficial do dólar foi estabelecida em 800 pesos (o que representa uma desvalorização da moeda argentina de mais de 50%), o que tende a agravar a crise inflacionária.
Além disso, o político neofascista ameaça prender e espancar manifestantes que estiverem descontentes com sua política. Sua ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, disse que forças federais e serviço penitenciário federal intervirão diante de piquetes.
A criminalização dos protestos combinada com a ordem de repressão foi criticada pela relatora especial da ONU sobre Direitos à Liberdade de Reunião Pacífica: “silenciar vozes dissidentes não é uma resposta para resolver crises sociais”, salientou a alta funcionária da Organização das Nações Unidas.
Sobre o comportamento da mídia burguesa em relação ao líder do neofascismo argentino o jornalista Reinaldo Azevedo fez o seguinte comentário no X (twitter):
“Ler a “grande” imprensa argentina tem sido nauseante. Na TV La Nación +, os jornalistas Eduardo Serenellini e Viviana Valles sugeriram, no sábado (16/12), que o povo coma só uma vez por dia. Inclusive as crianças. E ainda garante: “não é vergonha”. Ele afirma que todos têm de cortar coisas: alguns cortam canal de streaming ; outros, carros; e, ora vejam, se for o caso, comida!!! Para não parecer cruel, ela diz que assim tem de fazer a “classe média”. O adesismo a Milei na imprensa do país é tão bonito como é por aqui a “análise” sobre a desoneração da folha! A proposta Macri-Milei é viável — desde que os pobres argentinos não queiram comer!!!! Gente esganada!!!! Não é uma piada. Por isso há a proposta de proibir protestos. É fome. No caso de inconformismo, porrada!”
Os movimentos sociais prometem reagir.