Na 4ª Conferência Nacional da Juventude, presidente fala da coragem dos jovens na resistência ao bolsonarismo e defende conscientização contra novas aventuras extremistas
Após oito anos sem ser realizada, teve início nesta quinta-feira (14), a 4ª Conferência Nacional da Juventude, em Brasília, com o tema “Reconstruir no Presente, Construir o Futuro: Desenvolvimento, Direitos, Participação e Bem-Viver”. A abertura teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de ministros, parlamentares e lideranças estudantis. O secretário de Políticas para a Juventude Trabalhadora, Rodrigo Callais estava presente representando a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Dirigindo-se a cerca de 1.300 delegados, Lula destacou ao iniciar seu discurso: “Vocês tiveram uma batalha muito grande neste país para ajudar a gente a reconquistar a democracia no Brasil. Vocês tiveram muita solidariedade quando eu estive 580 dias na Polícia Federal em Curitiba; vocês tiveram muita coragem quando ousaram não acreditar em todas as mentiras montadas pela elite brasileira para não permitir que eu voltasse a ser presidente. E vocês conseguiram e me elegeram presidente da República”.
Ao reconhecer o papel da juventude na construção de políticas públicas, o presidente salientou: “a juventude brasileira nos ajudou a fazer uma pequena revolução na educação com o ProUni, o Fies, com a quantidade de universidades federais e de escolas técnicas que fizemos”.
Para os próximos anos, prometeu que serão criados 100 novos institutos federais, além de uma faculdade de matemática no Rio de Janeiro com condições de garantir a continuidade na formação de jovens que participaram das Olimpíadas de Matemática; de um braço do ITA no Ceará, além de poupança para estudantes do ensino médio como forma de combater a evasão educacional.
Lula criticou posições adotadas por setores da sociedade quanto ao tamanho da estrutura de governo. “É preciso que a gente pare de acreditar quando a imprensa fala que tem muito ministro. Tem é pouco, porque é preciso mais ministros para cuidar de mais assuntos neste país”. E defendeu a importância de que esses auxiliares estejam “envolvidos com o movimento social para trazer ao governo o sentimento daquelas pessoas das periferia, do interior, que muitas vezes nascem e morrem sem ter a chance de dar um único palpite para quem governa”.
Distribuição de renda
O presidente também colocou como um dos desafios de seu governo praticar uma política econômica capaz de melhorar a geração e a distribuição de renda para a superação da pobreza e das desigualdades sociais.
“O povo brasileiro não pode jogar fora o século 21 como foi jogado fora o século 20. A economia deste país, entre 1930 e 1950 e até 1980 chegou a crescer em média 7% ao ano. Em 1970, o país chegou a crescer 14%, mas esse crescimento não tinha sido distribuído de maneira igualitária: os ricos tinham ficado mais ricos e os pobres mais pobres como sempre aconteceu. E é preciso acabar com isso de uma vez por todas”, afirmou.
Lula discorreu, ainda, sobre a necessidade de aumentar o debate político entre os jovens — para além dos presentes na conferência, chegando às periferias —, de maneira a aumentar a consciência democrática e evitar novas aventuras extremistas, como ocorreu no Brasil com Jair Bolsonaro e mais recentemente na Argentina com Javier Milei. “Como a gente vai competir na formação política dessa juventude que está abandonada nas periferias, sendo violentada todo dia com a indústria das fake news, da mentira, da destruição?”, questionou.
O presidente fez também um apelo no sentido de combater o ódio e resgatar sentimentos humanistas na sociedade. “Quando é que a gente vai deixar de ser algoritmo e vai voltar a ser humanista, solidário, fraterno? Está faltando um pouco disso em todos nós”, provocou.
Durante o evento, foi assinado um decreto que amplia o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) de 30 para 60 integrantes, sendo 40 da sociedade civil e 20 representantes do governo.
Além disso, foi assinado um termo que possibilita a reformulação do programa ID Jovem, de forma a ampliar o acesso daqueles que têm direito aos benefícios que vão de descontos de 50% em eventos culturais até vagas gratuitas no transporte interestadual.
Juventude mobilizada
As etapas que antecederam a plenária final da conferência alcançaram mais de 250 mil jovens. Ao todo, 1.535 cidades realizaram conferências municipais, que resultaram em mais de mil propostas. Ao todo, cerca de 1.300 delegados de todos os estados e do Distrito Federal participam da etapa final, cuja plenária acontece no domingo (17), quando essas propostas serão avaliadas.
“É muito importante para a gente, no primeiro ano do governo Lula, poder fazer a 4ª Conferência Nacional de Juventude. A realização dessa conferência, a volta da Secretaria Nacional de Juventude, a ampliação do Conselho Nacional de Juventude, são demonstrações da prioridade que está sendo dada às políticas públicas para um setor que tanto se mobilizou e ajudou a livrar o Brasil do bolsonarismo no governo”, declarou Rafael Leal, presidente da União da Juventude Socialista (UJS).
A entidade participa da conferência com cerca de 200 delegados. “A UJS vê este como um espaço fundamental. Temos um legado na atuação em defesa de políticas públicas para a juventude, desde a conquista do voto aos 16 anos, passando pelo Estatuto da Juventude — do qual a Manuela Dávila foi relatora — e agora, mais recentemente, nas lutas em defesa da educação”, lembrou.
Ele elencou como prioridades a defesa de dois eixos centrais. “Um deles é ter políticas públicas para a juventude que não estuda nem trabalha, políticas de incentivo a um primeiro emprego, de assistência estudantil, claro, acopladas a um processo de desenvolvimento nacional que possa gerar emprego de qualidade”, disse.
O outro eixo é a disputa ideológica e cultural na sociedade. “Não podemos construir políticas públicas e deixar que a juventude seja contaminada pelo discurso de ódio e pelo discurso neofascista. Então, precisamos de políticas que possam estimular o processo de conscientização, de emancipação plena da juventude, não só nas condições materiais, mas também nas condições subjetivas”, argumentou.
Resistência e conquistas
Presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuela Mirella salientou, na abertura do evento, que a juventude “foi o setor que mais sofreu em nosso país no último período. Muitos dos que estão aqui tiveram que colocar uma mochila de iFood nas costas, pegar uma bicicleta e enfrentar sol e chuva para sobreviver. Tiveram de escolher entre estar na escola e trabalhar. Mas, também está aqui, neste plenário, a juventude que resistiu desde o primeiro até o último dia”.
Ela listou algumas vitórias obtidas neste primeiro ano de governo Lula, como a renovação da Lei de Cotas, a recomposição do orçamento das universidades, o Desenrola Brasil e o reajuste das bolsas de pesquisa. “Mas, é certo também que ainda temos muito a avançar. Temos milhões de jovens sem estudar e sem trabalhar”, enfatizou.
E acrescentou: “Queremos o fim dos 40% do EAD no ensino presencial, a revogação do novo ensino médio, a continuidade da recomposição do orçamento das universidades, a valorização dos professores, a volta do Pró-Jovem. Queremos ser felizes”. Por isso, pontuou, “precisamos de um projeto de Brasil forte, soberano, um Brasil da esperança”. Informações: Vermelho.org