Por Altamiro Borges
Após 118 dias de corajosa e criativa paralisação, o Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG) anunciou na quarta-feira (8) que finalmente conseguiu fechar um acordo com a entidade patronal, a AMPTP. Com essa vitória, chegou ao fim a histórica greve da categoria, iniciada em 13 de julho. O acordo prevê aumento de 7% nos salários, dois pontos percentuais acima do oferecido inicialmente pelos empresários. E o mais importante: ele garante proteções legais aos artistas diante do uso de suas imagens por Inteligência Artificial, a temida IA.
A batalha foi das mais duras e representa uma primeira refrega diante dessa inovação tecnológica. Conforme registra a Folha, “o acordo foi firmado depois de as negociações entre o SAG e a AMPTP serem retomadas no começo do mês passado. As conversas envolveram alguns dos principais executivos da indústria, incluindo os CEOs da Disney, Bob Iger, da Warner Bros.Discovery, David Zaslav, e da Netflix, Ted Sarandos”. O entrave nas negociações ocorreu principalmente na questão estratégica da inteligência artificial.
A força dos grevistas e o prejuízo do setor
“O tema, um dos mais sensíveis para os grevistas, envolvia o uso da imagem escaneada dos atores para uso posterior às produções em que participaram, sem que as empresas precisassem de autorização dos artistas para reutilizá-las”, descreve a Folha. Num primeiro momento, as poderosas produtoras de filmes se recusaram a negociar, mas diante da força dos grevistas elas foram obrigadas a recuar.
A paralisação dos atores, em conjunto com a dos roteiristas, trouxe enormes danos financeiros à indústria. De acordo com o instituto Milken, a economia do estado da Califórnia teve perda de US$ 6 bilhões – o equivalente a R$ 29 bilhões. A produção audiovisual na região derreteu 41% durante a greve, já que boa parte da produção de filmes e séries ficou congelada. A partir de agora, o debate sobre a IA no setor ingressa em novo patamar.
Inteligência Artificial avilta o trabalhador
Até hoje, como registra o site Notícias da TV, “grandes estúdios têm usado a inteligência artificial para explorar o trabalho de artistas. Um figurante, por exemplo, roda uma cena para um filme ou série, mas tem sua imagem reutilizada por meio da IA em diferentes produções – muitas vezes sem ser informado e certamente sem receber por esse trabalho. Atores conhecidos por emprestarem suas vozes para animações ou games já lutam com esse problema. Avanços recentes da tecnologia permitem que novas falas sejam criadas a partir de gravações anteriores”.
Diante desses riscos, o Sindicato dos Atores de Hollywood procurou amenizar o problema. Duncan Crabtree, negociador-chefe do SAG, explica a razão da greve. “A legislação não acompanhou o avanço da tecnologia, e agora estamos correndo atrás para tentar consertar isso. A melhor maneira de proteger os atores é a negociação coletiva, porque as empresas não podem usar sua voz ou sua imagem sem a autorização do sindicato. Isso nos dá uma posição de ataque em todas as plataformas, TV, cinema, streaming, games. Nós sabemos que não dá para bloquear esses avanços, pois eles vão ocorrer de qualquer maneira. Já estão ocorrendo, aliás. O que podemos fazer é lutar para que a tecnologia esteja a serviço das pessoas, e não o contrário”.
Foto: Rodin-Eckenroth-Getty-Images-via-AFP.jpg