Por Altamiro Borges
Nesta terça-feira (26), Augusto Aras chega ao fim do seu triste mandato no comando da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele não deixará saudades. Indicado por Jair Bolsonaro em 2019, ele desempenhou um papel pior do que o de Geraldo Brindeiro, que ficou conhecido como “engavetador-geral” durante o reinado tucano de FHC. Augusto Aras marcou as suas duas gestão como “bajulador-geral” do fascista no poder.
O agora ex-PGR nada fez para incomodar o “capetão”. Durante a pandemia da Covid-19, que matou 700 mil brasileiros e deixou milhões de sequelados, ele acobertou as ações criminosas do ex-presidente negacionista. Sequer levou em conta o relatório da CPI da Covid, que sugeriu incriminar o genocida. Augusto Aras também ficou em silêncio diante dos ataques do golpista ao Supremo Tribunal Federal (STF). Nunca levantou a sua voz em defesa da democracia e da Constituição. Sempre se comportou com total servilismo diante do fascista.
Mais de 70 pedidos de inquéritos arquivados
Pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas, coordenada por Eloisa Machado e Luiza Ferraro, comprovou que, entre 2019 e 2021, a PGR foi autora de apenas cinco das 290 ações ajuizadas no STF contra atos do governo federal. Foi a menor taxa – somente 2% – desde que a promulgação da Constituição de 1988. Como bajulador do ex-presidente, Augusto Aras arquivou mais de 70 pedidos de inquéritos. Sua atuação foi tão vergonhosa que até subprocuradores-gerais da República lançaram, em agosto de 2021, manifesto criticando sua omissão.
“Na defesa do STF e do TSE, de seus integrantes e de suas decisões deve agir enfaticamente o procurador-geral da República – que, como procurador-geral eleitoral, tem papel fundamental como autor de ações de proteção da democracia – não lhe sendo dado assistir passivamente aos estarrecedores ataques àquelas cortes e a seus membros, por maioria de razão quando podem configurar crimes comuns e de responsabilidade e que são inequívoca agressão à própria democracia”, pontou o documento.
A tentativa de seduzir Lula
Com a derrota do seu “mito” nas eleições de outubro passado, o oportunista até tentou mudar a sua imagem para se manter no cargo. Até criou um grupo na PGR para responsabilizar os envolvidos na ação terrorista do 8 de janeiro em Brasília. Também tomou outras iniciativas, como a investigação da deputada-pistoleiro Carla Zambelli (PL-SP), na tentativa de seduzir o presidente Lula. Em meados de agosto, Augusto Aras foi ao Palácio do Planalto para se colocar “à disposição” sonhando em seguir no posto.
Esses gestos, porém, não enganam muita gente – a não ser os que padecem do cretinismo parlamentar e de outros cinismos. Como escreveu Bernardo Mello Franco no jornal O Globo, “Aras já vai tarde”. “Nomeado por Jair Bolsonaro, ele lavou as mãos enquanto o capitão sabotava as instituições e conspirava contra a democracia. Mais que um engavetador, foi um acobertador-geral de crimes presidenciais. O procurador usou o cargo para proteger Bolsonaro do alcance da lei. Em sua gestão, o Ministério Público se tornou um peso morto em Brasília. Não fiscalizou, não cobrou e não denunciou os donos do poder”.
O jornalista lembra que o fascista definiu a sua relação com o ex-PGR como “amor à primeira vista” e que foi correspondido nessa paixão. “Aras se omitiu quando Bolsonaro incitou sua tropa contra a Justiça Eleitoral. Fez vista grossa quando o governo fichou acadêmicos e usou uma lei da ditadura para perseguir opositores. Barrou a abertura de inquéritos por improbidade e suspeita de corrupção. Na pandemia, sua inação foi ainda mais gritante. Ele silenciou diante de ataques à vacina, à máscara e ao distanciamento social. Fechou os olhos enquanto o governo torrava dinheiro em cloroquina e deixava faltar oxigênio em hospitais. Por fim, sentou-se sobre o relatório da CPI da Covid, que empilhou provas contra o presidente”.